Muitos ovos e poucas cestas | A manutenção da queda dos juros faz...

Edição 144

Parceria Público-Privada (PPP), Certificado de Recebível Imobiliário (CRI), fundo imobiliário, private equity, fundo de recebíveis, Cédula de Crédito Imobiliário (CCI). Estes são alguns dos investimentos que começam a fazer parte do dia-a-dia das fundações. Se não de maneira efetiva, pelo menos no que se refere à pesquisa destes instrumentos e suas legislações.
Não é de hoje que a queda da taxa básica de juros – atualmente em 16,25% ao ano – tem chamado a atenção dos gestores de recursos dos fundos de pensão, uma vez que os títulos públicos tem sido a principal ferramenta para o alcance da meta atuarial. Não raro, as entidades fixam este objetivo no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) + 6% ao ano.
Com prêmios cada vez menores, resultado também da grande demanda, esses papéis podem ainda ‘segurar’ a meta atuarial até o final desse ano, pois a expectativa é de que a Selic encerre 2004 entre 13,8% a.a. e 14% a.a. Porém, se o Banco Central (BC) mantiver a política de corte de juros, as fundações serão obrigadas a sair destes confortáveis ativos e, aí sim, diversificar investimentos.
Não que hoje o conselho de ‘não colocar os ovos na mesma cesta’ tenha sido colocado de lado, mas as ousadias são raras. Segundo a Abrapp, dos R$ 216,180 bilhões investidos pelos fundos de pensão, 44,6% estão em carteiras de renda fixa e 10% na renda variável. O perfil conservador da categoria tem raízes na responsabilidade que cada fundo de pensão tem em cumprir com o pagamento dos benefícios e, também, pela falta de ‘cestas’ que permitam uma melhor disposição dos ovos.

Produto na medida – Não é tarefa fácil encontrar ativos na medida para os fundos de pensão, que têm o perfil de longo prazo e não necessitam de liquidez de 100% do patrimônio. Por isso, as PPPs vêm sendo vistas como uma opção importante, pois reúnem prazo – de até 35 anos – e perfil social, pois são projetos de infra-estrutura. Para Manoel Cordeiro, diretor de investimento e finanças da Valia, não dá mais para o setor, que possui 18% do PIB nacional, se furtar a discutir questões sociais. Mas salienta que é preciso um ambiente regulatório saudável e um estudo sobre diferimento tributário.
Luiz Afonso Simoens da Silva, diretor de finanças do Fundo dos Economiários da Caixa Econômica Federal (Funcef), terceiro maior fundo de pensão do País, se diz disposto a discutir novos instrumentos de investimento e cita os fundos de recebíveis, CRIs e private equities como boas alternativas.
Para Lauro Araújo, diretor da Mercer Investment Consulting, consultoria especializada em fundos de pensão, as primeiras fundações a diversificar seus investimentos devem ser aquelas com grande patrimônio. “As pequenas e médias ainda têm bons investimentos em renda fixa, de pouco risco, para alcançar suas metas. É claro que é sempre bom estar atento a oportunidades, mas sair da renda fixa é ainda um pouco cedo”.
O executivo ainda vê com restrições as PPPs para pequenos e médios fundos de pensão, pois os investimentos em infra-estrutura são muito altos. “Acredito que um dos poucos caminhos para este grupo seja participar de um fundo criado para este fim, que poderia ser constituído por uma asset independente, que tem expertise para isso”.
Quanto aos outros investimentos, como fundos de recebíveis e CRIs, Araújo afirma que há mais luzes da mídia sobre estes produtos do que interesse por parte dos fundos de pensão. O diretor da Mercer lembra que o primeiro trimestre foi difícil para as fundações, tanto na renda fixa quanto na variável. Por episódios como este, é difícil que a diversificação ocorra proximamente. “Este ano ainda será de papéis de renda fixa atrelados à inflação”.