Edição 112
O mercado de debêntures está ganhando maior flexibilidade. Diversas iniciativas estão sendo tomadas entre os participantes deste mercado para aumentar a colocação dos papéis entre os investidores. Hoje, apenas cerca de 30% a 40% das emissões são compradas pelos investidores. O restante dos papéis são encarteirados pelos bancos.
Para mudar esse quadro, os bancos começam a discutir com as empresas emissoras a limitação da garantia de colocação. A demora entre o início da estruturação da emissão das debêntures até a sua oferta no mercado é em média de três meses, podendo chegar a até seis meses, um tempo muito longo se considerada a volatilidade do mercado. Neste intervalo, as taxas podem oscilar de acordo com as condições do mercado.
Para driblar esse problema, os bancos começam a valer-se de mecanismos que permitem negociar as taxas de acordo com as condições do mercado e passam a utilizar também o sistema de “melhores esforços”, onde ficam desobrigados de encarteirar os papéis que não forem comprados pelos investidores.
O sistema de garantia firme de colocação, onde o banco é obrigado a ficar com os papéis que não foram vendidos, é responsável hoje pela quase totalidade das emissões do mercado. Para o investidor final pouca coisa deve mudar inicialmente, já que o fator preponderante que o leva a comprar papéis está relacionado ao risco de crédito da empresa que emite os mesmos.
O diretor de mercado de capitais do BankBoston, Roberto Roma, prevê que deve continuar prevalecendo no mercado o sistema de garantia firme. Segundo ele, as empresas estão dispostas a pagar uma comissão para ter a garantia firme. Roma afirma que só compraria papéis de uma emissão sob o sistema de melhores esforços se também comprasse os mesmos papéis de uma emissão sob a garantia firme.
Na avaliação de Isacson Casiush, diretor de underwriting do Mellon Brascan, ainda leva algum tempo no Brasil para crescer a emissão por “melhores esforços”. O executivo avalia que o investidor brasileiro ainda é muito sensível ao risco. “Existem emissões que mesmo a uma taxa elevada o investidor não compra. A percepção de risco do investidor tolera taxas baixas com risco bom, mas não aceita taxas altas se considerar o risco alto”, afirma.
Ele lembra que nos Estados Unidos esse quadro é bastante diferente: lá existe um apetite muito maior pelo risco privado. O investidor paga, em média, 6,5% para os papéis privados, contra uma média de 1,5% para os papéis públicos.
No Brasil, o prêmio pago às debêntures vem melhorando. Na primeira emissão de Marlim Petróleo, em janeiro de 2001, foi paga uma taxa CDI mais 0,34% ao ano e IGP-M de 10,93%. Na segunda emissão de Marlim, em dezembro do ano passado, a taxa paga foi de CDI mais 1,10% e IGP-M mais 12,25%.
Para o diretor de mercado de capitais do Banco Itaú, Fernando Iunes, as operações de garantia firme trazem maior conforto para o investidor final sob o ponto de vista do crédito. O executivo entende que, ao darem garantia firme para uma colocação de debêntures, os bancos tratam de assegurar a operação. “O mesmo não acontece com a colocação sob o regime de “melhores esforços”, onde as instituições financeiras não se comprometem a ficar com os papéis que não foram adquiridos pelo mercado.
O sócio da corretora Pentágono, Maurício Ribeiro, entende que para o investidor final a garantia firme é importante na medida em que fica assegurada a colocação integral dos papéis. Segundo ele, é importante saber que a empresa vai conseguir captar os recursos totais que está precisando. “Ao captar menos do que precisa, o que pode acontecer na emissão sob o regime de melhores esforços, o seu risco aumenta e também o risco do comprador dos seus papéis”, explica.