Menos política, mais profissionalismo | Processo seletivo da Prev...

Edição 134

O maior fundo de pensão brasileiro, a Previ, do Banco do Brasil, está finalizando a seleção de um verdadeiro exército. Ao todo serão escolhidos 310 conselheiros, entre titulares e suplentes, que irão representar o fundo nos conselhos de administração e fiscal em cerca de 100 empresas nas quais a instituição possui participação acionária. Pela primeira vez o fundo está utilizando uma metodologia, elaborada pela Fundação Dom Cabral, em que prevalecem os critérios de capacitação acadêmica e de experiência profissional sobre aspectos subjetivos ou políticos.
“Agora seguimos regras claras e procedimentos padronizados que procuram eliminar a subjetividade”, explica Renato Sobral Chaves, diretor de participações da Previ. A expectativa é que o processo esteja finalizado até o final deste mês de abril, quando os conselhos das empresas costumam se reunir para definir os novos representantes. A Previ deve indicar 130 nomes para os conselhos de administração e 180 para os conselhos fiscais – outros 30 conselheiros continuam seus mandatos, pois algumas empresas renovam os conselhos em períodos de 2 ou até 3 anos.
Entre as empresas em que a Previ possui assento nos conselhos figuram pesos-pesado como a Vale do Rio Doce, CPFL e Embraer, entre outras. Para se ter uma idéia do tamanho do time de conselheiros da Previ, o segundo maior fundo de pensão, o multipatrocinado Petros, indica apenas 13 conselheiros em empresas.
A nova metodologia utilizada pela Previ foi aprovada no final do ano passado e para sua implementação foi contratada a consultoria Nieto Auditores e Consultores. Os candidatos a ocupar uma vaga de conselheiro estão enfrentando forte concorrência. Cerca de 750 candidatos preencheram o currículo padrão, disponibilizado no site da Previ. O grande número de candidatos surpreendeu a direção da Previ, pois nos últimos 6 anos, desde quando a Previ começou a nomear conselheiros, a soma dos candidatos atingiu 1200 em todo o período.
Com o currículo em mãos, a equipe do fundo de pensão, junto com o pessoal da consultoria, elaborou um ranqueamento com base em alguns critérios como a formação acadêmica, experiência em comissões diretivas do Banco do Brasil, experiências em conselhos, publicações e palestras (ver quadro).
O ranking é baseado em um sistema de pontuação de 0 a 100 pontos. A pontuação mínima para concorrer a uma vaga como conselheiro é 30 pontos. “Tivemos uma surpresa com o nível dos candidatos, pois havia um grupo grande com mais de 60 pontos”, revela o diretor de participações. Depois da primeira peneira, os currículos daqueles que atingiram a pontuação mínima passam a ser analisados e a diretoria da Previ faz as indicações. A seguir há outra fase, na qual os nomes indicados são submetidos à apreciação do conselho deliberativo do fundo de pensão, que pode aprovar ou rejeitar as indicações.
Uma das vantagens da nova metodologia é a facilidade para a análise do perfil técnico do candidato. No sistema antigo não havia padronização dos currículos, então cada um chegava de uma forma diferente. Agora o currículo é preenchido por meio de um formulário padrão (via internet). O sistema de pontuação também facilita a discussão na hora de indicar os candidatos.
“Procuramos analisar o perfil do candidato para definir qual empresa ele poderá nos representar melhor”, afirma Renato Chaves. Por exemplo, em algumas empresas envolvidas em disputas judiciais, o perfil mais adequado pode ser de um conselheiro com formação e experiência na área jurídica.
Vale lembrar que a Previ está envolvida em algumas disputas judiciais, como por exemplo, com empresas que contam com a participação do Opportunity (Brasil Telecom e Telemar). “Para as empresas mais problemáticas, os conselheiros foram escolhidos a dedo”, revela Cecília Garcez, membro do conselho deliberativo da Previ e diretora da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb). Ela explica que em alguns casos foram indicados funcionários da Previ, por causa da capacitação técnica e a experiência acumulada.

Componente político – Apesar da predominância dos critérios técnicos na seleção dos conselheiros, o processo não está totalmente isento de negociações políticas. Para as empresas de maior peso e importância para a Previ, a disputa está sendo mais acirrada. “É inevitável a influência do viés político e das negociações paralelas naquelas empresas mais importantes”, diz Cecília Garcez. Ela explica, porém, que as negociações fazem parte do processo e que não houve desrespeito aos critérios definidos pela metodologia. Ou seja, em primeiro plano foi valorizada a análise curricular do candidato.
Em alguns casos, para as empresas de maior importância, em geral aquelas em que a Previ tem maior participação, está sendo escolhido um conselheiro profissionalizado, externo ao quadro de participantes dos fundos de pensão. É o caso da Guaraniana (controladora de empresas do setor elétrico), em que existe a indicação do consultor Luciano Coutinho. A indicação precisa ainda ser referendada pela empresa.
Outros casos que justificam a escolha de conselheiros externos envolvem as vagas para os conselhos de empresas do setor bancário. “Acreditamos que não é ético indicar funcionários do Banco do Brasil para vagas em conselhos de outras instituições financeiras”, diz Renato Chaves. Um dos exemplos disso é a saída certa de Luís Eduardo Abreu do conselho de administração do Itaú. Como o executivo assumiu a vice-presidência do Banco do Brasil, não continuará como conselheiro do Itaú. A expectativa do diretor de participações da Previ é que o número dos conselheiros externos deve se manter sem alterações após o término do processo de seleção – no total de 11.

Concorrência – Um dos atrativos para disputar uma vaga como representante da Previ, além da experiência de conhecer e atuar dentro de um conselho de uma empresa, é a remuneração que a posição oferece. Em alguns casos, as maiores empresas remuneram o conselheiro em até R$ 8 mil. Ainda que para os participantes da Previ exista um teto de remuneração de R$ 1,8 mil (o excedente deve ser doado para instituições filantrópicas), a possibilidade de aumentar a renda atrai muita gente. “Para os funcionários que estão com o salário achatado e para os aposentados que querem aumentar a fonte de renda, a vaga de conselheiro é vista como uma boa oportunidade”, explica Cecília Garcez.
No passado, porém, as coisas já foram melhores, pois havia a possibilidade de uma pessoa ocupar a vaga em mais de um conselho. O problema é que o conselheiro muitas vezes não tinha tempo e condições adequadas para exercer a função em vários conselhos. Segundo Cecília Garcez, o problema ainda persiste para alguns altos executivos do BB que ocupam a posição de conselheiros. “Acho que alguns executivos do banco têm pouca disponibilidade para exercer a função de conselheiro e, por isso, acho que o processo de seleção deveria valorizar um pouco mais os candidatos com mais tempo livre”, diz.
Com ou sem tempo, os novos conselheiros terão que se dedicar mais à função. É que a diretoria da Previ, junto com a consultoria Nieto, vão aplicar um sistema de avaliação permanente do trabalho dos conselheiros nas empresas. Quem não estiver desempenhando satisfatoriamente a função pode cair fora ou então ficar com uma avaliação negativa que pode atrapalhar em futuros processos de seleção.

Exército de conselheiros
Número de candidatos 750
Conselhos da Previ em conselhos de Administração 160*
Conselheiros da Previ em conselhos fiscais 180
Total de conselheiros 340
* Cerca de 30 mandatos não serão renovados neste ano
Fonte: diretoria de participações da Previ

Critérios para a escolha dos conselheiros
1. Formação acadêmica – cursos superior, MBA, mestrado, doutorado
2. Experiência profissional no Banco do Brasil – funções exercidas no BB
3. Experiência profissional extra BB – funções exercidas em órgãos públicos, autarquias e empresas privadas. Pontuação pelo tempo de atuação e porte da empresa
4. Experiência em órgãos de classe e conselhos de administração e fiscal.
Pontuação feita com a conjugação de tempo, titularidade e tipo de conselho
5. Questionário com o objetivo de avaliar conhecimentos em Lei das S.A., estratégia, risco e outros.
6. Avaliação interna daqueles que já foram conselheiros: desempenho,
assiduidade e qualidade dos relatórios apresentados.
Fonte: Diretoria de participações da Previ