Edição 91
Irregularidades na compra de imóveis, altas taxas de administração pagas aos gestores e suspeitas de contratos superfaturados com prestadores de serviços. Este era o retrato da Geap, fundo de pensão patrocinado por diversos órgãos públicos da União, em março do ano passado, quando ocorreu a queda do antigo diretor José Nivaldo Cordeiro e de mais 16 profissionais. Menos de um ano depois, tendo renegociado os contratos com os gestores e adotado um novo modelo de avaliação e seleção de assets, a nova diretoria começa a apresentar resultados positivos.
As taxas de administração, por exemplo, caíram significativamente. Depois de renegociar com todos os gestores, o fundo de pensão conseguiu uma economia anual de R$ 370 mil no pagamento de taxas de administração, de um total de R$ 1,55 milhão gastos anteriormente. Antes, a Geap pagava até 0,5% para fundos de renda fixa e a taxa de performance dos fundos de ações girava em torno de 20% sobre o que excedesse o CDI. Agora, todos os fundos DI cobram 0,32% por ano e a taxa dos fundos não referenciados de renda fixa é de 0,32% e mais 10% sobre o que exceder o CDI. Para os fundos de ações, a taxa cobrada é de 0,40% ao ano mais performance de 10% sobre o que ultrapassar o Ibovespa.
A Geap também decidiu reduzir o número de gestores externos. Dos 18 gestores que estavam contratados em março do ano passado, 8 saíram ao longo de 2000 e 4 foram selecionados no final do ano – ABN AMRO, SSB Citi, BBA Icatu e Itaú. Os três primeiros foram contratados para administrar fundos exclusivos de renda fixa de R$ 19 milhões cada. O Itaú ficou com um fundo de renda variável de R$ 12 milhões. “Passamos a adotar um novo modelo de avaliação dos gestores e dispensamos aqueles que apresentavam as piores performances”, explica Yohannes Eck.
Limite maior – Dos 10 gestores que permaneceram, os 2 que apresentaram os melhores resultados na renda fixa e na renda variável, respectivamente o Lloyds e o Opportunity, receberam um limite maior para gestão de recursos. As carteiras administradas por estes dois podem atingir até 12% do patrimônio da fundação – cerca de R$ 48 milhões –, enquanto o limite dos demais é de 6%, a metade. “Estabelecemos limites máximos de concentração de recursos administrados pelos gestores, mas os melhores em cada segmento podem ter até o dobro desse limite”, afirma César Antônio Busin, chefe da área de investimentos da Geap.
Além disso, o volume de recursos sob gestão da asset não pode superar 25% do segmento no qual se enquadra, seja ele de renda fixa ou de renda variável, nem pode representar mais de 10% do total de recursos administrados por ela como empresa. Outro limite diz respeito ao valor mínimo para a abertura de um fundo exclusivo: R$ 10 milhões para a renda fixa e R$ 5 milhões para renda variável.
Em paralelo com a reestruturação da gestão externa, a área financeira da Geap também tomou algumas medidas para melhorar o desempenho da sua carteira interna dos recursos, que representa R$ 120 milhões do total de R$ 400 milhões. Entre eles, renegociou as taxas de corretagem na carteira de renda variável e passou a trabalhar com um número maior de corretoras, em sistema de rodízio. Quanto à carteira de renda fixa, aumentou a concentração de títulos públicos pré-fixados, adquirindo LTN-s ao longo do ano passado.
A Geap também decidiu contratar uma instituição para realizar a custódia centralizada, elegendo o Citibank como custodiante dos ativos das carteiras interna e externa.
Com todas essas mudanças, a evolução da rentabilidade dos investimentos da Geap apareceu já no fechamento do ano 2000. O fundo de pensão, que desde 1998 não batia sua meta atuarial, de INPC mais 6% ao ano, chegou a isso no ano passado com um desempenho de 11,89% (a meta era de 11,54%). “Além de comemorar o resultado global, conseguimos fazer com que nossa carteira interna superasse a rentabilidade média dos gestores externos, tanto na renda fixa como na renda variável”, afirma César Busin.
Modelos – Para aperfeiçoar o processo de administração dos investimentos, a atual direção da Geap adotou alguns procedimentos novos na avaliação e seleção de gestores externos. Para os atuais gestores, definiu quatro critérios básicos: 1 – criou um ranking de performance baseado na rentabilidade e no índice sharpe; 2 – passou a comparar a rentabilidade do fundo exclusivo de cada gestor com o benchmark do segmento – Selic, CDI ou Ibovespa; 3 – passou a comparar o fundo exclusivo com outros que possuam patrimônio líquido semelhantes; 4 – passou a fazer uma análise qualitativa dos gestores através de um questionário.
Para selecionar os novos gestores também adotou procedimentos rígidos, como só analisar aqueles com fundos de investimento classificados entre os 30% de melhor performance pelo Laboratório de Finanças da USP e pela Invest Tracker. Além disso, passou a exigir um volume mínimo de recursos de terceiros sob gestão de R$ 100 milhões, e a aplicar critérios qualitativos (qualificação da equipe, procedimentos internos, especialização etc) na escolha dos 3 melhores. Ainda assim, a palavra final cabe ao conselho de administração da fundação, que elege o vencedor entre os 3 gestores que chegaram ao final do processo.
Integração – A utilização dos modelos, na verdade, foi também uma forma de facilitar a prestação de contas para os membros do conselho de administração do fundo. “Uma das nossas prioridades é promover a integração dos conselheiros com os processos de avaliação e seleção dos gestores de recursos”, afirma o diretor executivo da fundação, Yohaness Eck.
Uma das principais mudanças da atual direção, em comparação com a anterior, foi o aumento da transparência da administração do fundo.
A antiga direção tinha tido problemas em relação a um investimento na área imobiliária, que havia sido feito sem cumprir as exigências legais. A Secretaria de Previdência Complementar encontrou irregularidades nesse investimento, representando uma parte do Terraço Shopping, localizado em Brasília.
Outro problema foi a concentração excessiva de recursos em um único gestor, além dos limites estabelecidos pelo conselho de administração. Devido à ocorrência destes problemas no passado, a atual diretoria decidiu manter o Conad informado de todas as suas atitudes, que por sua vez, estão baseadas em modelos de gestão.
Isso ocorreu porque o próprio Conad decidiu cobrar e fiscalizar mais as ações da diretoria. A mudança de atitude no relacionamento mudou a partir do momento em que os novos diretores foram contratados. O conselho utilizou os serviços de uma empresa de recursos humanos, a
Manager, para selecionar os dire-tores contratados em maio do ano passado.
O funcionário público Yohaness Eck foi escolhido no meio de um grupo de outros nove nomes, a
maioria proveniente do setor privado. Depois de ter trabalhado
durante 10 anos como gestor go-
vernamental, com passagens pelo Ministério da Justiça e Planejamento, foi escolhido para assumir a
direção da Geap.
Agora que a “casa está ficando em ordem”, ele tem novos projetos para o fundo de pensão. Atualmente, a Geap oferece apenas um plano de pecúlio e outro de assistência médica para seus participantes. “Queremos criar um plano de aposentadoria complementar e atrair a adesão de novas patrocinadoras”, diz Eck.