Juros em ritmo de queda

Edição 142

Perspectivas 2004 – Robert VanDijk é diretor superintendente da BRAM – Bradesco Asset Management

A liquidez internacional continuará elevada, o nível e aversão a risco deverá se acomodar em patamares ligeiramente abaixo dos atuais, e as linhas gerais de política econômica doméstica serão preservadas. São estes os pressupostos sobre os quais se baseou a elaboração de nossos cenários. Oferta de financiamento externo permitirá ao Brasil cobrir seu fluxo de necessidades em moeda estrangeira. Trata-se de um ambiente de relativa estabilidade de câmbio, especialmente no 1º semestre, o que em um contexto de expectativas favoráveis e redução da inércia inflacionária dará margem para que o Banco Central venha a fazer novos cortes na SELIC. O processo de flexibilização de política monetária e o restabelecimento de um horizonte de previsibilidade mais elástico devem impulsionar recuperação do nível de atividades já iniciada a partir do fim do 3º trimestre de 2003. O PIB pode crescer cerca de 4%, o IPCA deve situar-se em torno de 6,2% e a SELIC pode fechar o ano no patamar dos 14%aa.

Estados Unidos – os riscos – Os fundamentos norte-americanos não estão alinhados. O passivo das famílias equivale a 80% do PIB. O das empresas é de 100% do PIB. O governo é endividado em cerca de 42% do PIB. Parte destes débitos é financiada por recursos estrangeiros, por isso o transações correntes estar acumulando déficits que são uma sucessão de recordes históricos. Trata-se de uma situação que inspira cuidados, mas acreditamos ser baixa a probabilidade de cenários de ajuste mais severos. É mais provável que a desconfiança provocada pelo tamanho dos déficits deva ser suplantada pelo entusiasmo produzido pelas recorrentes taxas recordes de crescimento e ganhos de produtividade. Não podemos esquecer no entanto, que economias recorrentes e fortemente endividadas junto ao exterior correm o risco de deixarem de contar com as linhas de crédito para o financiamento das suas necessidades. Ainda mais se ficar patente que parte destes recursos está sendo canalizado para o financiamento do passivo do setor público. Quando isto acontece, em geral, o país acaba passando por uma forte desvalorização. O que seria um cenário de drástico ajuste. Um desfecho extremo pouco provável se considerarmos que na ocorrência de sinais de que a desvalorização do dólar vá assumir um ritmo mais incisivo, deve haver um realinhamento dos juros, capaz de restabelecer o influxo em direção aos bolsos ianques. Embora não apostemos neste cenário, nos parece ser este um risco mais plausível que a de um ajuste extremado. Mesmo se tratando de um cenário de ajuste mais ameno, infelizmente haveriam implicações negativas sobre os fluxos para emergentes.

O dia-a-dia da política econômica – A mensuração do tamanho do crescimento potencial de qualquer economia é sempre um trabalho sobre o qual incide muita imprecisão. Estão disponíveis cálculos que indicam que o crescimento potencial brasileiro sustentável não passa de 2%aa, assim como há quem advogue que este crescimento potencial é da ordem de 4,5%aa. Em que pese a precariedade da estimação, é difícil encontrar argumentos para refutar a idéia de que o comportamento recente do investimento não tenha afetado o PIB potencial. O investimento (formação bruta de capital fixo) caiu para 17,88% do PIB no 2º trimestre de 2003, a mais baixa proporção desde o 1º trimestre de 1993, quando o país ainda lutava para debelar um processo hiperinflacionário. Nossas simulações indicam que há cinco anos, o crescimento potencial fora da ordem de 3,5%aa, mas depois dos anos difíceis como os que vivemos recentemente, este crescimento teria se reduzido para algo em torno dos 2,5 a 3%aa. Ainda em outubro, a utilização de capacidade instalada da indústria de bens intermediários se encontrava acima da mediana de todo o Plano Real, o que pode gerar pré disposição do segmento em reaver margens. Se houverem restrições de oferta vigentes no médio prazo, não se pode desconsiderar o risco de convivermos com um cenário de inflação mais renitente. Em 2004, a meta de inflação é de 5,5%. Mérito das decisões acertadas no âmbito macroeconômico e fruto de uma melhora não prevista no cenário externo, as condições vigentes são favoráveis ao cumprimento desta meta, sem que para isso sejam necessários grandes sacrifícios sobre o nível de atividades. Em 2005, no entanto, a meta é de 4,5%. O ano de 2005 deve se iniciar com um nível de inércia elevada no que tange ao nível de atividades, e dadas as elasticidades do comércio exterior com o ritmo de crescimento doméstico é provável que os saldos comerciais já estejam menos pujantes, o que significará alguma pressão sobre o câmbio, e conseqüentemente, sobre os preços tradables. O cumprimento da meta de 2005 pode impor algum limite às quedas da SELIC já em 2004.
Neste contexto de crescimento, apesar das valorizações já ocorridas em 2003, ainda consideramos atrativas as aplicações em fundos de ações. Também recomendamos os fundos multi mercados. São fundos que permitem que o administrador escolha os mercados aonde se posicionar, tanto para buscar ganhos, quanto para se proteger, se o cenário assim o exigir. Os fundos multi índices são uma opção que se mantém interessante. Mesmo prevendo inflação cadente, o cupom dos títulos que lastreiam estes fundos continuam atrativos, dado o cenário de queda tanto dos juros nominais, quanto dos juros reais, no médio e longo prazo. Para quem tem menor apetite ao risco, e que está aplicando recursos vinculados ao pagamento de compromissos futuros, recomendamos a aplicação em fundos de renda fixa. Mesmo depois da decisão do COPOM de janeiro, está mantida a expectativa de queda dos juros, o que cria oportunidades de ganhos para este tipo de aplicação. Em um cenário de liquidez abundante, é possível que o comportamento da moeda norte americana seja bastante semelhante à doméstica. Diante desta perspectiva, é pouco provável que a rentabilidade dos fundos câmbiais venha a superar a variação do CDI, tornando este tipo de aplicação pouco atraente como alternativa de investimento. Para os mais conservadores, a recomendação continua sendo os fundos DI referenciados.