Edição 249
A abertura de taxas dos ativos de renda fixa em junho foi encarada por gestores de fundos de pensão como uma oportunidade de ir às compras. A maior procura foi por títulos indexados à inflação, principalmente as NTN-Bs com vencimentos longos. Depois de encerrarem 2012 com uma taxa em torno de 3,95%, esses papéis voltaram a subir em junho e passaram do patamar de 5,5% ao ano mais inflação. Desta forma, os institucionais participaram dos leilões promovidos pelo Tesouro Nacional e mantiveram-se ativos no mercado secundário, de acordo com o sócio da Aditus, Guilherme Benites.
Segundo o consultor, o momento foi positivo sobretudo para os fundos de pensão que tinham uma previsão de compra em seus estudos atuariais, justamente por terem uma alocação de longo prazo. “Observamos um movimento de fundos de pensão voltando ao mercado de renda fixa. O que nos parece é que os compradores naturais desses títulos, os fundos de previdência complementar e os planos abertos, além de outros que tiveram alterações em suas diretrizes, quiseram alongar a duração da carteira e desindexar um pouco do CDI. Claro que o alongamento depende sempre do passivo de cada fundação”, afirma.
Para o consultor, o estresse nas taxas em renda fixa deve continuar nos próximos meses, já que há uma desconfiança maior do investidor, de forma geral, sobre se realmente haverá um aumento da taxa Selic e se tal medida será eficiente no combate à inflação. Outro fator que também ajuda a manter a volatilidade dos ativos é a confirmação da retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed), o que aumenta a expectativa pela elevação dos juros dos treasuries americanos. Segundo o sócio da Aditus, as taxas dos papéis de crédito privado acompanharam as dos títulos públicos em junho, mas o impacto foi menor na procura por esses ativos, porque oferecem menor liquidez e maior risco. De fato, o ambiente de taxas do mês passado gerou mais oportunidades para aquisições de títulos públicos.
Essa é a avaliação do diretor de investimentos e finanças da Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social (Valia), Maurício Wanderley, que diz ter aproveitado a abertura para manter uma posição ativa, tanto nos leilões promovidos pelo Tesouro Nacional como no mercado secundário, principalmente em NTN-Bs de longo prazo. Com 110 mil participantes, a carteira da Valia tem patrimônio de R$ 17 bilhões, dos quais 60% alocados em ativos de renda fixa. Deste montante, 90% correspondem a NTN-Bs de longo prazo.
“É uma hora oportuna para compra, apesar da movimentação desses títulos em toda a curva. Estamos com foco nos fundamentos do cenário macroeconômico e mantendo nossa alocação de longo prazo. A volatilidade no curto prazo é natural. Além disso, os fundos de pensão ganharam muito dinheiro na renda fixa. Nossa média histórica de retorno médio nominal é de 19% ao ano nos últimos dez anos”, conta. Segundo o diretor da Valia, a forma de marcação dos títulos – na curva ou a mercado – foi determinada de acordo com o perfil de plano. A marcação a mercado foi escolhida para os planos de contribuição variável, os CVs. Para o plano de benefício definido, os BD, a marcação foi híbrida – parte na curva, para retirar a volatilidade, e parte a mercado.
Fundações – A Fundação CESP (Funcesp) também aproveitou o momento para fazer compras de NTN-Bs com vencimento em 2045 e em 2050, no volume de R$ 100 milhões. “Para o nosso tamanho, a compra foi relevante”, comenta o diretor de investimentos Jorge Simino. Com 47 mil participantes, o fundo tem patrimônio de R$ 22,5 bilhões, sendo 72% alocados em renda fixa. Para o executivo, a abertura deu fôlego para a renda fixa, já que a carteira do fundo teve uma rentabilidade acumulada de 3,72% nos cinco primeiros meses deste ano, uma queda nominal de 0,15% em relação ao mesmo período de 2012.
Os títulos adquiridos foram marcados a mercado, prática que embute todas as oscilações de preços. Os papéis marcados na curva foram os adquiridos há mais tempo, em torno de seis anos. Simino entende que a volatilidade nas taxas vai continuar em razão de indicadores internos e externos da economia. “O problema é que os papéis não estão refletindo os fundamentos. A abertura de taxas é negativa em termos contábeis. Quando a taxa sobe, o preço cai”, explica.
Para o diretor administrativo e financeiro da Fundação Sanepar (Fusan), Luiz Carlos da Silva, a abertura de taxas permitiu abater perdas ocorridas no começo deste ano. No fim do mês de maio, a fundação comprou R$ 10 milhões de NTN-Bs com vencimento em 2050, a uma taxa de 4,6%. Em junho, a mesma quantidade de títulos com o mesmo vencimento foi adquirida por uma taxa maior, de 5,5%. “De janeiro até maio perdemos R$ 20 milhões só com a marcação a mercado pelo IMA-B. Mesmo com maior volatilidade, consideramos a marcação a mercado mais justa, por refletir o movimento da carteira”, diz.
Com R$ 950 milhões sob gestão, a Fusan aloca 75% da carteira em renda fixa e tem meta atuarial de INPC mais 5,75% ao ano. Para o segundo semestre, estuda a abertura de um fundo de crédito privado e corporativo. “Hoje temos poucos FIDCs. Pretendemos partir para debêntures, CRIs, CCIs e CDBs”, adianta.
Na Fundação dos Economiários Federais (Funcef), de patrimônio ativo de R$ 52,3 bilhões em março e mais de 130 mil participantes, a estratégia foi adotar uma gestão ativa, com compras no mercado secundário, entrada em leilões do Tesouro Nacional somente diante de oportunidades e o alongamento de títulos curtos dependendo da previsão da macroalocação de ativos. O gerente da Gerência de Operações Financeiras da Funcef, Adriano Suzarte, diz que adquiriu títulos acima da meta atuarial – INPC mais 5%.
“Estamos adquirindo títulos com taxa acima de 5,5% mais IPCA e temos a opção de marcar a mercado ou na curva para tirar volatilidade da renda fixa”, revela. Segundo ele, os títulos adquiridos no secundário, a taxas acima da meta atuarial, são para 2020 e 2022. “Não há um vértice específico, mas compramos para casar com o ativo e passivo da ALM”, completa. O intuito é sempre alongar a carteira, de acordo com os spreads entre um vértice e outro, ou seja, com preferência aos títulos de curto prazo que se encaixem no modelo de macroalocação e aos papéis mais longos, que vencem em 2030, 2040 e 2050 com taxa maior.
Suzarte observa que esse modelo de gestão ativa minimizou as perdas que a carteira sofreu com a volatilidade das taxas desde o início do ano. “Até 2012 podíamos fazer uma carteira de NTN-Bs e ficar até o vencimento. Hoje, nenhuma fundação pode se dar ao luxo de ficar olhando”, compara. Neste contexto, no começo de 2013 a fundação diminuiu a exposição do caixa (de até 25% do patrimônio líquido) em NTN-Bs, sem zerar a posição, e aumentou as posições em títulos indexados ao DI ou Selic.
Agora, com a volta das taxas atrativas, houve aquisições de NTN-Bs com taxas acima da meta atuarial, para os fundos marcados na curva ou a mercado. A escolha do tipo de marcação depende da compra. De acordo com Suzarte, os ativos acima da meta atuarial são marcados na curva para retirar a volatilidade da carteira. Já as oportunidades de trade são marcadas a mercado. “Desenhamos essa estratégia para dois tipos de carteiras de fundos. Geramos um alfa para os ativos de renda fixa e, neste ano, fizemos poucas marcações na curva porque foram poucos os momentos em que as taxas estavam acima da meta atuarial”, pontua.
Gestores – Para as assets, que precisam adotar estratégias para diferentes horizontes, o mês foi de conservadorismo e cautela. O diretor do BB DTVM, Carlos André, informa que sua estratégia foi manter a posição dos produtos em linha com os benchmarks. “Estamos procurando ser mais defensivos na área de fundos de renda fixa, respeitando mandatos, para o cliente perceber que o comportamento dos ativos acompanha o mercado. Os fundos de rede (oferecidos nas agências do Banco do Brasil) não tiveram alongamento fora do prazo médio de benchmarks.
O momento não é claro e há um risco adicional para alongar carteiras de fundos voltados para o IMA-B e IRF-M”, justifica. No último mês, a participação do BB DTVM em leilões de títulos esteve condicionada ao movimento de aplicação e resgates dos cotistas. De acordo com André, houve resgates de pessoas físicas em fundos que acompanham a inflação, pelo índice IMA-B. Por isso, a gestora teve de se desfazer de títulos NTN-Bs e LTNs. O movimento foi equilibrado pelo interesse maior dos investidores institucionais, o que levou a asset ir às compras e adquirir NTN-Bs com vencimentos para 2030, 2045 e 2050. “Ainda não tenho o saldo líquido, mas houve mais resgates do que aplicações”, destaca.
Mesmo com prêmios maiores na curva mais longa dos títulos públicos, a palavra de ordem para a diretora da Votorantim Asset Management, Sandra Petrovsky, é cautela. “Nossa estratégia no começo do ano era mais tática e de curto prazo. Agora voltamos a alocar, mas com cautela, porque o posicionamento no prazo mais longo ainda não é tranquilo. O mercado sofreu e ainda sofre volatilidade por dois pontos que ainda não foram solucionados: a retirada de estímulos do mercado americano e, no Brasil, quando haverá aumento da taxa de juros para combater a inflação”, afirma.
Segundo ela, a estratégia com o prefixado é não aplicar em um nível de risco alto, mesmo diante de prêmios exacerbados. “Nos nossos fundos, de forma geral, começamos a aplicar um pouco dos recursos na curva mais longa, com aquisições de NTN-Bs e em derivativos de DI futuro. A proporção depende do benchmark e mandato de cada fundo”, conclui.