Itaú ganha parceiro global | Parceria firmada com o gigante State...

Edição 99

O Itaú jogou uma cartada decisiva para se consolidar como o maior custodiante de recursos de terceiros do mercado nacional, anunciando no início desse mês de junho uma parceria com o maior banco de custódia do mundo, o State Street. Mesmo antes da parceria com o State Street, o Itaú já levava vantagem sobre os competidores Citibank, HSBC, ABN AMRO e Santander na custódia de ativos de assets e fundos de pensão nacionais, mas não era um player global. E sabia que isso, em algum momento, poderia afetar sua posição de liderança.
Desde que o mercado de custódia começou a aquecer, há pouco mais de um ano, o Itaú preocupava-se com esse ponto. Não era para menos. Cada um dos competidores de peso, todos internacionais, passaram a enfatizar junto aos grandes clientes sua condição de player global, capaz de oferecer-lhes soluções globalizadas. Essas, que podem ser apenas um charme a mais para os pequenos clientes nacionais, tornam-se decisivas quando se trata de conquistar corporações e fundos de pensão de empresas multinacionais, pois esses costumam consolidar seus números a nível global.
Para livrar-se desse incômodo calcanhar de aquiles o Itaú buscou o State Street, que há anos já atuava como custodiante para seus fundos off shore. As conversas com o banco norte-americano foram demoradas, duraram mais de um ano, entre outras razões porque ele já tinha um acordo local com o Citibank que custodia recursos dos seus clientes de ativos brasileiros. Além disso, nos EUA, o State Street é sócio do Citibank na empresa Citi Street, focada na prestação de serviços para fundos de pensão.
Mas isso não foi impedimento. “E escolhemos o Itaú para parceiro por causa da sua expertise local”, diz Nancy Newman, vice-presidente do State Street. “Acreditamos que o Brasil é um dos mercados-chave para quem atua no segmento de prestação de serviços para investidores institucionais”.
O acordo como o State Street é meramente operacional, prevendo apenas a integração dos sistemas e a troca de experiências e de bases tecnológicas, mas pode evoluir para algo mais que uma simples parceria. “Podemos criar uma joint venture no futuro”, revela o vice-presidente executivo do Itaú e responsável pela sua área de investimento, Alfredo Setúbal. “Quando os investidores institucionais nacionais puderem investir lá fora, levaremos clientes para a custódia do State Street”.
O Itaú custodia hoje R$ R$ 104,7 bilhões em recursos de terceiro, sendo o primeiro do ranking local. Quanto ao State Street, seus números impressionam: tem escritórios em 23 países e realiza a custódia de US$ 5,8 trilhões, dos quais US$ 1,8 trilhão provêm de fundos de pensão dos Estados Unidos, onde é líder e detém 25% do mercado. Além disso, é o sexto do mundo em gestão de recursos, com US$ 703 bilhões sob administração, dos quais US$ 566 bilhões de fundos de pensão norte-americanos.
A parceria com o banco norte-americano é anunciada em um momento em que o mercado de custódia no Brasil está em ebulição. De acordo com a nova Resolução n.o 2.829/CMN, os fundos de pensão têm até o final de junho para contratar um custodiante central, com exceção das entidades que terceirizam a administração de 100% dos recursos. Diversos processos de seleção de custodiantes estão em andamento e o Itaú pretende colher os frutos do acordo imediatamente. “Acabamos com o principal argumento dos concorrentes, que falavam que não éramos players globais”, ressalta Alfredo Setúbal. Segundo ele, não mais de 10% dos fundos de pensão já contrataram um serviço de custódia centralizada.
Entre os que já contrataram, estão algumas das maiores fundações, como Petros, Funcef e Sistel. Mas a maioria das pequenas e médias, muitas das quais patrocinadas por empresas multinacionais, ainda não se definiu. Com a parceria, o banco brasileiro passa a contar com um sistema integrado internacionalmente de custódia, fundamental para as empresas estrangeiras que já realizam consolidações globais.
O State Street ancora sua liderança do mercado de custódia em investimentos constantes na sua base tecnológica. Segundo Nancy Newman, cerca de 10% do quadro da instituição é formado por profissionais da área técnica, mas os 19 mil funcionários do grupo no mundo estão capacitados para lidar com os avançados sistemas de informática do State Street. Isso é fundamental nos EUA, onde os participantes dos fundos de pensão têm acesso direto ao controle de seus planos de benefícios. “Com a evolução dos planos de Contribuição Definida (CD) em nosso país, desenvolvemos um sistema capaz de permitir ao participante do fundo de pensão o acesso e a interação direta com seu plano”, diz Nancy.
O Itaú pretende seguir na mesma trilha do novo parceiro. Por isso, já anuncia o início da prestação de serviços na área de passivo para as entidades fechadas. “Até o final do ano, o fundo de pensão poderá terceirizar o pagamento do benefício de seus participantes através de nosso sistema”, prevê Luiz Eduardo Zago, diretor da custódia do banco. Além disso, o participante poderá ter acesso direto a informações como simulações de benefícios, saldo de reservas, entre outras, através do sistema do Itaú, via internet ou rede de agências e caixas eletrônicos.
Além disso, o relacionamento do Itaú com os participantes dos fundos de pensão, um público de alto poder aquisitivo, servirá para ampliar a base compradora de produtos do banco. “Os serviços de passivo para participantes de fundos de pensão deve gerar, também, um aumento indireto de nossas receitas”, revela o diretor de custódia do Itaú.

Prioridade
para a custódia
“No momento, a custódia é nossa prioridade. Já crescemos bastante na gestão de recursos de institucionais mas a atual guerra de taxas está reduzindo a receita”, comenta o vice-presidente executivo do Itaú, Alfredo Setúbal. Enquanto outras instituições ainda priorizam o segmento de gestão de recursos de grandes investidores, o Itaú decidiu ganhar o mercado de custódia, no qual há mais espaço para crescimento e menos concorrência.
A área de custódia do Itaú já tem 30 anos, mas há apenas 5 anos o banco decidiu partir para a ofensiva. Primeiro, direcionou os esforços rumo às assets, custodiando hoje os recursos de 104 gestores. Agora, está voltando-se totalmente para a custódia dos ativos das fundações.
Isso não significa abandonar a área de asset management, mesmo porque o faturamento deste segmento é maior que o da custódia. Enquanto a custódia do Itaú fatura cerca de R$ 60 milhões por ano, a área de gestão de recursos alcança R$ 800 milhões.
Apesar da diferença entre as cifras, o crescimento da área de custódia leva ganhos para outras áreas da instituição. “Com o crescimento da custódia, reduzimos as perdas da nossa asset e diversificamos nossas fontes de receita”, afirma Setúbal. Isso porque os fundos de pensão estão forçando uma redução nas taxas de administração dos gestores que não possuem custódia própria, uma vez que terão um custo adicional com o custodiante centralizado.
Além disso, o fortalecimento da custódia permite ampliar a venda de serviços agregados aos investidores institucionais, como controle de risco, controladoria e precificação de ativos. “O cliente tem a opção de contratar apenas a custódia ou o pacote completo de serviços”, explica Luiz Zago.
Segundo ele, deve haver grande demanda pelo serviço de precificação dos ativos, pois o custodiante é o único agente com capacidade de padronizar os critérios de precificação dos papéis das carteiras e fundos de investimento das fundações. Também o serviço de controle de risco deve ser bastante demandado, pois fica mais barato contratá-lo junto ao custodiante do que recorrer a uma consultoria externa.