Edição 84
Mesmo sendo uma empresa jovem e com um quadro de profissionais também jovem, com idade média de apenas 32 anos, a Intelig decidiu não esperar muito tempo para oferecer um plano de previdência aos seus funcionários. A empresa-espelho de telefonia, cuja principal controladora é a britânica National Grid, começou a operar no país em janeiro deste ano e pouco mais de seis meses depois já estava com o novo benefício pronto para ser lançado. A adesão ao plano foi aberta neste mês de agosto e a expectativa é que 90% dos cerca de 850 funcionários participem como contribuintes do plano. O plano será administrado pelo fundo de pensão multipatrocinado do CCF.
O motivo principal que levou a Intelig a criar um plano de benefícios foi a necessidade de atrair mão-de-obra qualificada em meio à disputa com outras concorrentes. “Precisamos atrair os melhores talentos do mercado”, afirma Leonardo Fialho Salgado, gerente de remuneração da empresa e responsável pela implantação do novo benefício. De um lado, a Intelig disputa os melhores profissionais com empresas privatizadas que já possuíam fundos de pensão, como as companhias que pertenciam ao sistema Telebrás. Por outro lado, a Intelig também concorre com outras empresas-espelho que ainda não possuem planos de previdência, mas que deverão constituí-los em breve.
A empresa de telecomunicações apresenta metas ambiciosas que envolvem o crescimento acelerado do tamanho de seu quadro profissional. Atualmente, a Intelig possui 300 vagas em aberto para áreas técnicas e de vendas. Até o final de 2000, a companhia deve contar com um quadro de 1.300 funcionários e nos dois anos seguintes o grupo pode crescer para até 2.000 pessoas.
Para isso, a empresa vem adotando a estratégia de oferecer benefícios atraentes para conseguir contratar os profissionais mais qualificados do mercado. Com a consultoria da Towers Perrin, a empresa elaborou um plano de previdência com algumas características agressivas em relação aos benefícios oferecidos por outras empresas. “Como a competitividade por mão-de-obra qualificada está bastante acirrada entre as empresas de tecnologia, a tendência é que a maioria ofereça planos de benefícios que chamem a atenção dos profissionais da área”, explica Valéria Pimentel, consultora da área de previdência da Towers Perrin e que trabalhou na elaboração do desenho do plano da Intelig.
O mecanismo de vesting, por exemplo, começa a valer a partir dos 3 anos de contribuição. Após esse prazo, o participante tem direito a 33% das contribuições da patrocinadora e a partir de 5 anos, o percentual sobe para 66%. Depois de 10 anos de participação no plano o funcionário passa a ter direito a totalidade das reservas formadas pela empresa. “O vesting mais agressivo serve para atrair os funcionários mais jovens para o plano”, diz a consultora da Towers Perrin.
Outra característica agressiva é a relação entre as contribuições da empresa e do participante, que é de 2 para 1. O funcionários pode contribuir até 3,5% de seu salário e a patrocinadora entra com até 7%. O participante pode realizar aportes acima dos 3,5%, mas sem a contrapartida da empresa. “Elaboramos um plano bastante competitivo em relação ao que existe atualmente no mercado”, declara Salgado.
Multipatrocinado – Depois de estudar todas as alternativas existentes no mercado, a Intelig decidiu aderir a um fundo de pensão multipatrocinado. A opção de criar um Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) foi cogitada, mas a empresa descartou a idéia por causa da flexibilidade excessiva deste tipo de plano. “Devido à alta flexibilidade e liquidez do PGBL, o plano acaba perdendo um pouco de suas características previdenciárias”, opina o gerente de remuneração da Intelig. A alternativa do fundo de pensão próprio também foi estudada, mas como o plano está começando do zero e ainda não possui um quadro muito grande de profissionais, os altos custos operacionais para constituição da entidade não compensariam.
Depois da abertura do processo de concorrência, 10 fundos multipatrocinados se increveram para a disputa. A Intelig e a Towers selecionaram então 4 propostas para uma segunda fase de análise e, no final, acabou escolhendo o CCF. O fundo fica, portanto, com a administratação do ativo e do passivo do plano dos funcionários da Intelig. A empresa definiu o perfil moderado para aplicar inicialmente as reservas do plano. O perfil terá até 30% dos recursos aplicados em renda variável e o restante em renda fixa.
Mercado aquecido – Com a adesão da Intelig, o multipatrocinado do CCF atingiu a marca de 171 patrocinadoras e cerca de 60 mil participantes ativos. O patrimônio da entidade já alcança a cifra de R$ 1,1 bilhão. “O mercado esteve bastante aquecido na primeira metade do ano”, afirma Rogério Aguirre, diretor do CCF Fundo Multipatrocinado. Segundo ele, o multipatrocinado recebeu a adesão de 11 novas patrocinadoras neste ano, até o mês de julho passado. Entre as empresas estão a Galaxy, da área de TV por assinatura, e a Wella, produtos de beleza. Durante todo o ano de 99, o CCF havia fechado negócio com 12 novas patrocinadoras e a expectativa para 2000 é que o resultado seja bem melhor. “Estamos registrando maior demanda por parte de empresas estrangeiras
e da área de tecnologia e comunicações”, afirma Aguirre.
O diretor do CCF acredita que o crescimento do segmento de fundos multipatrocinados deve ganhar novo impulso com o surgimento da Resolução n° 2.720 do Conselho Monetário Nacional, que cria as novas regras dos investimentos das entidades fechadas. “As novas regras criam uma série de custos e dificuldades adicionais para os fundos de pensão. Nos multipatrocinados, os custos são diluídos e a estrutura especializada consegue dar conta de todas exigências do órgão fiscalizador”, declara o diretor do Fundo Multipatrocinado do CCF.