Inflação corrói desempenho | Alta inesperada do IGP-DI prejudica ...

Edição 153

Quando o Financial Times divulgou que os fundos de pensão do Brasil caminhavam para fechar o ano sem cumprir meta atuarial houve um coro de indignação verde e amarela. A Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) protestou, a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) se manifestou e integrantes do sistema bradaram aos quatro ventos que os jornalistas estrangeiros – como aquele que protagonizou o episódio sobre os supostos hábitos etílicos do presidente da República – tinham como único intuito prejudicar a imagem do País.
Alguns meses depois, o resultado. Das 63 fundações que são monitoradas pela Mercer Investment Consulting, apenas 13 alcançaram suas metas atuariais de janeiro a novembro deste ano. Ou seja, só 20% desse universo conseguiu ficar acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais 6% ao ano ou do Índice Geral de Preços de Mercado no conceito Disponibilidade Interna (IGP-DI), também mais 6%, – que são os indicadores mais utilizados como referência de desempenho (benchmark) pelas fundações.
Segundo o gerente de investimentos da entidade, Lauro Araújo, o grande vilão deste ano foi o IGP-DI, que veio muito acima do previsto. “Esperávamos um ano bem mais fácil, mas a inflação foi impactada pelo aumento do preço do petróleo, das commodities e, em parte, pelo aquecimento da economia”, explica. Além disso, diz, o dólar assumiu forte movimento de queda apenas no final do ano. “A inflação responde mais à alta de preços do que à baixa”.
No ano passado, todas as entidades acompanhadas pela Mercer – que costumam ter patrimônio médio de R$ 100 milhões e são patrocinadas por empresas privadas e multinacionais –, bateram a meta atuarial. Araújo explica, entretanto, que há uma grande distorção em comparar os períodos, uma vez que 2003 apresentou um ano excepcional para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). De fato, no ano passado, o principal indicador do mercado acionário, o Ibovespa, quase dobrou de tamanho subindo 97,3%. Neste ano, de janeiro a meados de dezembro, o desempenho do Ibovespa mostra-se bem mais modesto: não mais que 14%.
Enquanto a Bolsa patinou, a renda fixa surpreendeu. “O IGP-DI subiu muito mais que o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), que está em 11,42% no acumulado do ano”, lembra Araújo. A tabela ao lado mostra o desempenho das fundações diante dos dois principais índices de referência. De janeiro a novembro, o INPC mais 6% atingiu 11% e o IGP-DI mais 6% alcançou 17,67%. Vale lembrar que grande parte dos recursos do sistema está alocada em títulos públicos pré e pós-fixados do Tesouro Nacional, que têm como referência a meta Selic.
Das 50 fundações que não alcançaram suas metas atuariais, a rentabilidade mínima atingida entre janeiro e novembro foi de 12,34% – mais de cinco pontos porcentuais abaixo do desempenho do IGP-DI mais o juro de 6% no mesmo período. No caso dos fundos de pensão que atingiram o benchmark, o ganho máximo chegou a 17,70%; portanto, pouca coisa acima do IGP-DI mais 6%. Ganharam por puro raspão na trave.
“Os conselhos dos fundos de pensão estão se reunindo para ver o que será feito o ano que vem. Inclusive, já há um movimento de alteração de meta atuarial, até porque os salários estão muito mais correlacionados com o INPC do que com o IGP-DI”, diz Araújo. Afinal, das 63 fundações monitoradas pela Mercer, 24 adotam o IGP-DI mais 6% como meta atuarial e apenas sete assumem o INPC.
“Esperávamos um Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de 6,5% em 2004. Já estamos com 11,59% até novembro. Esperávamos uma taxa de juros de 13,8% ao final do ano. Estamos em 17,75%. Só a taxa de câmbio ficou melhor do que os R$ 3,00 que imaginávamos para o final do ano”, desabafa o profissional. Para 2005, Araújo prevê uma inflação de 6%, uma taxa de juros de 15% e uma alta de 30% para a Bolsa de Valores. “Por enquanto”, senten-
cia.