Hora de mudar | Pressionada pela queda dos juros e pelo alto flux...

Renê Sanda,  da PreviVítor Paulo Gonçalves, da PreviEdição 243

 

Com patrimônio de R$ 162 bilhões, o maior fundo de pensão da América Latina está preparando um processo de reestruturação de sua carteira de investimentos a partir de 2013. Com um volume de pagamentos de benefícios que deve chegar perto da casa de R$ 10 bilhões até final de 2012, a Previ do Banco do Brasil está finalizando o desenho de sua política de investimentos para o ano que vem e que resultará em pelo menos duas estreias importantes em novos segmentos: os investimentos no exterior e os hedge funds (multimercados).

Mesmo antes de finalizar a proposta, é possível traçar algumas indicações que apontam para um novo modelo de política de investimentos. “Estamos muito expostos à renda variável. As novas carteiras de investimentos no exterior e multimercados vão nos ajudar a reduzir essa concentração”, diz Renê Sanda, diretor de investimentos da Previ. Apesar de não prever uma alta exposição inicial nesses novos segmentos, as novidades apontam para uma direção inusitada para a carteira da Previ.

A forte volatilidade de bolsa, somada com a queda dos juros da renda fixa, tem pressionado negativamente o desempenho da carteira da Previ. A rentabilidade dos últimos dois anos mostra que as aplicações não conseguiram bater as metas atuariais. Mesmo com a redução da meta de 5,5% para 5% em 2011, a rentabilidade não foi suficiente para superá-la no ano passado. O maior plano da Previ (Plano 1), que tem patrimônio atual de R$ 158,6 bilhões, atingiu rentabilidade de 7,70% em 2011, enquanto a meta ficou em 11%.

A rentabilidade do plano mais novo (Previ Futuro), que tem patrimônio atual de R$ 3,4 bilhões, foi menor ainda, atingindo apenas 4,63% no ano passado. Por se tratar de um plano de contribuição definida, o Previ Futuro não tem uma meta a ser cumprida, mas mesmo assim é balizado pela referência de INPC mais 5,5%, que no ano passado ficou em 11,5%.

A rentabilidade acumulada no período de janeiro a setembro deste ano projeta um fechamento para 2012 melhor que 2011, mas ainda assim não consegue bater a meta atuarial. O plano 1 rendeu 7,38% no acumulado até final de setembro, contra uma meta de 7,99% (INPC mais 5%). Já o Previ Futuro alcançou 9,61% no mesmo período, acima da referência de 8,44% (INPC mais 5,5%).

Liquidez – Além da busca de mais rentabilidade, os gestores da Previ estão olhando para a necessidade de liquidez.  Em 2011, o Plano 1 foi responsável pelo pagamento de R$ 6,6 bilhões em benefícios normais e mais R$ 2,4 bilhões em benefícios especiais (resultantes da distribuição de superávit ), totalizando R$ 9 bilhões. As necessidades do passivo daqui para a frente devem limitar a aplicação de recursos em determinadas classes de ativos estruturados, por causa da sua falta de liquidez.

Junto com o segmento de multimercados, a estréia em investimentos no exterior tem o objetivo de trazer maior diversificação à carteira e, ao mesmo tempo, fazer aplicações com liquidez e retornos mais ajustados às necessidades do passivo dos planos.

Os tamanhos das duas novas carteiras ainda não foram definidos, pois a política de investimentos para o próximo ano ainda está em fase de elaboração. “Ainda não definimos o tamanho dessa nova carteira de multimercados e nem qual será o veículo. É possível que seja no formato de um fundo de investimento em cotas que possa selecionar outros fundos abertos do mercado”, diz Sanda.

 Segundo ele, a estratégia aponta para a seleção de fundos multimercados que tenham a essência de hedge funds, ou seja, que busquem maior descorrelação com índices e possam gerar maior retorno alfa para a carteira.

Desconcentrar – A abertura das novas frentes de investimento está em linha com o projeto de redução dos investimentos em renda variável, sobretudo na participação acionária em empresas. No início de 2012, o fundo de pensão havia dado um passo nessa direção ao abrir uma nova carteira de small caps, que começou com R$ 300 milhões. Na época, foram selecionadas seis gestoras e cada uma ficou encarregada de gerir um fundo de R$ 50 milhões. Outras aplicações que também estão alinhadas com desconcentração na renda variável referem-se à aquisição de prédios comerciais e participação em shopping centers (ver box na página seguinte).

“A ideia é promover a descorrelação maior com os índices e segmentos em que estamos com excesso de concentração”, diz Sanda. O diretor da Previ ressalta, porém, que o processo será realizado de forma gradual. Os limites das aplicações nas novas modalidades depende da proposta que está nas mãos da diretoria de planejamento e que até o final do ano deve ser aprovada pelas instâncias decisórias da entidade.

Exterior – O limite inicial da carteira de investimentos no exterior não deve ser grande se comparado com os demais segmentos da Previ. “Ainda não definimos os limites, mas vamos começar com uma pequena exposição já que temos a necessidade de ganhar know how nesta área”, diz Vítor Paulo Gonçalves, diretor de planejamento da Previ, que confirma que será aberto um limite inicial já para 2013. “É um exercício de aprendizado, exige muito mais conhecimentos do que aqueles que temos para atuar no mercado doméstico. Lá fora as variáveis devem se amplificar”, diz Gonçalves.

Depois de passar pela fase de aprendizado, o diretor acredita que o caminho natural será o aumento da diversificação dos investimentos nos mercados estrangeiros. O processo de aprendizado e diversificação, porém, não irá prescindir da busca pelas melhores rentabilidades possíveis. “A rentabilidade não pode ser deixada de lado mesmo na fase inicial que estivermos incorporando experiência”, diz Gonçalves.

Outro ponto importante é a seleção de parceiros estratégicos que possam auxiliar a Previ na entrada nos mercados externos. O diretor de planejamento da Previ acredita que devem ser selecionadas gestoras externas que possam atuar com a expertise e a segurança necessárias para promover um alto desempenho para a nova carteira.

As conversas com as gestoras que atuam no Brasil e que têm expertise internacional já começaram. Além disso, os gestores da Previ estão mais atentos no acompanhamento da legislação e das análises dos mercados no exterior, principalmente nos EUA e Europa. “Estamos visitando outros países, em eventos internacionais da Abrapp e outras entidades, além de aprofundar os contatos com as assets globais que atuam no Brasil”, diz o diretor de planejamento.

Quanto à atuação em parceria com outras fundações na constituição de fundos de investimentos no exterior, já que a regulamentação atual proíbe a concentração de mais de 25% do patrimônio de um fundo, a Previ não descarta a formação de um grupo de fundações. “Os fundos de pensão estão interagindo constantemente, mais do que no passado. É possível que nos associemos com outros fundos de pensão que têm obejtivos estratégicos similares aos nossos”, diz Gonçalves. O dirigente ressalta que o processo de conversas e articulação com outras fundações ainda não foi iniciado.

Estruturados – No segmento de investimentos estruturados, as discussões sobre os limites para fundos em participações também não foram finalizadas. Porém, a direção da Previ vem sinalizando com o aumento da carteira de fundos de participações (FIPs), mas que não deve ocorrer com volumes mais altos.

No segmento de FIPs, a preocupação maior ainda gira em torno das regras de saídas e desinvestimento dos fundos. “Achamos que o mercado de private equity ainda precisa se desenvolver um pouco mais no sentido de oferecer melhores condições para a saída dos investidores”, afirma Gonçalves.

A preocupação é justificada pela necessidade de liquidez que a Previ apresenta em função do alto fluxo de pagamento do Plano 1. Por outro lado, o Previ Futuro que é mais novo e que conta com número reduzido de assistidos e maior quantidade de ativos. Por isso, tem fluxo positivo, porém ainda não tem um grande patrimônio.

Por isso, a tendência é que nos próximos anos os investimentos de maior prazo (menos líquidos) se concentrem neste novo plano, a medida que seu patrimônio também vá evoluindo e tendo maior capacidade de assumir aplicações mais volumosas.