Edição 140
Mercados adoram cultivar mitos, para depois destruí-los! Um deles, talvez dos mais fortes do mercado financeiro brasileiro, está ligado ao Banco Garantia, que depois de uma história de agressivos sucessos no mundo dos investimentos acabou sendo vendido quase quebrado ao Credit Suisse First Boston (CSFB) em 1998, alguns meses após ter sofrido pesadas perdas com títulos da dívida brasileira. O banco, durante a crise asiática do final de 1997, comprou pesadamente os bradies brasileiros desvalorizados que os investidores internacionais estavam colocando no mercado, acreditando que o governo de FHC seria levado a usar reservas para comprar sua própria dívida e empurrar os preços dos bradies novamente para cima. Como isso não aconteceu, o Garantia amargou pesadas perdas para si e para seus investidores.
Foi um erro de avaliação e, como se sabe, o mercado não perdoa erros. A partir daí, foi como se uma rajada de vento forte tivesse soprado contra o Garantia. Apesar de não ter sido a primeira aposta na qual o banco não saiu vitorioso, aquele fracasso do final de 1997 foi grande o suficiente para abalar a sua estrutura e também a confiança dos investidores. Além das perdas na operação, o banco começou a ver os recursos dos seus clientes migrarem com destino a outras instituições. A venda para o CSFB foi inevitável.
A fama dos seus executivos, entretanto, se manteve. Agora, aproveitando-se da estrutura de uma asset que existe desde 1993 e que basicamente operava com fundos de private equity voltados para o capital estrangeiro, alguns dos ex-sócios do Garantia estão buscando alavancar as atividades de administração de recursos de terceiros, basicamente voltados à modalidade de investimentos alternativos. Eles fazem questão de frisar que não há nada em comum entre o extinto banco Garantia e a asset GP Investimentos, a não ser alguns sócios em comum.
Entre os 13 sócios da GP Investimentos, quase todos vieram do Garantia, inclusive o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles. “Mas eles não fazem parte do bloco de controle, são apenas sócios investidores, sem atuação direta nos negócios”, afirma um dos sócios, o diretor Nelson Rozental.
São os seguintes os 13 sócios da GP Investimentos: Antônio Bonchristiano, Alexandre Behring, Carlos Alberto Sicupira, Carlos Medeiros, Fred Arthur Packard, Fersen Lambranho, Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Marcelo Peano, Nelson Rozental, Octavio Pereira Lopes, Rodrigo Campos e Roberto Thompson Motta. O bloco de controle, formado por sete sócios, será comandado pelos sócios Fersen Lambranho, Antônio Bonchristiano e Marcelo Peano.
Entre outras coisas, a asset GP Investimentos possui hoje o fundo de private equity GP Capital II, já em processo de desinvestimento mas ainda com participação de cerca de US$ 600 milhões em empresas como Telemar, Gafisa, Hopi Hary, IG e ALL (ferrovias), além de outros fundos de private equity, como o GP Tecnologia (R$ 50 milhões em novas empresas como Lupatech, Pollux, Geodex e Vex).
A asset também mantém dois fundos multicarteiras, o Petropolis (moderado) e o Petropolis Plus (mais agressivo). Até julho último, ambos eram fechados e voltados para a gestão dos recursos dos sócios e de algumas poucas empresas, mas desde então a asset resolveu ofertá-los ao mercado a partir de um tíquete de R$ 500 mil. Em três meses captaram R$ 280 milhões, basicamente vindos de seguradoras e family-offices. O primeiro, que já está com R$ 400 milhões, sugere dar 130% do CDI, enquanto o segundo, que já soma R$ 300 milhões, busca alcançar 150% do CDI. O objetivo é chegar a R$ 1 bilhão no Petrópolis e R$ 500 milhões no Petrópolis Plus.
Além disso, a GP Investimentos prepara-se para colocar no mercado um FIF com títulos de empresas privadas, indexados a IGPM e INPC. O objetivo desse fundo, que deve ser lançado nos próximos meses, são os institucionais, diz Rozental.
Segundo ele, a GP Investimentos administra recursos da ordem de R$ 3,6 bilhões atualmente, incluindo os private equity e os fundos de investimento. Sua meta é dobrar esse volume até o final de 2004, a partir de novos produtos alternativos (entre eles três fundos de recebíveis – ver quadro). “Acreditamos que teremos produtos adequados ao mercado, o que nos permitirá alcançar a nossa meta”, afirma Rozental.
Novos fundos com lastro na área imobiliária
A GP Investimentos criou, em julho último, a GP Investimentos Imobiliários para atuar nesse segmento. Os primeiros três lançamentos da empresa acontecem neste mês de novembro, sendo dois fundos de recebíveis com lastro imobiliário e características de renda fixa e um terceiro fundo voltado ao financiamento de incorporadores imobi-
liários e características de renda variável.
Para comandar a empresa foi contratado o executivo Luciano Lewandowski, que veio da área de produtos imobiliários da Rio Bravo. “Com a queda das taxas de juros, os investidores vão demandar produtos diferenciados que possam oferecer um retorno melhor”, explica Lewandowski. “Acreditamos que os fundos de recebíveis vão passar a ser muito demandados pelos grandes clientes, principalmente os institucionais”.
O primeiro fundo da GP Investimentos Imobiliários, o Aetatis 1, irá investir em prédios comerciais construídos sob medida para locação a grandes empresas. Com isso, o fundo tem a rentabilidade do aluguel e a garantia do prédio. “Vamos comprar a obra quando o incorporador mais precisa dos recursos e depois buscar uma securitização” explica Lewandowski.
A meta é captar R$ 200 milhões para o Aetatis 1. O fundo, fechado, terá um período de investimento de três anos sem prazo para desinvestimento. A expectativa é de um retorno de 15% ao ano mais IGPM. O fundo, que recebeu a classificação A- da Fitch Atlantic Rating, cobra taxa de administração de 2% mais performance de 20% sobre o que ultrapassar IGPM+10%.
O segundo fundo da GP Investimentos Imobiliários, o Aetatis 2, irá comprar recebíveis imobiliários de prédios residenciais, de vários incorporadores do mercado. A idéia é um fundo com risco pulverizado, com colateral de 15% dados pelos próprios incorporadores, abrangendo 5 vezes a impontualidade média da carteira de 60 dias e uma garantia para os 10 maiores devedores. O fundo não terá cotas sênior e ordinárias, todos entram nas mesmas condições e usufruem da rentabilidade total do fundo.
A expectativa é de uma rentabilidade entre 14% e 15% acima do IGPM. O fundo, que pretende captar R$ 200 milhões, terá três anos de investimento e dois anos de desinvestimento. A taxa de administração será de 1,6% ao ano mais performance de 20% sobre o que exceder IGPM+10,5% (desde que ultrapasse o CDI). O fundo, com investimento mínimo de R$ 250 mil, recebeu a classificação A da Fitch Atlantic Rating.
O terceiro fundo, o GP Fundo de Desenvolvimento, irá financiar incorporadores imobiliários do segmento residencial basicamente, para poder participar dos lucros dos empreendimentos. É uma espécie de private equity do setor imobiliário, explica Lewandowski. A expectativa de rentabilidade é de 25% mais IGPM.
O objetivo de captação do fundo situa-se entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões, com valor mínimo de aplicação de R$ 260 mil, prazo de investimento de três anos e dois anos para o desinvestimento. O fundo terá auditorias, compliance e três comitês, nos quais a presença dos aplicadores será maioria. “Nossa preocupação com a transparên-
cia do fundo é total”, diz Lewandowski.