Gestão diferenciada | Carteiras de renda variável e multimercados...

Barbosa, Liege e SavioliEdição 241

 

A Fundação Sabesp (Sabesprev) tem alcançado em 2012 rentabilidades em suas carteiras de renda variável e multimercados bem acima dos benchmarks. Enquanto o Ibovespa bateu 0,5% até agosto, a carteira de fundos de ações da fundação deu retorno de 7,4%. O resultado é ainda mais expressivo se considerar a baixa volatilidade de tal carteira, que está ancorada em fundos de dividendos, valor e crescimento. “É o melhor dos mundos, ficar acima dos índices com uma carteira de baixa volatilidade”, diz César Soares Barbosa, diretor de investimentos e previdência da Sabesprev.

O desempenho do segmento de multimercados da Sabesprev é ainda melhor – bateu 12,68% de janeiro até final de agosto deste ano – 211% do CDI. Somadas com as rentabilidades das demais carteiras, a rentabilidade global da Sabesprev atingiu 10,5% até final de agosto, contra uma meta atuarial de 7,5%. O resultado parcial praticamente garante a superação da meta atuarial em 2012, assim como tem ocorrido desde 2009. Mas afinal quais são os diferenciais do trabalho da área de investimentos da Sabesprev?

A explicação passa pelo processo de reestruturação de carteiras comandado pelo diretor de investimentos, César Barbosa, e de seu gerente, Fernando Savioli. Respondendo para a atual diretora-presidente Liege Oliveira Ayubi, que assumiu no final de 2010, a dupla de investimentos vem atuando junto há 6 anos. Savioli chegou em 2006, vindo da patrocinadora. O mais antigo é o diretor de investimentos que está na fundação desde 2000.

O que mais chama a atenção é a carteira de multimercados (ver gráfico). Enquanto a maioria dos fundos de pensão estava fugindo do segmento, depois da crise de 2008, a fundação mantinha a contramão da indústria. A partir de 2009, decidiu criar um FIC exclusivo (Fundo de Investimentos em Cotas) denominado Consolidador. “É um trabalho cirúrgico de garimpar os melhores fundos e gestores de multimercados”, diz o diretor de investimentos. A ideia é buscar os fundos multimercados mais agressivos e com as melhores perspectivas do segmento.

Não é por acaso que os fundos selecionados, atualmente 15 multimercados, são produtos de assets independentes. “Não temos nenhuma restrição aos gestores ligados a grandes instituições, porém, nossos critérios da política de investimentos têm levado à escolha de gestores mais especializados”, explica Fernando Savioli. Alguns exemplos são a Advis, BRZ, Icatu, Ibiúna, JGP, Kondor, Plural, Victoire, entre outros, que adotam estratégias também bastante diversificadas.

Não só os gestores são especializados, mas também há uma consultoria de investimentos que realiza um trabalho específico para a fundação neste segmento. A Sabesprev conta com a Aditus para acompanhar a gestão da carteira de multimercados. Para as demais carteiras da fundação, a consultoria é da Risk Office.

A segregação de consultorias aconteceu depois que um dos profissionais, Leonardo Bortoloto, se desligou da Risk Office, junto com outros consultores, para criar a Aditus no primeiro semestre de 2011. “Não são apenas os gestores que são especializados, mas também a consultoria com quem trabalhamos para a carteira de multimercados”, diz César Barbosa. Ele explica que é importante acompanhar o movimento de profissionais do mercado de gestão de recursos. “Em alguns casos, procuramos seguir o profissional quando muda de casa, ou abre uma nova asset”, diz.

Desempenho – Até o final de 2010, o desempenho do fundo Consolidador, apesar de ficar acima do benchmark, não empolgava. Durante um ano e meio, a carteira rendeu em média 105% do CDI. Mas houve períodos que o fundo ficou abaixo do CDI, como por exemplo, no primeiro semestre de 2011. Os resultados eram apresentados no comitê, e havia discussões se era adequado mantê-lo. “Era a única estratégia oportunista entre todas as carteiras. Vimos que valia a pena manter a estratégia”, diz Fernando Savioli.

Os resultados positivos começaram a aparecer com mais nitidez a partir do último trimestre do ano passado. Já em 2012, a rentabilidade do fundo deixou o benchmark (CDI) bem para trás. O FIC tem a melhor rentabilidade em 12 meses (170% do CDI ou 17,03%) da categoria de multimercados para institucionais, de acordo a um ranking de 20 FICs elaborado pela Aditus. Dentro da indústria como um todo, que analisa 440 FICs multimercados para clientes private e institucionais, o fundo da Sabesprev aparece na décima primeira posição.

A carteira de multimercados da Sabesprev representa cerca de 4% do patrimônio total. Não é um montante muito alto dentro de um patrimônio de R$ 1,8 bilhão, porém, é uma aposta para levar um ganho adicional. “Foi muito importante ter dado continuidade à carteira de multimercados. Se tivéssemos descontinuado, seria mais caro refazer o fundo agora ou no futuro”, diz Liege Oliveira Ayub, diretora-presidente. Outra vantagem de ter mantido a carteira, mesmo quando o segmento de multimercados andava de lado, foi a oportunidade de entrar em fundos que depois fecharam para captação.

Renda variável – A Sabesprev vem promovendo um processo de ampliação dos gestores de renda variável nos últimos dois anos e meio. Até início de 2010, a fundação mantinha apenas dois gestores para cuidar da carteira de ações. Atualmente, adota um desenho com fundos exclusivos com sete assets diferentes com mandatos de dividendos, valor e crescimento. “Buscamos uma descorrelação da nossa carteira de renda variável com os índices da bolsa. O objetivo foi reduzir a alta volatilidade através de uma gestão mais ativa e fundamentalista”, explica o diretor de investimentos.

O processo começou com a contratação de 4 novos gestores em maio de 2010. Outros dois gestores foram selecionados durante 2011, para cuidar de mandatos de ações de dividendos. E o processo de diversificação continuou até agora, com a seleção de um novo gestor em setembro de 2012, a Western, que vai cuidar de uma nova carteira de dividendos, que começa com R$ 30 milhões.

A opção pelos mandatos de dividendos tem relação com a busca de menor volatilidade para a renda variável. Outra orientação para reduzir a volatilidade é a baixa concentração em poucos papéis.