Fundos montados com ações de 2ª linha | Fundações transferem cart...

Edição 75

A necessidade de diversificar ativos e obter melhores resultados de rentabilidade está levando os fundos de pensão a procurar gestores especializados em agregar valor e liquidez a ações de segunda e terceira linha, uma atividade que ficou conhecida como governança corporativa. “Os fundos de pensão hoje estão buscando maior transparência e rentabilidade às suas aplicações. O interesse por otimizar a carteira de ações de segunda e terceira linha, procurando sair de algumas posições desconfortáveis a preços melhores, transcende a visão de cenários para as bolsas”, opina Maurício Gentil, diretor comercial do Opportunity.
O caso mais recente é o da Funcef (Caixa Econômica Federal), que até o fechamento dessa edição estava em meio a um processo de seleção de administradores para uma carteira de 20 ações de segunda e terceira linha equivalente a R$ 100 milhões. O objetivo da entidade é escolher três entre seis candidatos ao mandato. “Estamos fazendo um estudo detalhado para ver se as taxas de administração propostas pelos gestores será compensada pelo valor que eles pretendem alcançar em cada papel”, informa o diretor financeiro da entidade, Luiz Cazetta.
No final de 99, a Fundação Cesp (elétricas paulistas) realizou algo semelhante, com 16 ações de baixa liquidez equivalente a cerca de R$ 70 milhões. Foram escolhidos três gestores – Icatu, Dynamo e Investidor Profissional – para carteiras administradas, e integralizadas cotas dos fundos da Bradesco Templeton e Fator. “Cada gestor ficou com 2 ou 3 papéis. Nosso objetivo foi garantir que esses papéis tivessem uma dedicação que não tinham dentro de casa, porque não eram muito significativos na nossa carteira”, diz o diretor financeiro da Fundação Cesp, Martin Globowsky.
Esse tipo de fundo começou a aparecer a partir de 1998, com o empurrão de uma legislação específica criada pela CVM, e do BNDESPar, que participa deles como cotista. Três administradores (Fator, Dynamo e Bradesco Templeton) foram habilitados para gerir fundos nesses moldes. Hoje, esses três fundos juntos têm patrimônio de quase R$ 1 bilhão. “As fundações perceberam que é mais vantajoso unir suas participações com as de outras num fundo de ações de baixa liquidez, porque isso dá maior poder de negociação dos minoritários com as empresas”, comenta Silvia Sandoval, administradora do fundo Sinergia, do banco Fator, o primeiro a ser lançado nos moldes da legislação da CVM, no início de 98. Atualmente, seu patrimônio é de cerca de R$ 180 milhões.
O maior desses fundos é o administrado pela Dynamo, hoje com R$ 513,8 milhões. O Dynamo Puma, como é chamado, está com a captação encerrada há cerca de 8 meses, porque atingiu bem antes do prazo previsto, que era fevereiro de 2.001, a meta de captar R$ 250 milhões. A diferença em relação ao saldo atual do fundo é resultado da sua valorização no período.
De acordo com o diretor da administradora, Bruno Rocha, vários investidores têm procurado a empresa nos últimos meses para fazer carteiras exclusivas com papéis de baixa liquidez, que representam pouco menos de R$ 200 milhões. “Temos tido uma demanda razoável de investidores querendo montar carteiras exclusivas, seja porque detêm papéis problemáticos ou porque acreditam no potencial de valorização de algum papel e não querem diluir os ganhos participando de um fundo aberto”, explica.
Um terceiro fundo de ações de baixa liquidez é o da Bradesco Templeton, que também está ampliando sua captação. Terminou o primeiro semestre de 99 com patrimônio de
R$ 115 milhões, e agora já conta com R$ 223 milhões.

Novos – Observando essa tendência, outros gestores que não participavam desse mercado, como Opportunity e Pactual, decidiram fazê-lo esse ano. Embora o estoque de ações de baixa liquidez nas carteiras dos fundos de pensão não seja tão expressivo em relação ao seu total de ativos, sua administração é atraente porque permite uma remuneração mais alta que a média de outros fundos.
As taxas fixas desse tipo de produto variam de 0,75% a 2,0%, mais performances entre 15% a 25% sobre o que exceder indexadores como INPC ou IGP-M. Nas aplicações tradicionais em ações, é comum encontrar-se taxas médias de 0,3%, sem performance, no caso de fundos passivos. “Certamente, o segmento de governança corporativa é mais rentável para os gestores”, diz Marcelo Serfaty, sócio-diretor do banco Pactual.
Em termos de custos, este tipo de gestão também apresenta vantagens porque parte dos gastos é bancado pelas próprias empresas que possuem papéis sob administração destes fundos e carteiras. Por exemplo, os custos da contratação de conselheiros para representar os cotistas do fundo é de responsabilidade da empresa.

Aumento do interesse – Os gestores acreditam, ainda, que o interesse das fundações poderá ir além de apenas desovar o estoque de ações de baixa liquidez. Para eles, fatores como fechamento de capital de grandes empresas, como o caso da Telefónica, aliado à necessidade de diversificar investimentos, vai tornar esses fundos muito atraentes daqui em diante. “É possível que outras empresas estrangeiras, que compraram companhias brasileiras, optem pela estratégia de fechar o capital das controladas brasileiras para valorizar as ações das matrizes”, analisa Paulo Vasconcellos, diretor de pesquisa da Bradesco Templeton. Ele explica que isso dará espaço para que boas empresas nacionais, hoje sub-avaliadas, ganhem espaço entre os investidores, e outras procurem financiar-se abrindo o capital.
Um dos entraves, porém, para o surgimento de novas aberturas de capital continua sendo a falta de proteção dos acionistas minoritários na legislação brasileira. “A mudança na legislação já levaria a uma maior movimentação desses papéis”, arrisca Francisco Correa, sócio-diretor da Investidor Profissional.
Outro problema são algumas práticas inadequadas adotadas pelas próprias empresas, que afastam os investidores. “Muitas vezes, as empresas falham na divulgação correta das informações, o que requer critérios aceitáveis de prazo e de apresentação. Existe a falta de cultura do mercado para colocar a maximização do retorno dos acionistas acima de outros interesses”, complementa Vasconcellos, da Bradesco Templeton.
Ele cita uma pesquisa feita nos Estados Unidos pela consultoria McKinsey junto a investidores institucionais, mostrando que estes pagariam um prêmio de 11% pela ação de uma empresa com boas práticas de governança.
Para Marcelo Serfaty, do Pactual, a gestão de governança corporativa deve apresentar outras oportunidades de negócios. Um deles seria representar acionistas majoritários, que poderiam transferir seu direito de voto na empresa a um gestor especializado.
“Teremos grandes movimentos de reestruturação de participações acionárias, porque na época das privatizações se formaram grupos de controle muito mais para aproveitar uma oportunidade de negócios do que por participação estratégica. Hoje, muitas empresas têm de se concentrar em seu core business e devem se desfazer de suas posições”, explica.
“Também os fundos de pensão entraram para aproveitar uma oportunidade, diz Serfaty, mas hoje alguns setores que já estão maduros, como por exemplo, o setor elétrico, já não faz mais sentido para eles continuarem com essa participação” diz.