Fundos de pensão mandam Tito ao espaço | O primeiro turista espac...

Edição 100

Dennis Tito foi o primeiro turista a realizar uma viagem espacial, no último mês de abril. Enquanto olhava pela janela da Estação Espacial Internacional, poderia estar pensando que foram os executivos de fundos de pensão e outros investidores institucionais que o ajudaram a vivenciar seu sonho – especialmente aqueles que foram seus primeiros clientes e adeptos dos produtos de sua empresa de consultoria, a Wilshire Associates, na Califórnia. Entre eles estavam os executivos de previdência da Allis Chalmers, New York Telephone e Illinois Bell Telephone, e ainda da Endowment Management & Research, que foi a primeira cliente dos produtos de análise de portfólio da Wilshire.
Certamente, a aventura de Tito é também resultado de sua própria fascinação com o espaço e sua disposição para bons negócios. Essa disposição ficou evidente quando comprou a empresa que mais tarde se tornaria a Wilshire Associates. Em 1975, Tito era um dos parceiros da O’Brien Associates, juntamente com os pioneiros do mercado de Previdência dos Estados Unidos, incluindo John O’Brien, Richard Ennis e Gil Beebower. Mas foi depois da abolição das comissões fixas na Bolsa de Valores de Nova York, em maio daquele ano, que muitos executivos da área previdenciária – incluindo alguns de seus parceiros – acreditaram que as consultorias baseadas em pagamento comissionado desapareceriam.
Mas Tito não concordou e apostou que estava certo. Com sua esposa, Suzanne, ele comprou a O’Brien Associates e a renomeou Wilshire Associates. Ele arriscou, na certeza de que os dirigentes de fundos de pensão iriam encontrar um caminho para pagar pelos produtos e serviços dos quais precisariam.
Ele estava correto e, por desenvolver tecnologias de investimentos para fundos e outros investidores institucionais, alavancou sua empresa e a própria fortuna. Tem hoje, sob sua administração, US$ 3,2 bilhões, além de prestar consultoria para outros bilhões a mais.
Fascinado pelo espaço desde seus dez anos de idade, Tito, um engenheiro aeroespacial, planejava uma viagem espacial desde 1991. Sua ótima situação financeira, aliada à necessidade da Rússia de ganhar um dinheiro adicional para seu programa espacial, abriu a oportunidade para executar seu sonho. Contrariando as advertências da Nasa, a agência aeroespacial americana, ele comprou um assento por US$ 20 milhões no foguete russo Russian Soyuz. Embora indiretamente, os fundos de pensão clientes da Wilshire Associates ajudaram Tito a pagar o custo de sua aventura.

Habilidades – Devido à sua formação aeroespacial, Tito desenvolveu habilidades analíticas e matemáticas que eram requeridas para poder se juntar ao Laboratório de Propulsão a Jato (LPJ) da Nasa, na Califórnia, no início da década de 60. Mais tarde, Tito aplicou este mesmo método para desenvolver ferramentas quantitativas para administradores de capital e fundos de pensão, como o modelo de asset-liability management (ALM). E foram os otimizadores de portfólio que fizeram da Wilshire uma das consultorias mais procuradas.
Mas, em 1968, temendo um menor engajamento do país no programa de exploração espacial após a chegada do homem à lua, Tito deixou o programa da Nasa e se dedicou a um doutorado no programa de finanças na Universidade da Califórnia. Logo depois, começou a prestar consultoria na Oliphant Co., uma empresa de corretagem.
Em 1972, muitos empregados da Oliphant – incluindo Tito, O’Brien, Ennis e Beebower – deixaram a empresa para formar a O’Brien Associates, que mais tarde viria a ser a Wilshire.
O treino que possibilitou a jornada de Tito começou há cerca de um ano, disse Stephen Nesbitt, diretor administrativo sênior da Wilshire. Tito esteve na Rússia na maior parte da segunda metade de 2000 e, neste ano, até a data marcada para o lançamento. Mas a constante ausência do líder não causou problemas para a consultoria, disse Nesbitt. “Surpreendentemente, ele está mais disponível agora. Nós todos sabemos onde ele está.” Mas a viagem de Tito à Rússia não inclui visitas a clientes e outros compromissos relacionados ao negócio, como seria nos Estados Unidos.

Preparo – Os executivos da Wilshire mantiveram contato com Tito via telefone celular. Também, “ele tem uma ótima conexão à Internet”, brincou Nesbitt. E, com 14 horas de fuso horário à frente, Tito estava quase concluindo suas atividades diárias antes mesmo de seus empregados saírem para trabalhar, pela manhã.
“Tinha certeza que ele estava preparado para isto”, disse Dale Stevens, presidente da empresa de consultoria Malibu. Stevens foi um funcionário da Wilshire de 1977 até 1990. “Dennis é uma das pessoas mais determinadas que já encontrei”, concluiu.