Edição 250
Embora o investimento no exte rior se desenhe como a próxima importante janela de oportunidade para os fundos de pensão do Brasil, ainda não se trata de uma alternativa imediata para reverter os fracos resultados das carteiras em 2013. Como o cenário adverso do mercado não irá esperar que os fundos descubram todas as vantagens e dificuldades dessa ida para o exterior, os diretores já tem se movimentado para minimizar as perdas causadas pela derrocada da renda variável e pela marcação a mercado na renda fixa registrada no primeiro semestre do ano.
Com uma meta atuarial de IPCA mais 5,25%, que não deve ser batida, a fundação de previdência complementar da Celesc, além do investimento no exterior, já visa uma gestão mais ativa de sua renda fixa. A Celos tem parte relevante de seu portfólio aplicado nas NTN-Cs, indexadas ao IGP-M. Este índice tem ficado abaixo do IPCA, que, por sua vez, é quem baliza a meta atuarial da fundação.
“Queremos ser mais ativos na gestão com títulos públicos para neutralizar este descasamento de indexador e o efeito da marcação a mercado ocorrido nos nossos papéis”, pontua João Francisco Schuch Bastos, da divisão de gestão de investimentos da fundação. A tendência é a de que a Celos se desfaça de parte de suas NTN-Cs, para realocar em suas co-irmãs NTN-Bs atreladas ao IPCA.
A Funcef também aproveitou a abertura das taxas de juros, e nos últimos leilões embolsou quase R$ 1 bilhão nas Nota do Tesouro atreladas à inflação oficial do país. “Está um ano muito difícil tanto na renda fixa quanto na variável, o que torna desafiador a estratégia de recursos. Mas como não olhamos apenas no curto prazo, estamos buscando janelas mais longas, de três a quatro anos. Nos últimos cinco anos temos diversificado a carteira para diminuir a correlação com o Ibovespa”, fala Maurício Marcellini, diretor de investimentos da Funcef.
O mesmo tem ocorrido com a estratégia adotada pela Celos na renda variável. “Há tempos focamos em fundos descorrelacionados ao Ibovespa. Acreditamos ser mais vantajoso no longo prazo, e devemos ampliar esta posição no segundo semestre”, afirma Bastos, da Celos.
A questão de um olhar de mais longo prazo também é reforçada por Maurício Wanderley, diretor de Investimentos e Finanças da Valia. Para ele, mudanças precipitadas por conta de um curto prazo pouco animador não são a melhor saída para os fundos de pensão. “Não espero que o mercado sempre dê retorno positivo. Temos que manter o foco no longo prazo. Obviamente resultados de curto prazo podem acontecer, como foi em 2008”, fala Wanderley. “Só nos preocuparia se fosse sistemática essa performance ruim”.
A Valia, inclusive, tem trabalhado para aproveitar as baixas do mercado para adquirir algumas pechinchas que surgiram, principalmente no segmento de private equity, que hoje representa cerca de 8% do portfólio da casa, e deve chegar aos 10% até dezembro. “Vamos aproveitar as oportunidades de compra de curto prazo que venham ao encontro com nossa política de longo prazo”, explica o diretor.
Fundos multissetoriais, que atuam nos segmentos de infraestrutura, e no de óleo e gás, são algumas das apostas de private equity que devem ser feitas pela fundação no decorrer do segundo semestre.
No caso da Fachesf, em conversas recentes com gestores, o diretor financeiro da fundação, Luiz Ricardo da Câmara Lima, recebeu o conselho, de consultores que não vislumbram alternativas para o curto prazo, de manter de 25% a até 30% de seu caixa livra para possíveis aplicações que ainda se mostrarão vantajosas, mas que hoje não aparecem no radar. “Ninguém imagina deixar 30% parado, mas talvez eles tenham razão no momento atual. Em termos de Bolsa está uma loucura”, afirma Lima. “Quem está comprado espera, e quem está vendido não sabe se baixa mais ainda”.
A meta atuarial da Fachesf para 2013, de IGP-M mais 6%, certamente não será alcançada, uma vez que, até junho, o rendimento estava negativo ao redor dos 8%. O fraco desempenho está atrelado ao movimento de elevação da taxa básica de juros, a Selic, que penalizou os títulos públicos da fundação, todos eles marcados a mercado.
“Do mesmo jeito que no ano passado tivemos uma alta de 29% na rentabilidade por conta da marcação a mercado e a queda dos juros futuros, agora estamos na contramão, só que em uma velocidade maior do que esperávamos”, pontua o diretor financeiro. Para reduzir as perdas, Lima já deu início às compras das NTN-Bs, que são hoje as meninas dos olhos dos agentes de mercado, que aproveitam o ciclo de aperto monetário para garantir taxas em ascensão.
Em suas últimas compras, a Fachesf conseguiu esse tipo de título com taxas de retorno na casa dos 5,33% mais IPCA, no caso daqueles com vencimento mais longo, em 2045 e 2050. Com a expectativa de que a Selic ainda deva subir mais, Lima tem mantido parte do caixa resguardado para compras adicionais em um futuro próximo. “Vamos comprando aos poucos para pegar uma média boa”, explica.
Estruturados – Além da renda fixa, um produto na carteira da Fachesf que irá contrabalançar as perdas recentes, destaca o diretor financeiro, é o fundo estruturado da Rio Bravo que aplica em empresas emergentes do Nordeste brasileiro, mas que deve ter o desinvestimento realizado apenas em 2015.
Com aplicações da ordem de R$ 20 milhões no Rio Bravo Nordeste II, a expectativa é de um retorno, mais IPCA, no patamar dos 15%. “É a jóia da coroa do fundo”, brinca Lima. Com seis fundos de pensão em um total de onze cotistas no Rio Bravo Nordeste II, o sucessor desse, o Rio Bravo Nordeste III, tende a atrair outras fundações entre os seus integrantes.
A gestora aproveitou processo aberto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), no qual foi selecionada, para acelerar a continuidade de suas operações na região Nordeste do Brasil, explica Luiz Medeiros, diretor de private equity da Rio Bravo.
“Se por um lado a curva ‘jota’ atrapalha a fundação durante o período de investimento, por outro lado, esses fundos não são marcados a mercado, e ficam menos suscetíveis as variações como estamos vivendo neste momento”, afirma Medeiros.
A maioria das empresas emergentes do Nordeste que formam o segundo fundo da Rio Bravo nesse segmento são do setor de “infraestrutura light”, e o terceiro fundo deve seguir na mesma toada. Tratam-se de companhias fornecedoras para as obras, como as que atuam com locação de equipamentos de construção e venda de matérias-primas para grandes estruturas.
Entre as empresas do Rio Bravo Nordeste II estão a Trevo Drywall, única brasileira a trabalhar com esse tipo de parede, mais leve que a tradicional, que permite a redução do peso e volume da estrutura, e a Estaf Equipamentos, locadora de instrumentos de elevação de pessoas para a construção civil.
Para o terceiro fundo da família, que deve estar funcionando até o último trimestre do ano, a expectativa é de uma captação entre R$ 300 milhões e R$ 450 milhões, sendo que metade será aportado pelos bancos de fomento.
Ainda que a região Nordeste represente somente 3,5% do PIB do país, de 2007 a 2010, do total dos investimentos produtivos realizados no período, 27,5% foram para lá. Além disso, cerca de 20% dos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também foram para o Nordeste no triênio. Tais números encorajam a Rio Bravo em sua busca por empresas que representem novas apostas na infraestrutura e logística da região.