Fundiágua busca gestão externa | Fundo de pensão quer 95% dos ati...

Edição 348

A Fundiágua, fundo de pensão dos funcionários da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), finaliza a reestruturação da sua carteira de investimento de R$ 962 milhões a fim de iniciar o próximo ano com a quase totalidade dos ativos administrada por gestores externos.
A nova composição contempla a constituição de fundos exclusivos para a carteira de renda fixa e fundos de fundos para outras cinco classe de ativos – renda variável, investimento no exterior, fundo imobiliário, crédito privado e multimercado estruturado – a serem licitados entre gestores especializados. Serão colocados nessas duas estruturas cerca de 95% da carteira total da fundação, algo como R$ 910 milhões.
Para alcançar esse objetivo, até dezembro a entidade cumprirá um amplo cronograma de compromissos, abrangendo a seleção e a contratação de administrador, custodiante e gestores externos para a constituição dos fundos exclusivos e fundos de fundos.
Ao falar sobre os motivos das ações que vem sendo adotadas, o diretor financeiro da Fundiágua, Rodrigo Souza, salienta que a finalidade é profissionalizar a entidade e levar a expertise do mercado para dentro da fundação. “Vamos otimizar a gestão da nossa carteira. Somos uma equipe pequena e ter especialistas para cada segmento acaba sendo complicado, então essa reestruturação é um grande movimento que estamos fazendo para trazer a Fundiágua para os mesmos patamares de rentabilidade de outras entidades que são referência”, explica.
Ainda de acordo com Souza, com esse movimento a fundação passará a ter acesso a novos fundos e produtos de investimentos atualmente não disponíveis no seu cardápio, principalmente quando se trata de investimentos no exterior e crédito privado.

Em julho a fundação deu início a um processo de seleção para a escolha de administradores e custodiantes para seus ativos, que envolveu as dez maiores casas do mercado. A partir deste mês de agosto começaram a ser pedidas propostas para essas casas, as quais serão submetidas posteriormente aos órgãos colegiados da fundação.
Paralelamente, até o final de setembro, a Fundiágua pretende definir três ou quatro gestores para a criação dos fundos exclusivos de renda fixa. Na sequência, mais perto do fim do ano, deve iniciar o processo de seleção de gestores externos para os fundos de fundos, um segmento que demanda maior expertise setorial.
Simultaneamente aos procedimentos para a constituição de fundos de fundos e fundos exclusivos, a Fundiágua trabalha para se desfazer da parcela da sua carteira formada por ativos ilíquidos. Nas últimas semanas, sete termos de confidencialidade foram firmados entre a entidade e bancos, gestores de investimento e assessores especializados em ativos estressados para uma avaliação mais precisa dos seus ativos ilíquidos, que abrangem desde imóveis até fundo de investimento em participações (Fips) e créditos privados estressados.
Souza espera que a operação de venda desses ativos gere liquidez para a fundação e contribua para melhorar os resultados dos planos da entidade. “Esse movimento de venda dos ativos ilíquidos é muito importante para a Fundiágua”, diz. “É um movimento que já foi feito antes por grandes fundações como Petros, Previ e Postalis, e estamos no mesmo processo.”

Outra vertente do processo de reestruturação tem sido a redução dos investimentos em renda variável como forma de gerar caixa para investir em títulos públicos federais. Entre janeiro e junho deste ano, a parcela da carteira aplicada em ações foi cortada praticamente à metade, passando de cerca de 13% da carteira de investimentos para menos de 7%.
“Os recursos resgatados da renda variável foram, nos casos dos Planos I e II, utilizados para a compra de títulos públicos federais e, no Plano III, alocados em fundos DI exatamente para aproveitarmos a alta da Selic que temos observado”, expõe o diretor financeiro.
No restante desse ano a diretoria financeira vai avaliar qual o percentual adequado para manter na renda variável, em virtude das eleições brasileiras que devem trazer maior volatilidade ao mercado de capitais e também da análise do cenário externo, marcado por temores em relação à inflação global e risco de recessão nos Estados Unidos.
“Vamos estudar qual é a parcela ideal para mantermos em renda variável, poderemos manter a posição como está ou mudarmos, dependendo do que observarmos no cenário interno, externo e no contexto das eleições”, explica Souza.

A reestruturação das carteiras rumo à gestores externos especializados visa eliminar ineficiência e melhorar a performance dos investimentos, de forma a bater de forma recorrente a meta atuarial ou o índice de referência dos planos.
A fundação tem três planos, o Plano I (BD), o Plano II (Saldado) e Plano III (Misto), esse último estruturado na modalidade de contribuição definida. No primeiro semestre deste ano, a rentabilidade do Plano I foi de 6,37%, frente a uma meta atuarial de INPC + 4,34% (9,95%). Já a rentabilidade dos planos II e III ficou em 5,32% e 2,91%, respectivamente, para taxas referenciais de INPC + 4,84% (10,45%) e de INPC + 3,72% (9,33%).
A situação mais difícil é a do Plano II, que já passou por quatro equacionamentos e segue no vermelho, porém abaixo de 6,77% (posição de maio deste ano), teto para o qual o órgão regulador determinaria novos equacionamentos. “Estamos trabalhando arduamente para não gerar novos déficits e buscando superávits recorrentes”, comenta o diretor financeiro.
Além da busca de performance nos investimentos, a entidade enfrenta uma realidade de taxas altas de inflação, o que dificulta alcançar suas metas atuariais e de referência. “Tivemos um índice inflacionário muito alto de janeiro a junho deste ano, há a expectativa de que os indicadores de julho e agosto provavelmente mostrem inflação menor, mas a meta está ficando difícil de ser alcançada”, diz o gerente de investimentos, Leonardo Galluzzi Sansivieri. “A verdade é que o resultado das nossas carteiras de investimento não têm avançado no mesmo ritmo das nossas metas atuariais e índice de referência, que são indexados ao INPC.”

A reestruturação da carteira de investimentos da Fundiágua começou em meados do ano passado, inicialmente com medidas classificadas como emergenciais que abrangeram mudanças na equipe de investimentos, contratação de um analista especializado em ativos ilíquidos e maior apuro na análise do risco-retorno dos fundos. A partir dessa análise, 16 fundos de investimento foram cortados e deixaram de fazer parte da carteira da entidade.
Na sequência desse processo, no fim do ano passado foram adquiridos R$ 102 milhões em títulos públicos federais para os Planos I e II, basicamente NTN-B que serão carregados até o vencimento, funcionando como uma imunização para os passivos futuros dos dois planos. “Compramos as NTN-Bs quando as taxas abriram, compramos e marcamos na curva”, explica Souza.
Somando as operações do final do ano passado com as compras deste ano, os títulos públicos federais atingiram R$ 167 milhões. “Ampliamos a participação dos títulos públicos tanto no Plano I quanto no Plano II”, diz Souza.
Os resultados do plano II, por ter mais ativos ilíquidos como FIPs e crédito estressado, têm sido piores que os do Plano I. A expectativa é que, com a reestruturação da gestão e a venda dos ativos ilíquidos, a performance do Plano II alcance a do Plano I.