Fundações médias no exterior | Fundos de pensão como o Metrus (Me...

Fábio Mazzeo, do MetrusFrancisco Artur Moacyr, da FaelbaEdição 260

 

Buscando a diversificação de seus investimentos, os fundos de pensão médios começam a se movimentar em direção a investimentos no exterior. Entre as entidades que fizeram suas primeiras aplicações está o fundo de pensão do Metrô de São Paulo, o Metrus, que aplicou R$ 8 milhões em um fundo global da Schroders, que conta com a parceria com um fundo local da BB DTVM, e mais R$ 5 milhões em um fundo offshore da asset M Square Investimentos. Outro fundo de pensão que estreou em aplicações no exterior foi a Faelba, dos funcionários da Coelba – Companhia de Elétrica da Bahia.

Com uma carteira total de investimentos de R$ 1,42 bilhão, segundo dados da Abrapp referentes a setembro de 2013, a política de investimentos do Metrus prevê um limite máximo de 2% para aplicações no exterior para 2014. “Pretendemos atingir o limite previsto em nossa política até o final do ano. Para isso, estamos estudando a aplicação de recursos em outros fundos no exterior”, explica Fábio Mazzeo, diretor presidente do Metrus. Mazzeo diz ainda que a ideia era começar esses investimentos já no ano passado, mas o mercado ainda não oferecia produtos adequados à legislação dos fundos de pensão, que exige a entrada de pelo menos quatro entidades para viabilizar o fundo.
O executivo destaca que os investimentos em ações no exterior têm uma baixa correlação com a bolsa doméstica e são importantes para aumentar a diversificação da carteira de renda variável. “Os gestores selecionados têm capacitação para selecionar as ações das empresas com melhores perspectivas de valorização em mercados desenvolvidos”, aposta Mazzeo. “Acreditamos que será possível alcançar maior alfa com os investimentos no exterior. Percebemos boas oportunidades em mercados como a Europa, que está se recuperando”, diz.
No caso da Schroders, a asset está oferecendo aplicações em um fundo baseado em Londres, chamado Global Equity Alpha. Trata-se de um fundo global de ações, em operação desde 2004 e que, segundo Fernando Cortez, diretor de vendas da asset, possui uma análise fundamentalista e uma carteira concentrada, com cerca de 40 a 60 papéis. “É um fundo com viés de crescimento, com ações que buscam perspectiva de growth no longo prazo”, destaca Cortez. O fundo é acessado através de um fundo local gerido pela BB DTVM.
O executivo destaca que muitos fundos de pensão, além do Metrus, estão interessados no produto da asset. Ele estima que deve receber investimentos de mais de dez fundações até o fim deste ano. “Grande parte das fundações iniciou o processo de diversificação de renda variável local. O próximo passo é a diversificação internacional”, explica Cortez. “O mercado global é pequeno e, ao se investir lá fora, há chances de realizar aplicações em grandes companhias que não operam no Brasil”.
O executivo destaca que há uma boa oportunidade de entrar em setores que não têm forte presença local, como biotecnologia, área farmacêutica, tecnologia, entre outros. “As fundações estão procurando diversificação e potencial de crescimento, e querem ser sócias de empresas com grande capacidade de geração de lucro no longo prazo”.
Diversificação – Aproveitando essa oportunidade e também seguindo o objetivo de diversificar sua carteira de investimentos, a Fundação Coelba de Previdência Complementar (Faelba), fundo de pensão da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), investiu cerca de R$ 4 milhões em dois fundos no exterior. Um gerido pela BlackRock, por meio do Banco do Brasil, e outro do HSBC, e estuda a entrada em um terceiro fundo, ainda não selecionado. “Para fazer a seleção, elegemos em primeiro lugar renda variável. Depois, elencamos os mercados mais importantes e excluímos o mercado de emergentes, pois já atuamos no Brasil, e os fronteiriços também, pois o risco é maior”, explica Francisco Artur Moacyr, diretor administrativo financeiro da Faelba. “Ficamos focados no mercado desenvolvido global e nos Estados Unidos”.
A Faelba conta com uma consultoria para definir a entrada nos três mercados. “Fizemos a análise do câmbio também e analisamos o melhor momento para realizar os aportes, com o câmbio a R$ 2,20”, diz Moacyr. O executivo explica que esses primeiros investimentos são um aprendizado, por isso optaram por investir um valor baixo nos fundos no exterior e manter sua diversificação em outros tipos de fundos. “Temos menos de 1% de nosso patrimônio, que totaliza R$ 1,5 bilhão, em fundos de investimento em participações (Fips), e não pretendemos aplicar mais por enquanto. Nossa prioridade é monitorar o desempenho dos investimentos no exterior e tentamos ver se conseguimos ver se fazemos algo em multimercados estruturados”.
Moacyr destaca que os Fips também são uma boa opção para o processo de diversificação dos investimentos, pois é um investimento na economia real, produtiva, que ajuda uma empresa a ter condição melhor para implementar a própria tese de investimento. Mas o ônus vem do lado da fase de investimento e o retorno do investimento. “Na fase de investimento tem a curva J, já que até investir o valor total e a empresa gerar fluxo de caixa, amargamos às vezes uma rentabilidade negativa, o que é normal nesse tipo de investimento. Hoje educamos o participante pra entender esse tipo de investimento”, explica Moacyr. Atualmente a fundação aplica em um fundo da Rio Bravo Investimentos e um da Lacan.
Já no lado de multimercados, a Faelba trabalha com três fundos, sendo dois long short e um macro. “Escolhemos duas estratégias, para não concentrar os investimentos, que iniciamos em setembro do ano passado. Estamos vendo o histórico desses fundos para ver se vamos continuar ou se vamos eleger outro fundo”, ressalta Moacyr, que espera ter mais um fundo multimercado estruturado em breve. “Estamos no processo de seleção desse novo fundo para aportar mais um pouco de recurso nesse segmento”.
Mercados – No caso da BlackRock, a asset está oferecendo aos fundos de pensão brasileiros o Global Equity Income, que tem o foco em ações de empresas de alta qualidade que tendem a aumentar a distribuição de dividendos ao longo do tempo. “Este tipo de ações tende a apresentar muito menos volatilidade que o restante do mercado. O portfólio deste fundo é mais conservador”, destaca Timothy Baker, diretor e especialista de produtos da BlackRock, enfatizando também a vantagem da diversificação, já que esse tipo de fundo possui uma correlação muito baixa com as ações da bolsa doméstica.
Em termos de mercado, na opinião de Baker, a Europa apresenta boas oportunidades frente aos Estados Unidos, já que as ações americanas ficaram caras em comparação com as de outros mercados. “Nós achamos que a Europa apresenta agora um melhor ‘valuation’ que os EUA”, opina Baker. “Isso não quer dizer que as empresas americanas não sejam atraentes, pois também avaliamos o prêmio pago pelas empresas de alta qualidade e que tem um fluxo de caixa previsível. Mas claro que esse prêmio tem um limite”.
O executivo ressalta que a BlackRock possui, atualmente, cerca de 40% da carteira com ações de empresas americanas e 43% de companhias europeias. “Mas o mais importante não é onde a companhia está localizada, e sim suas características. É mais importante olhar para os fundamentos da empresa, e não apenas para onde está sediada”, diz Baker.
Um dos exemplos citados pelo executivo é o da Anheuser-Bush Inbev, formada a partir da brasileira Ambev com a belga Interbrew. Posteriormente, comprou a Anheuser-Bush, fabricante da Budweiser. A companhia tem bons fundamentos de qualidade e distribuição de dividendos. “É uma companhia localizada na Europa, mas que tem menos de 10% do mercado lá fora. A empresa tem uma grande participação no mercado brasileiro. Se você olha para onde o negócio está localizado, é uma companhia muito mais brasileira do que europeia”, explica Baker. Este caso que demonstra, segundo o diretor da BlackRock, que é mais importante se atentar aos fundamentos da empresa e não apenas para sua localização.