Fundações começam a investir em papéis indexados ao IGP-M | Leilã...

Edição 69

Os títulos e operações indexados ao IGP-M, acrescidos de uma taxa de juros real, estão ganhando espaço nas carteiras das fundações. Até pouco tempo eles estavam ofuscados com as altas taxas de juros do governo, mas com a tendência declinante dessas taxas tornaram-se atraentes, uma vez que o passivo de boa parte dessas entidades está atrelada ao índice mais 6% ao ano. “Esses papéis são um bom hedge para a carteira das fundações”, opina o diretor de investimentos da Abrapp e da fundação Copel, Nelson Marquardt.
Num primeiro momento, o interesse desses investidores pelo índice foi aguçado pela inesperada elevação do IGP-M ocorrida a partir de julho, o que tornou-se mais nítido nos últimos dois meses. De acordo com especialistas, essa tendência explica em parte o aumento no volume de operações de swap envolvendo papéis atrelados a esse índice de preços. Só os contratos registrados na Cetip no período totalizaram em outubro R$ 64,123 milhões, e em novembro, R$ 82,467 milhões, contra uma média de R$ 11,5 milhões em agosto e setembro.
Embora existam controvérsias sobre a proibição das fundações operarem diretamente no mercado de swap, não há restrições quanto à colocá-los nas carteiras administradas por empresas de gestão de recursos. “A demanda dos institucionais por swap do índice cresceu, porque a inflação dos últimos meses assustou”, conta o diretor comercial do banco CCF, Gustavo Maés. “O problema é que falta estoque de papéis indexados a IGP-M no mercado”.
A procura dos fundos de pensão por ativos dessa natureza não deve ser um fenômeno passageiro, resultado apenas do aumento da inflação. O sucesso do leilão realizado no dia 1º de dezembro pelo Tesouro Nacional, de títulos com prazos de 3 e 7 anos, que pagarão IGP-M mais 12% ao ano e IGP-M mais 12,5%, respectivamente, mostra bem isso. A demanda por esses papéis, chamados NTN-Cs, foi equivalente a R$ 2,982 bilhões, três vezes maior do que o montante ofertado, de R$ 1 bilhão.
O resultado positivo levou o Tesouro a agendar um segundo leilão para o dia 27 de janeiro. De acordo com o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Isac Zagury, os principais demandantes foram fundos de previdência, cujos passivos seguem índices de preços. Levando-se em consideração, ainda, que esses fundos de previdência, no futuro, deverão investir indiretamente nesses mercados, quer via fundos de investimento, quer em operações de swap, pode-se concluir que o restante dos compradores está apostando no apetite desses investidores pelo papel daqui em diante, abrindo possibilidade de bons negócios ao gerar liquidez ao mercado secundário.
“Mesmo que a inflação ceda no ano que vem, faz sentido para as fundações que têm passivo atrelado a IGP-M ter aplicações indexadas ao índice. Com a queda das taxas de juros, cada vez mais será necessário procurar as melhores maneiras de casar o ativo com o passivo”, considera Zagury.
A entrada dos fundos de pensão fechados no mercado de ativos atrelados ao IGP-M deve ser gradual. “Nas conversas que eu tive com outras fundações, aqui de Minas, vi que elas estão fazendo como nós, olhando primeiro para ver como vai ficar o mercado secundário, quais serão as taxas, para depois tomar alguma decisão”, conta Ana Cristina Lamounier de Sá, gerente da fundação Aços (Açominas) e coordenadora da comissão de investimentos da Abrapp naquele estado.

Fundo do CCF garante meta atuarial
Já há gestores se preparando para atender à demanda por IGP-M via fundos que ofereçam o índice mais 6% como benchmark, espelhando o passivo das entidades, o que dá maior liquidez aos clientes. A CCF Brain é um deles. A empresa acaba de lançar o primeiro fundo do gênero, o FIF CCF Atuarial, que busca alcançar o benchmark num prazo entre 6 meses e um ano.
“Esse é um produto com perfil de médio e longo prazo, que é compatível com o perfil das fundações. Ele replica a estratégia das nossas carteiras, que sempre tiveram como objetivo atingir as metas atuariais”, informa Silvio Fleury, diretor da empresa, acrescentando que a composição do fundo terá também ações. A meta de captação é de R$ 50 milhões no primeiro semestre de 2.000.