Edição 351
Com três fundos de fundos exclusivos, criados em janeiro de 2020 para investir no exterior, a Fapes reduziu sua exposição aos mercados globais este ano mas estuda a possibilidade de estender o uso desse tipo de veículo para alocar também em ativos locais, visando as classes de renda variável e multimercados, sem abrir mão do seu protagonismo como alocadora. “Os nossos atuais Fofs foram mandatados para investir no exterior porque entendemos que era importante contar com outros parceiros e ter uma ferramenta que viria ampliar a nossa capacidade de acesso a novos mercados. Sua performance foi bastante positiva entre 2020 e 2021”, avalia Leonardo Mandelblatt, diretor de investimentos. Em 2002 esses fundos estão sofrendo por conta da performance dos mercados externos, com resultados aquém do esperado, mas as estratégias têm sido consideradas vencedoras mesmo nesse cenário, tanto pela rentabilidade obtida quanto pela perspectiva de otimização das carteiras.
A decisão da entidade foi por realizar parte dos ganhos obtidos com esses Fofs em 2021 para reduzir sua exposição internacional este ano, quando os mercados globais perdem espaço para as alternativas de alocação no mercado doméstico. “Chegamos a ter 10% dos ativos totais alocados nos Fofs de exterior, o que bateu no limite permitido pela legislação, mas estamos em fase de reavaliação diante da performance mais difícil no cenário externo e pela atratividade de outras classes. A participação já caiu para 8% dos ativos e poderá sofrer nova redução, movimento que vamos reponderar até o final do ano”, informa.
A fundação, cujas reservas totais somavam R$ 14,5 bilhões em setembro/2022, está em fase de elaboração de sua política de investimentos para 2023 e, no caso de exterior, a direção continua inalterada: a convicção é de manter esses investimentos, ainda que a calibragem indique no momento a necessidade de ter posições um pouco menores. Por conta disso, os movimentos táticos tendem a dar maior espaço para os ganhos com taxas longas no mercado doméstico do que para a alocação internacional. “A decisão de investir no exterior foi importante e nessa movimentação inicial os Fofs foram estruturados com mandatos amplos, multi-estratégias que abrangem diversas geografias e instrumentos (equities, bonds e alternativos), mas agora já temos maior conhecimento e na atual revisão talvez seja possível ter mais acessibilidade para escolher mercados e instrumentos”, lembra.
A redução da exposição reflete as dificuldades do cenário global assim como a mudança de patamar nas taxas de juros domésticas. A decisão de ir ao exterior ocorreu quando a Selic estava muito baixa e inclinava os fundos de pensão a buscarem instrumentos alternativos. “Hoje, os títulos soberanos que têm duration alinhado ao nosso passivo pagam taxas alinhadas às nossas metas, então começamos a reverter esse movimento, que deve perdurar enquanto o mercado lá fora mantiver essa perspectiva de incerteza e as taxas longas aqui forem atrativas”,diz.
Ao mesmo tempo, há estudos sobre a possibilidade de adotar o formato de Fofs também no mercado local, para explorar o potencial de ganho de escala e de eficiência sem abrir mão da atuação da própria entidade na seleção e no acompanhamento dos gestores. “Queremos manter o nosso protagonismo nesse processo, até pela capacidade que desenvolvemos internamente”, diz. A intenção é avaliar se essa estrutura, com a parceria de uma casa gestora grande, poderia trazer um ganho no diligenciamento externo para escolha dos gestores. Outra vantagem atraente seria contar com o acréscimo de uma camada externa de governança.
A premissa básica é a da alta competitividade dos custos nesse mercado. A partir desse ponto de partida, a questão é saber em que medida esse modelo poderia trazer um ganho efetivo de qualidade na seleção e acompanhamento dos gestores. “Hoje estamos confortáveis com a nossa estrutura própria de alocação em fundos locais e não queremos ter fundos de fundos em que seja preciso delegar esse trabalho de modo integral aos gestores externos mas sim buscar um diálogo com terceiros que possam contribuir”, afirma. Ele lembra que, se na alocação de exterior ainda não seria possível preterir os Fofs, no mercado local a fundação pode muito bem continuar sem eles pois já tem uma estrutura interna ótima de gestão, enxuta porém suficiente para desenvolver inteligência e fazer a seleção. “Mas isso não nos impede de buscar essa estrutura desde que haja custo interessante”, pondera. Caso seja aprovada a criação de fundos de fundos locais, eles passarão a concentrar os recursos totais alocados hoje nas classes de renda variável e multimercados, de respectivamente R$ 1,1 bilhão e R$ 500 milhões.
A flexibilidade das estratégias de alocação que os fundos de fundos garantem aos planos de benefícios é a principal vantagem da estrutura adotada pela Fundação Copel desde 2014, quando a entidade criou seu primeiro veículo desse tipo, um FIC montado para comprar cotas de fundos de ações. “Gostamos desse formato e hoje temos sete Fofs geridos pela própria fundação e que são utilizados para alocar em todas as classes de ativos, à exceção dos títulos públicos que estão marcados na curva, dos imóveis físicos e dos empréstimos aos participantes”, diz José Carlos Lakoski, diretor financeiro. A entidade reúne nesse conjunto de veículos cerca de 35% dos seus recursos totais, que somam patrimônio de R$ 14 bilhões.
Há um Fof para cada classe: renda fixa/crédito; multimercados; ações; fundos imobiliários; exterior e o mais recente, de fundos ilíquidos, além do plano instituído família, que é formatado como um fundo de fundo. “A estrutura não tem custo significativo e oferece uma flexibilidade absurda para os planos comprarem cotas dos fundos conforme o seu nível de risco”, explica. Os rebates ajudam a garantir essa vantagem porque praticamente zeram o custo de administração, que é feita pelo BTG e tem uma taxa de 0,03% por veículo.
A novidade mais recente foi a criação do veículo específico para reunir, em formato Fof, os investimentos da fundação em mercados ilíquidos e que abriga duas “caixinhas”: uma de fundos de private equity – que investe em cotas de fundos de gestoras como a Spectra, Kinea, Stratus e Vinci – e outra para fundos de investimento em participação (FIPs) de ativos reais, como florestais e de infraestrutura. A nova estrutura, que acaba de ser montada e está em fase de transferência de ativos, substitui o modelo anterior de alocação nessa classe, composto pors 18 FIPs que estavam “soltos”. O objetivo é reuni-los no formato Fof para explorar a vantagem da maior flexibilidade. Atualmente há R$ 680 milhões comprometidos em ilíquidos, sendo que pouco mais de R$ 400 milhões já foram aportados – R$ 261 milhões no segmento de private equity e R$ 150 milhões no de ativos reais e o restante virá em outros aportes. Em termos gerais, a carteira de FIPs já está consolidada na fundação e tem mostrado resultados relevantes nos últimos três anos, com fundos de private equity que rodam entre 15% e 45% nominais, enquanto os fundos de ativos reais têm trazido retornos de 10% a 15%.
O avanço da gestão própria ao longo do último ano envolveu um trabalho específico para montar um time qualificado, com a criação de uma política de remuneração específica para a área de investimento. Apesar disso, o time de gestão, acompanhamento, monitoramento de carteiras e prospecção, com dez pessoas, recentemente sofreu com a saída de profissionais que foram para casas gestoras, o que pode atrasar a prospecção de fundos, explica Lakoski. “Estamos trabalhando na retenção do time de investimentos, mas recentemente perdemos três profissionais, um deles do segmento de ilíquidos. Ao todo perdemos 30% da equipe, e estamos repondo essas pessoas, mas pode ser que a prospecção dos novos fundos seja um pouco mais demorada, até porque o segmento de ilíquidos é mais sensível a essa reposição”, diz. O movimento reflete a alta competitividade desse mercado, com a saída de profissionais que têm sido levados pelas gestoras independentes.
A preocupação na Visão Prev, que estreou em outubro de 2021 o formato de fundos de fundos exclusivos para alocar parte dos recursos de seus três planos de benefícios, era não perder a proximidade com os gestores com os quais investia, conta Gustavo de Castro Araujo, diretor de investimentos. Com R$ 7,2 bilhões em reservas, a fundação mantém sua gestão de investimentos 100% terceirizada e acompanhamento muito próximo dos gestores. “Somos um grande alocador, nosso plano CD fechado, o Visão Telefônica, é o segundo maior do mercado, e havia essa preocupação com um eventual distanciamento porque nos Fofs passaria a haver uma camada adicional entre nós e os gestores”, explica.
O processo de implementação durou dois anos, culminou com a contratação do Credit Suisse como parceiro e a segregação das carteiras permitiu fazer essa primeira experiência apenas com a parte satélite das carteiras, em multimercados locais. A parcela “core”, que inclui título em CDI ou inflação e renda variável, é considerada “a essência do negócio” e tem acompanhamento muito próximo.
“Nesse período de um ano conseguimos ganhar expertise em fundo de fundos e essa segregação das carteiras foi importante no início do processo. Além disso, foi essencial saber escolher o gestor do Fof porque, embora ele tenha mandato discricionário, nós aprovamos os nomes dos gestores que entram na carteira e temos poder de veto”, diz. O acompanhamento das cotas é diário, enquanto o dos gestores é mensal e há uma visão detalhada das carteiras que permite avaliar todas as posições. “Já fazíamos isso nos multimercados em que investíamos, mas esses fundos têm uma gestão mais ativa, a carteira tem veículos próprios de casas grandes e para nós não era assim tão fácil visualizar”, diz.
Os Fofs são vistos hoje pela fundação como uma alternativa interessante e há uma discussão sobre a possibilidade de aumentar essa exposição em multimercados. “O processo foi importante e ganhamos acesso a veículos específicos para trabalhar melhor nessa indústria. A gestão ativa permite visualizar os gestores que andaram melhor ou pior, conferir se as suas teses mudaram ou não, há uma visão melhor da carteira”, afirma. Entre os cinco perfis de investimento oferecidos nos planos da fundação, apenas dois podem incluir multimercados: o moderado e o agressivo. “Temos uma visão de mais longo prazo e fazemos alocação estratégica, então os multimercados complementam bem isso porque são oportunistas, têm diversificação maior de ativos e de horizontes, são fundos que podem estar comprados e vendidos, são um complemento relevante para a nossa carteira”, afirma.
Os ajustes feitos este ano pelos gestores foram felizes, com resultado positivo frente ao benchmark IHFA e exploraram bem a velocidade com que é possível entrar e sair dos fundos. Em 2022, parte expressiva da atribuição de performance veio da exposição ao risco nos mercados externos. “São R$ 170 milhões em multimercados e vemos alguns pontos especialmente positivos nesse alocador, que tem contratos com volumes que permitem negociar e repassar todo o rebate para nós”, afirma. A entidade paga uma taxa de performance sobre o retorno que superar o CDI mas, por outro lado, todo o rebate dos fundos investidos é devolvido integralmente pelo alocador, o que traz uma vantagem financeira também. “Pensamos em ampliar o uso de Fofs desde que encontremos os parceiros adequados para discutir, por exemplo, fundos de fundos de total return, mas ainda estamos avaliando se vale a pena contratar um Fof para isso ou começar em tamanho menor, aqui mesmo na casa”, diz.
Além disso, há interesse em usar o modelo para investir em ativos ilíquidos. Há apetite pelos bons programas de ilíquidos mas, como são prazos muito longos,de 10 a 15 anos, e os planos têm perfis, há o risco da migração de recursos entre eles. “Nesse caso seria melhor investir via Fofs para evitar concentração de carteiras e temos conversado sobre o assunto”, afirma.
Com três fundos exclusivos de gestão própria desde 2016, o Cibrius – Instituto Conab de Seguridade Social – adotou esse modelo em decorrência do processo de saldamento de um plano de Benefício Definido (BD) que apresentava déficit e passou por uma cisão. “Abrimos um plano novo, de Contribuição Definida (CD) e a melhor alternativa foi segregar os ativos em três fundos: um de renda fixa, um FIA e um estruturado (FIM)”, diz José Carlos Alves Grangeiro, diretor financeiro. Todos os planos de benefícios da entidade – três planos e o PGA – têm participação nos fundos exclusivos, de acordo com a segregação patrimonial feita em 2016. O fundo de renda fixa reúne toda a alocação da entidade nessa classe, incluindo cotas de fundos de renda fixa e grande parte dos títulos públicos, deixando apenas uma parte menor de títulos em carteira própria porque o plano BD saldado pode comprar título e mante-los marcados na curva.
A maior concentração de recursos está no fundo de renda fixa, uma vez que a gestão da entidade é mais conservadora. Há R$ 1,04 bilhão na carteira de renda fixa, R$ 145 milhões em multimercados e R$ 146 milhões no fundo de ações, somando R$ 1,3 bilhão. “Como alocadores, não pagamos taxa de gestão e os fundos têm performado bem. Temos uma equipe interna bem alinhada, uma estratégia assertiva e um processo de prospecção e seleção de gestores muito sofisticado que tem se mostrado eficiente”, afirma. O monitoramento inclui diligências com todos os gestores, renovadas anualmente por meio de métricas qualitativas e quantitativas, além da verificação de alinhamento à estratégia de investimentos da entidade. O processo de due diligence é constante e segue um calendário anual mas com monitoramento mensal para identificar eventuais mudanças bruscas nos gestores. Há inclusive um calendário de visitas pessoais aos gestores, que na pandemia foi substituído por visitas virtuais. Na seleção, a exigência é de que os gestores tenham pelo menos 36 meses de observação, período que pode ser ampliado para 60 meses a depender da estratégia. “A rotatividade às vezes atrapalha muito a performance dos fundos, então verificamos a governança e os motivos para qualquer giro na equipe, mas isso não tem sido um problema frequente”, observa.
Com ativos totais de R$ 2,3 bilhões, o Cibrius investe também em dois fundos abertos de renda variável no exterior, um fundo de investimento imobiliário e na carteira de empréstimos. Em 2022, até junho os resultados estiveram abaixo das metas atuariais, sob o impacto da abertura da curva de juros que afetou os papéis marcados a mercado, mas em outubro já há superávit. “Estamos batendo as metas e até mesmo o segmento de exterior, que vinha sofrendo este ano, na prévia de outubro já mostrou retorno positivo de 5%”,diz.