Edição 83
O interesse dos fundos de pensão por aplicações indexadas a índices de preços está aumentando. A dificuldade crescente de bater metas atuariais, devido à redução gradual nos juros imposta pelo Banco Central nos últimos meses, está motivando as fundações a investirem em papéis ou fundos que sigam algum índice de inflação mais uma taxa adicional. As alternativas são poucas, mas a situação deve começar a mudar com o aumento das emissões de empresas privadas e com o lançamento de novos fundos de investimento com este perfil.
O primeiro fundo mútuo com benchmark atrelado a inflação foi o BB Atuarial. Lançado no final do ano passado, o fundo não emplacou no primeiro semestre de 2000, devido à retração dos índices de preços, que andaram muito baixos. Porém, o repique da inflação verificada nos últimos dois meses provocou o aumento da demanda pelo produto. O BB Atuarial acumula atualmente cerca de R$ 140 milhões em recursos de institucionais, quase tudo captado a partir de junho. A Fasern, fundo de pensão da Companhia Energética do Rio Grande do Norte, por exemplo, decidiu investir recentemente no fundo. “Com a queda das taxas de juros fica interessante diversificar em um fundo com benchmark em IGP-M”, diz Cássio Valério de Sousa, diretor financeiro da Fasern. A fundação investiu inicialmente R$ 1,3 milhão e já pensa em aumentar esse valor. Se a taxa de juros continuar em queda e o IGP-M continuar em alta, a Fasern pode aplicar até R$ 10 milhões no BB Atuarial, o que representaria 15% do patrimônio atual da fundação, avaliado em R$ 67 milhões, explica o diretor.
Outro investidor que decidiu investir no BB Atuarial foi o Ipsem, Instituto de Previdência do município de Campina Grande, da Paraíba. “O fundo indexado à inflação oferece a vantagem de ajudar a superar nossas metas que também estão casadas com índices de preços”, explica Izinete Bento Brasil, presidente do Ipsem.
Até agora, o BB Atuarial conta com aplicações de oito investidores institucionais. Por enquanto, o fundo vinha adquirindo apenas títulos públicos, mas se a procura continuar em ritmo acelerado o gestor deverá incorporar outros tipos de papéis. “Estamos avaliando junto aos nossos clientes se é conveniente começar a trabalhar com risco de crédito privado”, revela Roberto Wainstok, gerente de administração de recursos da BB DTVM.
O BB Atuarial tem seu portfólio composto por NTN-Cs e títulos securitizados de privatização. A taxa de administração é de 0,1% ao ano, mais taxa de performance de 20% sobre o que exceder o IGP-M mais 10%. Até o final de julho passado, o fundo havia rendido IGP-M mais 18,10%. Por ser um fundo para investidores de longo prazo, há um período de carência de 30 dias para resgate das aplicações. “Já estamos com oito fundações e esperamos triplicar a captação até o final do ano”, prevê Alberto Queiroz Neto, gerente comercial da BB DTVM.
Outro gestor que está lançando um fundo indexado à IGP-M é a Caixa Econômica Federal. O FIF Atuarial da Caixa foi criado após uma sondagem realizada em visitas e contatos com cerca de 200 fundos de pensão ao longo do primeiro semestre deste ano. O gestor está começando a divulgar o novo produto neste mês de agosto. “Percebemos que as fundações têm interesse em investir em fundos indexados a índices de preços”, explica Fátima Abreu, gerente nacional de investidores institucionais. O fundo da CEF também segue o IGP-M como benchmark.
Alternativas – Além da aplicação em fundos mútuos, outra alternativa para indexar parte dos ativos à inflação é a compra de papéis atrelados a IGP-M, incorporados diretamente às carteiras própria ou terceirizadas da fundação. A CCF Brain está aumentando a concentração de títulos indexados ao IGP-M nas carteiras e fundos exclusivos de investidores institucionais. Entre 5% a 10% dos ativos da carteira estão aplicados atualmente neste tipo de papel. Esse percentual não ultrapassava 5% até o final do ano passado. “Não aumentamos mais por falta de disponibilidade de papéis indexados à inflação no mercado”, revela Rogério Bastos, diretor da área de gestão quantitativa do CCF.
O CCF havia lançado no final do ano passado um fundo de investimento com benchmark atrelado a IGP-M, mas a iniciativa não deu certo. O CCF Atuarial não conseguiu captar recursos de institucionais no primeiro semestre e acabou sendo incorporado por outro fundo do gestor, o CCF Mix. “O problema do fundo é que misturava renda fixa com bolsa e os fundos de pensão não se interessaram pelo produto”, explica Bastos. O fundo registrou maior procura por parte dos clientes pessoa física e chegou a acumular patrimônio de R$ 15 milhões. O fundo foi encerrado no último dia 12 de julho.
Os fundos de pensão também podem incorporar papéis indexados à índices de preços diretamente na carteira própria. É o caso da Petros, fundo de pensão da Petrobrás e empresas do ramo de energia, que tem participado dos últimos leilões de NTN-Cs. O Tesouro nacional realizou dois leilões no final do ano passado e colocou mais de R$ 2 bilhões em NTN-Cs no mercado. No início de agosto passado, o Tesouro voltou a leiloar um lote de R$ 300 milhões. Além dos títulos públicos, a Petros também tem adotado a estratégia de indexação à inflação através de investimentos em project finance (ler matéria na página 20).
Outra opção das fundações é a aquisição de papéis de emissões privadas indexadas ao IGP-M. Neste ano foram realizadas duas emissões com esse perfil, uma da Eletropaulo Metropolitana em julho passado, e outra da Draft, em maio último. A oferta deste tipo de papel ainda é reduzida, mas a previsão é que as emissões se multipliquem nos próximos meses. “Devem ser realizadas diversas emissões de papéis indexados a IGP-M nos próximos meses, sobretudo por parte das empresas de energia elétrica e telecomunicações”, prevê Roberto Wainstok, da BB DTVM. Ele explica que essas empresas têm interesse em emitir títulos que estejam atrelados a índices de preços porque seus caixas acompanham o movimento da inflação.