Fundações aproveitam a alta para vender | Fundos de pensão fugira...

Edição 70

Enquanto muitos pequenos e médios fundos de pensão andaram comprando ações a partir de novembro, grandes fundações aproveitaram a alta acumulada no ano para vender e realizar lucros. É o caso da Previ, que vendeu no final de novembro 390 milhões de ações preferenciais da Itaúsa. “Estamos comprando principalmente para os pequenos e médios fundos de pensão, porque os grandes fundos já estão enquadrados e alguns até estão vendendo”, explica o diretor da mesa de operações da corretora Planner, Cláudio Henrique Sangar.
Na média, os fundos de pensão aumentaram a exposição em Bolsa em novembro. Os investidores institucionais foram responsáveis por 9,8% do volume de compras e por 8,8% das vendas. Enquanto o nível de compras permaneceu praticamente inalterado em relação a outubro, houve uma aceleração das vendas em novembro. No acumulado dos onze primeiros meses do ano, as posições nas duas pontas tendem ao equilíbrio: os institucionais realizaram 8,3% das compras e 8,5% das vendas no mercado à vista da Bovespa.
Os investidores institucionais fugiram um pouco da concentração excessiva em Telebrás. “Os fundos de pensão compraram ativos da Petrobrás ”, afirmou Claúdio Sangar, da corretora Planner. A evolução trimestral do índice Mercer (Imercer), que reúne 89 pequenos e médios fundos de pensão, comprova este aumento da procura por ações da Petrobrás. De setembro a dezembro, a estatal não só manteve a liderança na carteira do Imercer como ganhou participação relativa. Isso ocorreu por causa da valorização mais rápida dos papéis da empresa em novembro, assim como por uma migração de ativos: alguns fundos de pensão reduziram sua participação em Telebrás e aumentaram suas posições em Petrobrás e outras companhias de telecomunicações, como Telesp e Telemar.
Logo depois do movimento comprador dos fundos de pensão, os ativos da Petrobrás sofreram um impacto com a aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado de um projeto de lei que visa proibir o governo de vender as ações ordinárias da Petrobrás. O projeto vai agora ser analisado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) e pela Câmara dos Deputados. O ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, já sinalizou, no entanto, que a medida poderá ser vetada pelo presidente da República, caso venha a ser aprovada pelo Congresso.

Troca de papéis – A partir de novembro, houve muitas trocas de papéis de segunda linha nas carteiras das fundações. Segundo o responsável pela área de investimentos da William M. Mercer, Luís Lima, os ativos que já atingiram um nível de preço esperado foram negociados por outros avaliados como atrasados, ou seja, com os preços ainda abaixo do potencial de valorização. “Houve um forte reposicionamento dentro da segunda linha”, afirmou Luís Lima. “Ocorreram vendas nos setores de energia e de papel e celulose e compras em setores mais ligados ao consumo.”
A alta da Bolsa em novembro fez subir automaticamente a parcela das ações na carteira de investimentos dos fundos de pensão. As carteiras das 89 fundações que compõem o Imercer engordaram, em média, 17,41% no mês passado. O Ibovespa evolui 17,75% e o IBX avançou 16,10%. Para alguns grandes fundos de pensão, esta subida forte da Bolsa fez ressaltar seus desenquadramentos. Para outros, no entanto, significou simplesmente uma aproximação do limite aceitável de exposição em ações estabelecido para a atual conjuntura.
A Sistel (ex-Telebrás) aproveitou a alta acumulada dos ativos para vender determinadas posições e assim evitar que o percentual de seu patrimônio em Bolsa, atualmente em 35%, subisse ainda mais. “Fizemos desinvestimentos e nos reposicionamos em alguns setores para adequar nosso portfólio”, afirmou o gerente de renda variável da Sistel, Ivan Mendes. “Mantivemos os investimentos tradicionais e reforçamos as posições em setores com cenários mais favorecidos, como papel e celulose, minérios e siderurgia.”
Embora ainda não haja uma definição a respeito, Mendes acredita ser possível que a Sistel mantenha no ano que vem o patamar de 35% do patrimônio na Bolsa. “A previsão de retorno permanece ainda favorável”, avaliou. “Com a melhoria da imagem do País, caem as taxas de desconto dos fluxos de caixa e isso se reflete no preço considerado justo pelo papel.” Ele deposita muita confiança nos investimentos em setores tradicionais – telecomunicações, energia e petróleo. “Caso se confirme o recolhimento dos recibos da Telebrás, a Petrobrás se tornará no ano que vem a ‘big cap’ do mercado de capitais”, observou.
Na Eletros (Eletrobrás), a alta de Bolsa em novembro fez com que se atingisse o limite previsto de exposição em ações previsto para este ano. “Passamos de 10% da carteira em abril para 15% em novembro, que é o teto fixado para o ano”, disse o gerente de investimentos da Eletros, Luiz Guilherme Nobre Pinto. A simulação interna do fundo de pensão indica que esta fatia de investimento poderia oscilar entre 10% e 23%. “Estes 15% refletem nossa cautela. Acima de 23%, o risco se tornaria excessivo, o que poderia criar um déficit atuarial”, disse Nobre. Este cuidado aparece também na seleção dos papéis: mais de 85% da carteira da Eletros estão em ações de primeira linha e segunda nobre, em empresas do setor elétrico, telecomunicações, petróleo e saneamento.
A Eletros iniciou este ano o investimento em saneamento. “Trata-se de um setor promissor e a Sabesp é uma aposta interessante”, disse Nobre. “Outro setor interessante é o de fertilizantes”, aponta. Fora dos setores tradicionais, ele analisa o investimento caso a caso, com cuidado, porque tem ainda vivos na memória dois movimentos frustrados da primeira linha de ações na direção dos setores considerados menos nobres. Na primeira vez, a migração foi interrompida pela crise do México e na segunda, pela crise de 97. “Quem entrou em segunda linha em 97, só agora empatou o investimento”, afirmou Nobre.

Câmbio – No ano passado, o movimento foi de concentração na primeira linha por causa da indefinição no câmbio e da expectativa de uma desvalorização, que acabou de fato se concretizando. Ao longo de todo o ano de 99, houve um movimento de migração da primeira para a segunda linha. “Depois da desvalorização do real, os administradores estão tendendo para a segunda linha”, analisa o responsável pela área de investimentos da Mercer, Luís Lima. O gerente de investimentos da Eletros, Luiz Guilherme Nobre Pinto, concorda mas entende que não se deve ir com muita sede ao pote. “A tendência voltou mas agora temos de ir com cautela porque existe muita volatilidade. Além disso é difícil sair dessas empresas: perde-se muito em uma queda.”
Assim como em algumas carteiras de gestão própria, também alguns assets chegaram ao teto de exposição em Bolsa previsto para o cenário atual. As 73 carteiras discricionárias administradas pelo CCF Brain já possuem hoje, em média, 30% em ações. “Consideramos que a banda entre 25% e 35% é a mais adequada para o momento e deve permanecer assim no primeiro trimestre do ano 2000”, afirmou o diretor de produto da CCF Brain, Sylvio Fleury. Segundo ele, dois momentos ficaram muito bem definidos neste ano que se encerra. No primeiro semestre, a média das carteiras administradas pelo CCF possuíam 15% em Bolsa. Na segunda metade de 99, esta fatia ficou em média em 25% – um avanço significativo de 60%.
Com a proximidade do teto estabelecido de 30%, a administradora de recursos iniciou em outubro um rebalanceamento das carteiras, privilegiando setores cíclicos, o financeiro e o de consumo. “A estratégia foi alocar mais para setores favorecidos pelo cenário”, disse o diretor de renda variável da CCF Brain, Lúcio Graco. “Para 2000, acreditamos nos sinais de recuperação do consumo interno e dos preços das commodities influenciados pela retomada da atividade global”, comentou. Graco identifica como boas oportunidades de investimento o setor siderúrgico, especialmente a Gerdau e a Usiminas, assim como os setores de alimentos, de bancos e de telecomunicações.