Funcef busca o enquadramento | Depois de ajustar-se ao limite de ...

Edição 94

Enquadramento parece ser a palavra de ordem, neste ano, na Funcef, a fundação da Caixa Econômica Federal (CEF). Depois de ter se desfeito, em fevereiro, de 50,75% do capital da Caixa Seguros (antiga Sasse) para adequar-se à resolução nº 2.324 (que estabeleceu, em 1996, o limite de 20% para a participação dos fundos de pensão em empresas), a Funcef pretende eliminar, até o fim de 2001, o desenquadramento às normas existente na sua carteira de imóveis
Para reduzir a parcela dos recursos aplicados em imóveis –que corresponde a 23% de seu patrimônio, enquanto o limite máximo imposto pela legislação é, neste ano, de 16%– a Funcef está finalizando o processo de formação de um fundo imobiliário com 14 shoppings de propriedade da fundação. Em seguida, as cotas do fundo serão vendidas na rede da CEF. Segundo o presidente da Funcef, Edo de Freitas, serão ofertadas ao público 300 mil cotas de fundos imobiliários no valor de R$ 1 mil cada uma. Haverá um limite máximo de compra que será de R$ 200 mil por investidor.
Além da operação com o fundo imobiliário, a Funcef pretende dar continuidade ao processo de venda de imóveis, iniciado no ano passado, que já arrecadou R$ 45 milhões com a venda de cerca de 300 imóveis.
Com essas medidas, a expectativa é de que a carteira de imóveis da fundação, que vinha sendo inflada nos últimos anos pelo fato de a Funcef ter recebido imóveis como pagamentos de dívidas da CEF, encerre o ano com uma participação de 15% nos ativos da fundação, segundo Freitas. A legislação prevê uma redução no limite de investimentos em imóveis de 2 pontos percentuais por biênio até 2009.
Sasse – A venda do controle da seguradora da CEF pôs fim, com chave de ouro, a uma irregularidade de 4 anos: a Funcef arrecadou R$ 1,065 bilhão pelas ações, um prêmio de 153% sobre o preço mínimo, pago pela francesa CNP Assurances. A Funcef já possuía o controle da Sasse quando foi surpreendida pela edição da Resolução n.o 2.324, aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 1996. Desde então, a fundação vinha sofrendo contínuas pressões da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) para enquadrar-se.
porém, desafiando as determinações da SPC, a Funcef preferiu aguardar um momento propício para o enquadramento. Somente começou a preparar a venda do controle da seguradora nos últimos dois anos, quando houve uma valorização da empresa graças ao crescimento da venda de produtos de seguros e previdência.

Ágio de 153% com envelope fechado
A participação da Funcef na Sasse foi vendida no sistema de envelope fechado sem que as concorrentes à compra soubessem o preço mínimo e os lances ofertados pelas suas oponentes. O modelo de venda foi formulado pelo Goldman Sachs. “A estratégia adotada teve o objetivo de obter o melhor resultado, o que foi conseguido. O ágio de 153% é espetacular”, disse o presidente da Funcef, Edo de Freitas.
Uma das mais cotadas pelo mercado para levar a Sasse, a Icatu Hartford compareceu ao data room, mas desistiu da compra e não apresentou proposta para adquirir a Caixa Seguros, surpreendendo os participantes do processo de compra.
A nova controladora da Sasse, a CNP francesa, é controlada em seu país por empresas estatais, entre eles a Caisse de Dépots, um banco estatal, com participação de 40%, e a La Poste, empresa francesa de correios, com 20% do capital na CNP. A empresa possui cerca de 20% do mercado de seguro de vida na França, com 14 milhões de segurados. O faturamento da CNP Assurances no ano passado foi de US$ 17 bilhões. A empresa possui reservas de US$ 110 bilhões e 27 mil pontos-de-venda apenas na França.
Na Europa, a CNP atua ainda em Portugal, na Itália e na Polônia. Na América Latina já estava presente na Argentina e, agora, no Brasil. A empresa francesa tem ainda uma presença pequena na China. No Brasil, a nova dona da Caixa de Seguros quer entrar no mercado de seguro-saúde e pretende ainda este ano vender apólices de vários tipos de seguros, utilizando a rede de 1.900 agências e postos de atendimento da CEF e ainda as 8,5 mil casas lotéricas do país.
A CNP Assurance adquire a Caixa Seguros com uma carteira de 1,9 milhão de títulos de capitalização, 300 mil seguros de vida, 130 mil seguros de automóveis e mais 1,2 milhão de seguros residenciais e de vida, cujos titulares pertencem à população de baixa renda.
Na carteira de renda variável, o presidente da Funcef diz ter efetuado uma “limpeza”. “Reciclamos a carteira e hoje 99% dos investimentos estão indexados ao Ibovespa”. No ano passado, apenas 50% da carteira era atrelada ao Ibovespa, o que não era apropriado para a Funcef. “Estamos fugindo do risco”, conclui.