Os fundos ‘long and short’ registraram forte aumento da demanda por parte dos investidores nos últimos meses. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em janeiro de 2017 o patrimônio das estratégias ‘long and short’ direcional somava R$ 3,59 bilhões e em agosto de 2018 esse montante estava em R$ 8,87 bilhões, mais que dobrando o volume no período.
Por conta desse crescimento a Itaú Asset Management optou por fechar, em meados de junho, sua captação de ‘long and short’. Os ‘long and short’ da asset do Itaú somam cerca de R$ 800 milhões mas, se considerados também os fundos multimercados macro que carregam essa estratégia, o total chega a R$ 2 bilhões.
“Por termos um ‘long and short’ neutro, que não toma grandes posições direcionais, é um produto que muitas vezes cai no gosto do investidor que tem um pouco mais de apetite a risco com os juros baixos, mas ao mesmo tempo ainda prefere algum grau de conservadorismo”, diz o gestor Eduardo Toledo, acrescentando que pesou na decisão de fechamento dos produtos a liquidez ainda restrita do mercado local.
Por sua característica de descorrelação com a média do mercado, os fundos ‘long and short’ da gestora do Itaú têm conseguido no acumulado de 2018 retorno superior ao do Ibovespa. Até meados de setembro, enquanto o principal benchmark da bolsa tinha alta de 3% aproximadamente, o fundo da categoria de maior volatilidade da Itaú Asset rendia cerca de 12,5%.
Toledo ressalta, contudo, que em determinados momentos, a depender do perfil da carteira do fundo na ocasião, e da performance média do mercado no mesmo período, a descorrelação desses veículos com a bolsa pode ser menor. Ele lembra que os ‘long and short’ da casa não precisam necessariamente ter posições em pares de ações, comprada em uma ponta e vendida em outra. “Se gostamos de uma ação e entendemos que ela está barata, podemos apenas fazer uma posição comprada nela, sem uma contraparte, o que pode aumentar a correlação com a Bovespa”.
Em 2018 a estratégia ‘long and short’ da Itaú Asset se beneficiou de posições compradas em empresas que ganharam com a desvalorização do real e também no setor de consumo. “Já nos setores de petróleo e de bancos temos adotado uma postura mais tática, com uma rotatividade maior dos papéis”, diz Toledo, que lembra ainda que os fundos também mantiveram exposição ao mercado acionário mexicano.
Mobilidade das posições – Outra que fechou seu fundo de ‘long and short’, em agosto, foi a AZ Quest, quando este atingiu a marca de R$ 1 bilhão. Ao final de fevereiro deste ano o montante estava ao redor dos R$ 600 milhões, o que demonstra o ritmo acelerado de captação no período, aponta o CIO da asset, Alexandre Silvério. “Optamos por fechar o fundo para manter a capacidade de mobilidade das posições quando necessário”.
Em 2018, até agosto, enquanto o Ibovespa subia 0,36%, o fundo da AZ Quest teve retorno de 8,02%. Silvério conta que durante o primeiro trimestre, quando as perspectivas para a economia ainda eram mais positivas, as posições compradas se concentraram nos setores de bancos, varejo e consumo, enquanto na ponta contrária predominaram nomes de educação, telecom e serviços financeiros considerados pelos especialistas da gestora acima de seu preço justo.
A partir de abril, com a greve dos caminhoneiros e a deterioração das perspectivas para a economia brasileira, ocorreram mudanças na carteira da asset na ponta comprada, que ficou mais defensiva, e dolarizada, via papéis de siderurgia e mineração e papel e celulose. Já a ponta vendida permaneceu sem grandes alterações. “Além das mudanças em algumas ações, também reduzimos de 20% a 30% o risco na carteira por meio de posições menores”, pontua o CIO da AZ Quest.
Opções – No caso da Santander Asset Management, cujos ‘long and short’ passaram de um Patrimônio Líquido de R$ 60 milhões para R$ 150 milhões em doze meses, a principal estratégia para buscar retorno foram as operações no mercado de opções, fazendo posições em papéis que atingiram alta volatilidade para auferir ganhos no momento em que eles voltaram aos seus patamares normais.
A casa também apostou, seguindo essa mesma estratégia, na volatilidade do Ibovespa e do S&P 500, prevendo a queda do benchmark brasileiro e a alta do americano. Segundo o gestor da asset do Santander, Luiz Fernando Missagia, o principal limitador para essas estratégias de opções também é a baixa liquidez do mercado local. “A falta de liquidez é um problema, normalmente só podemos operar opções com as quatro ações mais líquidas da bolsa, além do índice”, explica.
Blue chips – Na Bradesco Asset Management (Bram), o superintendente de renda variável, Marcelo Nantes, cita duas operações ‘long and short’ estruturadas com ‘blue chips’ da Bovespa que até meados de setembro seguiam na carteira do fundo. Uma dessas operações envolve as duas ações da Petrobras, com posição comprada na preferencial e vendida na ordinária. “Alguns investidores, estrangeiros principalmente, se sentem mais confortáveis em ter a ação ordinária pelo maior alinhamento em relação ao controlador, caso haja uma operação de M&A ou a venda do ativo. Já os locais, por atribuírem uma probabilidade baixa de um evento como esse ocorrer, tendem a não querer pagar o prêmio de controle pela ação ordinária, o que leva a uma distorção entre os preços das ações”, explica Nantes. Ele também cita as dúvidas do mercado em relação ao potencial pagamento de dividendos por parte da petroleira como outro fator importante para a diferença de preço dos ativos. No final de setembro, a ação ordinária da Petrobras valia R$ 23,67, e a preferencial, R$ 20,27.
A outra operação destacada pelo especialista foi com uma posição comprada em Bradespar, e vendida em Vale. Nesse caso, explica o executivo, a tese de investimento é o processo de litígio entre Bradespar e Litel de um lado e a Elétron, do Opportunity, de outro. “Com as notícias que têm saído na mídia de que haverá o pagamento do litígio à Elétron pela Bradespar e Litel, o desconto da ações da Bradespar em relação à da Vale tem diminuído, o que justifica a posição comprada em Bradespar e vendida em Vale, por entendermos que as ações da primeira vão valorizar mais do que a segunda”, explica Nantes.