Edição 83
Por ser um dos fundos de pensão mais antigos do país, a Petros foi um dos primeiros a ultrapassar a barreira da maturidade. Há pouco mais de três anos o número de assistidos vem superando o de participantes ativos, fazendo com que o fluxo de saída de recursos aumente substancialmente. No entanto, a atual gestão do fundo, comandada por Carlos Henrique Flory, tem um ambicioso projeto de revitalização da Petros. O presidente da fundação pretende não apenas modernizar sua gestão, como também inverter o processo de envelhecimento da Petros. Além disso, Flory quer mudar o conceito de fundo de pensão, transformando a Petros em um verdadeiro “portal” de distribuição de diversos produtos para seus participantes, tais como, seguros de vida, auto e residência.
As projeções atuariais da Petros mostram que, por volta do ano de 2020, o fundo teria cerca de 90 mil assistidos contra uma previsão de apenas 30 mil participantes ativos. Hoje já são 49 mil assistidos e 41 mil participantes em atividade. Desta forma, a principal tarefa da fundação seria vender os ativos para pagar os benefícios, uma vez que a entrada das contribuições dos funcionários não seria suficiente para cobrir o fluxo de caixa imediato. “Queremos rejuvenescer o fundo de pensão e, para isso, estamos aumentando nosso quadro de patrocinadoras”, revela Carlos Flory.
E o projeto do atual presidente não fica apenas na intenção. Durante este primeiro ano à frente da fundação, Flory já conseguiu a adesão de três novas patrocinadoras. A mais nova patrocinadora da Petros é a empresa nacional DBA, com sede no Rio de Janeiro. Com cerca de 800 funcionários, a empresa atua na área de sistemas de informática e já era prestadora de serviços para a própria Petros. Antes da DBA, o fundo já havia acertado a adesão da hidrelétrica goiana Cachoeira Dourada, a primeira a ser privatizada no país e hoje sob o controle do grupo espanhol Endesa. A terceira nova patrocinadora da Petros foi a Yacimentos Petroliferos Fiscales (YPF), que aderiu ao fundo de pensão em setembro do ano passado.
Com a entrada das três novas patrocinadoras, o quadro de empresas vinculadas à Petros saltou de 14 para 17 no último ano. “Nossa meta é atingir 300 mil participantes nos próximos anos, através da disputa em mercado de novas patrocinadoras”, arrisca o presidente da Petros. Ele ressalta o fato de que a DBA é a primeira patrocinadora do fundo que não pertence ao setor energético, o que significa que a Petros pode disputar a adesão de empresas de todos os setores da economia.
Resgate da imagem – Para conseguir aumentar o número de patrocinadoras e participantes, a direção da Petros está realizando um intenso trabalho de resgate da imagem do fundo de pensão. Aproveitando as comemorações dos 30 anos da Petros, realizadas durante Julho último, foram tomadas algumas iniciativas para fortalecer o marketing da entidade. Foi elaborada uma nova logomarca para o fundo e houve o lançamento do livro “Petros – 30 Anos de História”, escrito pelos jornalistas José Sérgio Rocha e Telmo Wambier. Além disso, foi realizada uma campanha publicitária para divulgar a nova marca do fundo de pensão.
A principal novidade, porém, foi o lançamento da nova home-page da Petros. Não se trata de apenas uma página com conteúdo informativo. Gradualmente, o fundo pretende transformá-la em um portal para a distribuição de diversos produtos, a princípio da área de seguridade. A fundação planeja estabelecer convênios com companhias e corretores de seguros para distribuir vários tipos de seguros. Além disso, a home-page terá links com outras páginas de parceiros da Petros. “Pretendemos transformar a Petros em uma verdadeira empresa ponto.com”, revela Flory.
A primeira iniciativa neste sentido foi o acordo realizado com o Banco Alfa de Investimentos, que ofereceu um fundo mútuo de privatização para os participantes da Petros através da nova home-page (leia matéria na página 17). Também através da internet o participante terá acesso às informações sobre seu plano de benefícios. No caso de participantes do plano de contribuição definida, que vigora para os novos funcionários das patrocinadoras, eles podem mudar as contribuições e realizar simulações sobre benefícios através da nova página web. Como o fundo prepara o lançamento de outro plano CD, que será aberto para a migração dos atuais participantes, estes também poderão mexer no plano através da internet.
A internet também está modificando as rotinas na gestão da fundação. Como as respostas devem ser dadas no menor tempo possível, de preferência em tempo real, os setores e gerências da Petros estão se adaptando aos novos prazos. Mais que isso, a internet requer um grau maior de transparência e na prestação de informações aos participantes. “A maior transparência e a profissionalização da gestão do fundo estão garantindo o resgate da imagem da Petros”, ressalta o presidente da Petros. Ele recorda que a fundação ganhou dois prêmios de qualidade no ano passado: um da Abrapp, concorrendo com outros fundos de pensão; e outro do Rio de Janeiro, em que participaram empresas de todo o estado.
Reestruturação das carteiras – Mas de nada valeria tanto esforço de marketing se a situação da carteira de investimentos da fundação continuasse inalterada. O passivo descoberto dos funcionários admitidos na Petrobrás antes de 1970 já foi resolvido com a provisão de R$ 5,9 bilhões da patrocinadora. Contudo, ainda faltava apresentar resultados de rentabilidade mais consistentes em relação à meta atuarial do fundo. De 1995 a 1998, o único ano em que a Petros havia conseguido bater sua meta, de INPC mais 6% ao ano, foi em 1997. Nos outros anos, a rentabilidade ficou abaixo da meta, apesar das altas taxas de juros praticadas no mercado.
A partir de 1999,os resultados começaram a melhorar, ainda na antiga gestão de Francisco Gonzaga. Desde janeiro do ano passado, a rentabilidade da carteira do fundo passou a superar em ritmo crescente o INPC mais 6%. No final do ano, o retorno global da carteira ficou em 30% enquanto a meta bateu apenas 15%. No primeiro semestre de 2000, o desempenho continuou positivo, atingindo 8,4%, mais que o dobro da meta, que ficou em 4,12%. “Por enquanto, a melhora dos resultados deve-se ao maior rigor adotado na seleção dos ativos de nossas carteiras”, comenta Eliane Lustosa, diretora financeira da Petros. Ela exemplifica a operação de venda de R$ 62 milhões em ações da Telesp, realizada em momento oportuno para a troca por outros papéis de telecomunicações, no início do ano.
Na carteira de renda variável, a Petros pretende fazer uma reformulação completa. A diretriz básica é fortalecer o trabalho de governança corporativa em que a fundação possui posições mais expressivas. Se for o caso, poderão ser trocados papéis com outros investidores, inclusive fundos de pensão, para aumentar o poder de decisão da Petros dentro das empresas. A idéia é poder nomear conselheiros para a maior parte das companhias em que a Petros é acionista e se desfazer das participações minoritárias menores.
Para reestruturar sua carteira de renda variável, a Petros montou uma área específica para governança corporativa. Junto com a Previ do Banco do Brasil, são os dois únicos fundos de pensão a manter uma estrutura para acompanhar as participações em empresas.
Infra-estrutura – Mas talvez a maior mudança esteja na carteira de renda fixa, cujos ativos começam a migrar para investimentos em projetos de infra-estrutura. Da carteira de aproximadamente R$ 4 bilhões em renda fixa, a direção do fundo pretende transferir metade para project finance, principalmente nas áreas de petróleo, gás natural e energia.
O último investimento em infra-estrutura anunciado pela Petros é o da Termo-Bahia. A fundação deve investir R$ 38 milhões na construção de uma unidade de co-geração de energia para a refinaria da Petrobrás de Mataripe. O fundo de pensão comprará debêntures de uma Sociedade de Propósito Específica (SPE) com remuneração de IGP-M mais 12% a 15% ao ano – a taxa ainda não foi definida. O conjunto de investimentos em project finance anunciados pela Petros totalizam cerca de R$ 350 milhões (veja quadro na pág. 23). “Acreditamos na capacidade de crescimento do país e continuaremos aproveitando as oportunidades de investimentos em infra-estrutura que propiciem segurança e rentabilidade”, explica Carlos Flory.