Edição 135
O outro lado da moeda do severo processo de consolidação da indústria de assets é que começam a proliferar empresas de gestão independentes, geralmente formadas por profissionais que se desligaram das assets consolidadas. Uma delas, a JP Morgan, vendida recentemente para o Bradesco, é a campeã em originação de novos gestores independentes. Nada menos de três empresas diferentes já foram ou estão sendo montadas por ex-funcionários da JP Morgan.
A primeira já foi publicamente anunciada. Trata-se do Banco Pátria de Negócios, que vai se dedicar a gestão de recursos de terceiros e assessoria em operações de fusões e aquisições. Tem, entre seus sócios, Olimpio Matarazzzo Neto, que dirigia a operação comercial da asset antes da compra pelo Bradesco, e Jair Ribeiro, que foi seu presidente até dois anos atrás quando assumiu novas funções no banco internacional JP Morgan.
Com a compra da asset do JP Morgan pelo Bradesco, eles resolveram reunir-se novamente e criar o banco Pátria, cujo nome busca guardar uma proximidade com o banco que tinham fundado no final dos anos 80, o Patrimônio, que foi comprado pelo Chase Manhattan uma década depois (em 1997). Eles querem fazer do Pátria uma continuidade do Patrimônio, nome que não puderam utilizar por força de contrato assinado na época da venda para o Chase. O fundo Patrimônio, um private equity de R$ 250 milhões, será a principal vitrine do novo banco, que entretanto irá lançar outros produtos, entre os quais um fundo de hedge a ser administrado pelo próprio Matarazzo Neto.
Mas, se os dirigentes máximos do JP Morgan podem lançar sua casa de gestão de recursos, outros funcionários médios estão lançando-se na mesma aventura. Trata-se de um trio, formado por Wilson Müller, Eduardo Mafra e Eduardo Favrin, que ocupavam respectivamente os cargos de head de institucionais, gestor de renda fixa e gestor de renda variável. Eles estão criando a empresa Legacy, que vai se dedicar à gestão de recursos de terceiros.
Inicialmente, o foco da Legacy será o mercado de pessoas físicas de alta renda, enquanto buscam construir um track-record para mostrar aos institucionais no futuro. De acordo com Muller, a asset está preparando o lançamento de um hedge fund (com juros, cambiais e bradies) e um fundo de ações ativo (máximo de 11 papéis e mínimo de 5). O objetivo da Legacy é chegar a R$ 50 milhões no primeiro ano de operação.
De acordo com o Mafra, que tinha 12 anos de casa (Chase e depois JP) quando a asset foi comprada pelo Bradesco, eles representam a tradição dos fundos do JP, porque eram responsáveis pela gestão das carteiras. “O track-record dos fundos do JP foi construído por nós”, diz ele. “Por isso resolvemos dar à nossa empresa o nome de Legacy, porque tem o sentido de legado, herança, pois nós herdamos o track-record daqueles fundos”.
Porém, há outros disputando esse legado. Uma terceira empresa está sendo formada, ainda sem nome definido, reunindo o ex-diretor comercial da JP, Adauto Martins, o ex-diretor de gestão, Wagner Murgel, além dos executivos Marcelo Cabral, Henrique Teixeira Alvarez, Mário Schalch e Augusto Lange Vieira, respectivamente das áreas de análise de derivativos, mercado de capitais e administração de carteiras.
“Não vamos disputar o mercado de produtos passivos, não teremos preços para isso”, diz Martins. “Vamos usar nossa expertise no lançamento de produtos ativos, que possibilitam a cobrança de taxas de administração mais atraentes. Nossa linha de atuação vai ser, basicamente, com produtos de derivativos, arbitragem etc”, complementa.
De acordo com ele, o mercado de assets já passou por vários rearranjos nos últimos anos, desde o estabelecimento da custódia e da controladoria até a marcação a mercado no ano passado. “Achamos que o mercado para as independentes, que podem oferecer produtos diferenciados, começa a ser melhor visualizado pelos clientes institucionais”, diz ele. “Com a estabilidade econômica e a queda da taxa de juros, cada vez mais eles vão ser obrigados a buscar produtos diferenciados para conseguir um retorno que possibilite atingir as metas atuariais”.
A primeira – Se essas três empresas estão nascendo do último movimento do JP Morgan, que foi a venda da área de gestão para o Bradesco, a tradição de gerar assets independentes já acompanha o JP faz tempo. Em meados de 2000, quando o banco comprou o Fleming Graphus, três executivos resolveram não acompanhar a marca para a nova casa e montaram a ASM Asset Management. Eram eles: Antonio Luiz de Mello e Souza, Sérgio Luiz de Mattos e Marco Aurélio Grillo, respectivamente diretores das áreas comercial, de asset e de tesouraria do banco. A ASM corresponde às iniciais dos nomes de cada um.
Com quase três anos de funcionamento, a ASM já conquistou um bom espaço de mercado, impulsionada principalmente pelos clientes institucionais que acompanharam os ex-executivos do Fleming Graphus. Hoje, a ASM tem R$ 350 milhões em recursos sob gestão, divididos em dois fundos abertos de renda fixa (um para institucionais e outro para pessoas físicas) e 20 fundos exclusivos (5 FACs; 7 de renda fixa; e 8 de renda variável). “Nenhum dos nossos produtos é passivo”, explica Sérgio Luiz de Mattos, o diretor comercial da casa.
De acordo com ele, o fato de a 2.829 ter obrigado as fundações a fazerem a segregação das atividades de custódia, controladoria e gestão, ajudou bastante. “Os nossos clientes compram a nossa gestão, a custódia e controladoria é feita por um grande banco”, diz ele. “O único risco que o cliente compra de nós é o risco de gestão”.
Mercado aguarda fundo de Fraga
O lançamento de um fundo está sendo aguardado com grande expectativa pelo mercado: trata-se de um hedge fund a ser lançado no segundo semestre pela asset que está sendo criada pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, juntamente com seu primo e ex-diretor da Latinvest, Luís Henrique Fraga, e com o ex-diretor de política monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo.
Há rumores de que o fundo já nasceria com R$ 500 milhões aportados, basicamente por grandes investidores externos interessados em Brasil. Com isso, esse hedge fund já nasceria fechado a novos investidores, obrigando a asset a lançar um novo produto para os outros interessados.
A demora na definição da asset deve-se ao compromisso de quarentena de Luiz Fernando Figueiredo, que só estará liberado dele a partir do final de julho. As especulações dão conta que a nova asset irá trabalhar basicamente com produtos do mercado de derivativos, para aproveitar melhor as experiências de Armínio Fraga, que antes de ir para o Banco Central foi operador de George Soros nos Estados Unidos.