Edição 111
A adoção de regras mais transparentes e de boa governança corporativa não garantiram a valorização das ações em Bolsa. Pelo menos é o que mostra pesquisa feita pela Economática para a Investidor Institucional. Dos 24 papéis preferenciais e ordinários, correspondentes a 19 empresas que aderiram ao Nível 1 de negociação na Bovespa – e fazem parte do Índice de Governança Corporativa (IGC) –, apenas 10 subiram em 2001; 14 encerraram o ano em queda.
Dos papéis que caíram, alguns registraram desvalorização bastante superior à registrada pelo Ibovespa no período, de 11%. São os casos das ações da Globo Cabo PN, com queda de 62%; da Varig Serviços PN, baixa de 60,7%; Varig Transportes PN e Varig PN, perdas de 59,7% e de 55,8%, respectivamente; da Bradespar PN e Bradespar ON, quedas de 31,6% e de 29,7%; e Vigor PN, desvalorização de 29,9%. Já o IGC subiu 1%, apesar da forte queda de alguns papéis que compõem o índice (ver quadro). Difícil avaliar, porém, qual o peso do fraco desempenho da Bolsa de Valores no ano passado sobre esses primeiros resultados.
Na avaliação do consultor em governança corporativa e conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Paulo Vasconcellos, o mercado não alimentava mesmo expectativas de que as adesões ao Nível 1 causassem impactos significativos na precificação dos papéis. “A adesão ao Nível 1 exige regras mais transparentes, mas a maioria das empresas que aderiram a esse nível de negociação já estava adaptada e tiveram que fazer poucas alterações para se enquadrarem. Essas mudanças não alteraram o estatuto da empresa nem os direitos patrimoniais de seus acionistas, como acontece com a adesão ao Nível 2”, explica.
Segundo o consultor, as valorizações dos papéis no mercado são mais esperadas quando da adesão ao Nível 2, que requer alterações mais significativas nas empresas. Entre elas, a adoção do “tag along”, de 70% para os preferencialistas e de 100% para os ordinaristas, e a utilização do valor econômico em casos de fechamento de capital.
Para a superintendente de relações com empresas da Bovespa, Maria Helena Santana, o período de existência do IGC, criado em junho do ano passado, ainda é muito pequeno para refletir nos preços das ações o real desempenho da adoção de regras mais transparentes e de normas de governança corporativa em uma empresa. Ela avalia que os impactos das adesões de regras de governança corporativa nos preços dos papéis acontece no médio prazo.
No entender da superintendente da Bovespa o ano de 2001 teve poucas motivações para levar as empresas a aderirem aos novos níveis de negociação da Bolsa. “Para dar um passo de conceder mais direitos aos acionistas, como o tag along, a empresa espera, de alguma forma, se beneficiar com essas concessões, ou por meio da valorização das suas ações no mercado ou pela redução do custo de captação. A tomada de decisão fica mais fácil num cenário mais favorável”, diz.
Ainda segundo analistas do mercado de capitais, como existe um período entre o prazo em que a empresa anuncia a adesão aos níveis de governança na Bolsa e a sua inclusão no Índice de Governança Corporativa, os papéis podem precificar a adesão antes de serem incluídos no índice, o que também dificulta a avaliação do desempenho do IGC.
O consultor Vasconcellos, também dono da Proxycon, assessoria empresarial especializada em governança corporativa e relações com os investidores, concorda que as adesões ao Nível 2 aconteçam em um momento mais favorável da Bolsa. “As empresas ficam reticentes em aderir num momento negativo do mercado”, avalia, prevendo que entre 5 e 15 empresas façam a adesão ao Nível 2 ainda este ano.
Para Maria Helena, da Bovespa, há “grandes chances” de oito a dez empresas aderirem ao Nível 2 ainda este ano. Empresas como o Itausa, Banco do Brasil e Petrobras já manifestaram interesse em aderir ao Nível 2, mas ainda estudam a relação risco-benefício das mudanças que terão de fazer em seus estatutos antes de concretizar a adesão.
A superintendente da Bovespa acrescenta que até o final deste mês, a Cia. de Concessões Rodoviárias, CCR, pretende abrir capital no Novo Mercado, tornando-se a primeira empresa a aderir ao mais alto nível de negociação de governança corporativa na Bolsa.