Estratégia internacional | Fundo de pensão da Votorantim inaugura...

Herculano AlvesPaulo PisauroPerfis de investimentos

Edição 247

AFunsejem, fundo de pensão do grupo Votorantim, é uma das pioneiras em investimento no exterior. A fundação decidiu experimentar a nova modalidade com uma aplicação inicial em BDRs (Brazilian Depositary Receipts), realizada em um fundo da Bram (Bradesco Asset Management) a partir de outubro do ano passado. Como os resultados no último trimestre de 2012 e início de 2013 foram animadores, agora o fundo de pensão decidiu abrir um limite para investimentos em BDRs ou outros ativos no exterior para todos os seus gestores terceirizados. “Ficamos muito satisfeitos com a performance dos BDRs bem acima do Ibovespa e decidimos abrir um limite para todas as carteiras de renda variável”, diz Paulo Roberto Pisauro, diretor superintendente da Funsejem. 

Com um patrimônio da ordem de R$ 1 bilhão, o fundo de pensão abriu o limite de 10% da carteira de renda variável para ativos estrangeiros. O fundo de pensão contrata atualmente seis assets: BNP Paribas, Bram, Itaú, Schroders, Votorantim Asset Management e HSBC. Cada gestor poderá utilizar o limite para a gestão da renda variável. Por exemplo, um gestor que cuida de uma carteira de R$ 100 milhões com 30% de exposição à renda variável, ou seja, R$ 30 milhões em ações, tem até 10% desse valor – R$ 3 milhões – para investir em BDRs ou outros ativos ou fundos no exterior. 

O tamanho da carteira de renda variável da fundação depende da escolha do perfil de investimentos pelos participantes. A Funsejem oferece opções de quatro perfis: conservador, moderado, agressivo e super agressivo. A renda variável não entra apenas no perfil conservador, que contava com R$ 428,98 milhões em ativos no final de janeiro passado (ver tabela). Os outros perfis possuem diferentes níveis de exposição à renda variável, que variam desde 0% no moderado a até o máximo de 50% no super agressivo. 

A abertura do limite para investimentos no exterior não foi a única novidade da gestão de renda variável da fundação. É que antes o fundo trabalhava exclusivamente com o benchmark IBrX-100, que passou a dar espaço para outros índices a partir do ano passado. Os mandatos passaram a considerar novos benchmarks e estratégias, como o small caps e os dividendos. “Não podemos ficar escravos dos índices tradicionais. É preciso aumentar a diversificação com novos benchmarks”, diz Pisauro. O novo limite para BDRs ou ativos no exterior faz parte também da busca de uma gestão mais ativa da renda variável. 

A carteira de renda fixa também vinha sendo reformulada pela fundação. O benchmark CDI passou a dar espaço ao IMA-Geral a partir de 2010. “Tivemos melhores resultados com a mudança de benchmark de nossa carteira de renda fixa. O IMA-Geral performou bem melhor que o CDI nos últimos anos”, diz o diretor presidente da Funsejem. Ele alerta ainda para o problema do descolamento do CDI em relação à Selic nos últimos meses. “O CDI tem sofrido um descolamento para baixo da Selic. É um problema que vemos nos mandatos que ainda seguem o CDI. Estamos estudando formas de resolver o problema”, diz Pisauro. 

BDRs – Apesar da abertura do limite para investimentos no exterior aos gestores da Funsejem, apenas a Bram está utilizando a modalidade, enquanto os demais ainda estudam as melhores alternativas. A Bradesco Asset Management aproveitou seu fundo de BDRs (recibos de ações de empresas listadas nas bolsas dos Estados Unidos) lançado no final de 2011 para aplicar uma parte dos recursos da carteira do fundo de pensão. O fundo da Bram possui cerca de 70 BDRs das maiores empresas americanas em seu portfólio – que representam cerca da metade da liquidez das bolsas dos EUA. 

Para o diretor de renda variável da Bram, Herculano Aníbal Alves, as aplicações em BDRs representam uma boa oportunidade de diversificação com perspectivas positivas de desempenho neste primeiro semestre do ano. “Para as fundações é uma excelente oportunidade para desconcentrar do risco país e ampliar a composição de alguns setores que não estão presentes na bolsa brasileira”, diz Alves. O gestor explica que, além da possibilidade de experimentar a exposição na bolsa dos EUA, o investidor pode acessar um conjunto de papéis de empresas de setores como tecnologia da informação ou farmacêutica, que praticamente não estão representados no Ibovespa. 

Além disso, as empresas americanas, neste momento, apresentam boas perspectivas de recuperação e valorização, porque a maioria está com um caixa positivo. “As empresas dos EUA estão bastante capitalizadas, cerca de 80% têm caixa líquido. O PIB americano também está com sinais de recuperação”, diz o diretor da Bram. Por outro lado, a economia brasileira vem apresentando indicadores negativos neste primeiro semestre, com a inflação ainda alta e as perspectivas de juros ainda indefinidas. 

O gestor ressalta, porém, que o investimento em BDRs tem seus riscos associados aos mercados internacionais e que cada investidor precisa realizar uma análise para definir pela viabilidade de tal aplicação. Em todo caso, ele afirma que o momento é favorável para a entrada neste tipo de aplicação, até mesmo em função das perspectivas favoráveis de câmbio – relação entre o real e o dólar. No primeiro trimestre de 2013 (janeiro a março) o fundo rendeu 8%, enquanto o Ibovespa caiu 7,54% negativos. 

“É importante avaliar os riscos, pois os BDRs nem sempre apresentarão boas performances. Mas neste momento, possuem boas perspectivas”, diz Alves. A Bram lançou seu fundo de BDRs no final de 2011 e durante todo o ano passado foi apresentando para as fundações. “Quando quase ninguém acreditava, apostamos nos BDRs. As fundações demoraram um pouco para começar a entrar, mas finalmente o processo de captação se iniciou no final de 2012 e continua agora em 2013”, diz o diretor da Bram. Além da Funsejem, outras duas fundações já são cotistas do fundo da Bram. 

O fundo de BDRs do Bradesco possuía no final de março cerca de R$ 109 milhões de patrimônio líquido. Cerca de 10% dos recursos eram provenientes de fundos de pensão. “É um montante ainda pequeno, mas é significativo por causa da novidade”, afirma Alves. Por enquanto, as fundações são de pequeno e médio porte, mas segundo previsão do diretor da Bram, os grandes fundos de pensão devem começar a experimentar este tipo de aplicação nos próximos meses. 

Outras fundações – O BNP Paribas também está verificando a abertura de limites dos clientes institucionais para investir no exterior. Além da Funsejem, que é sua cliente, outras duas fundações abriram limites para a modalidade de investimentos estrangeiros. “O novo limite faz parte da estratégia de valor para as carteiras de equities das fundação”, diz Marcelo Giufrida, presidente da BNP Paribas Asset Management no Brasil. No caso da Funsejem, o gestor ainda não utilizou o limite de investimentos no exterior, pois está analisando o momento e a opção adequada para o cliente. 

Em alguns casos, a gestão da renda variável tem o objetivo de superar o IBr-X 100 mais 5% ao ano. O BNP Paribas tem oferecido a opção de aplicar recursos em sua família de fundo de fundos Access. É uma série de fundos de investimentos no exterior com diferentes estratégias em mercados globais. “Utilizamos nossa expertise e estrutura de operação em 60 países para oferecer as opções de investimentos no exterior para os institucionais e demais clientes domésticos”, diz Giufrida. 

Além da família de fundos, a asset do BNP tem utilizado também estratégias de ativos no exterior para alguns de seus fundos multimercados. “Em paralelo temos utilizado cada vez mais o recurso da arbitragem em ativos, juros e moedas globais em nossos fundos multimercados”, diz o presidente do BNP Paribas.