Edição 101
O boom do mercado de ações da década de 90 não foi apenas uma bolha construída pela especulação selvagem. Foi, ao contrário, impulsionado pela produtividade da economia, incluindo ganhos corporativos, afirmam os especialistas Roger G. Ibbotson e Peng Chen. Ibbotson é professor na cadeira de Finanças na Escola de Administração da Universidade de Yale e chairman da Ibbotson Associates Inc., de Chicago, enquanto Chen é vice-presidente de pesquisas na mesma empresa. Eles recomendam que executivos de fundos de pensão deveriam considerar o mercado de ações como o ambiente preferencial para investir e argumentam que, desta forma, conseguiriam melhores resultados do que se investissem apenas em títulos de renda fixa.
Além da expectativa sobre o prêmio de risco de participação acionária estar bem alta, é esperada uma valorização ainda maior, chegando perto de seus retornos históricos, de acordo com os dois pesquisadores. A visão dos pesquisadores difere das recentes previsões de outros analistas, que sustentavam que a expectativa do prêmio seria zero ou negativa por pelo menos alguns anos.
O elemento essencial no estudo de Ibbotson e Chen é a integração de fatores econômicos e fundamentalistas. “O que acontece no mercado de ações será provavelmente relacionado ao que acontece na economia”, disse Ibbotson em uma entrevista. “Alguns pensam que o mercado de ações anda em um ritmo diferente, mas isso nem sempre ocorre”.
O modelo, que estima a expectativa de retorno do mercado de ações a partir da produtividade macroeconômica, tem importantes implicações para decisões em alocações de ativos de patrocinadoras de fundos de pensão e outros investidores, especialmente “para aqueles que se dispõe a investir em ações, e não em títulos”, disse Ibbotson.
Divergências – Entre as recentes pesquisas que previam um panorama pessimista para o prêmio das ações, está um estudo feito por Robert D. Arnott, sócio administrador da First Quadrant LP, da Califórnia, e Ronald Ryan, presidente da Ryan Labs Inc., de Nova York. Eles pregam a morte do prêmio e acreditam que, na melhor das hipóteses, o retorno será zero. Tudo porque eles esperam que a rentabilidade após o ajuste inflacionário sobre as ações fique entre 3% ou 4% ao ano. Hoje, o retorno dos títulos está em 4%.
Ibbotson e Chen, diferentemente, esperam que o mercado de ações tenha um retorno anual composto, incluindo a inflação, de 10,7% no longo prazo, nos próximos 25 anos. Eles estimam que o prêmio das ações será de 3,96 a 4,25 pontos percentuais sobre os títulos. Isto é um ponto percentual a menos que o prêmio histórico obtido no investimento em ações do mercado comum nacional, as quais tiveram uma média anual de 5,24 pontos percentuais sobre a taxa dos títulos conservadores de longo prazo do tesouro americano entre 1926 e 2000.
“Nós nunca aconselhamos ninguém a comprar ações sem ajuda”, disse Ibbotson. “Existe o risco do mercado acionário, mas também os lucros – o esperado prêmio de risco de ações – por investir nesse mercado. E nós certamente esperamos que as ações superem os títulos por uma grande margem de diferença”, concluiu.
Dividendos – Ibbotson e Chen contestam o erro de outros pesquisadores por usarem os dados sobre dividendos em suas análises. “Acreditamos que o crescimento dos dividendos não reflete corretamente o crescimento da produtividade da empresa, especialmente durante a última década”, argumentam.
“A rentabilidade dos dividendos está no ponto mais baixo desde 1926, com 1,1% no final do ano 2000”, notam eles. “Em 1980, esse percentual estava perto de 5%. Houve uma mudança do paradigma na política de dividendos das empresas”, comentam. Para os pesquisadores, a decisão da empresa sobre os dividendos irá afetar somente a forma na qual os acionistas irão receber seus retornos, na forma de dividendos ou ganhos de capital, mas não a rentabilidade total.