A disputa no segmento de complementação de aposentadorias, envolvendo a nova safra de planos instituídos e setoriais (ver reportagem nesta edição), de um lado, e os tradicionais VGBLs e PGBLs, de outro, não é a única que os fundos de pensão irão travar com bancos e seguradoras. Eles também vão concorrer com os multipatrocinados mantidos pelos gigantes do mercados financeiro na estruturação de planos e na gestão de carteiras para pares de menor porte. Pelo menos sete entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs) envolvidas na criação de planos previdenciários familiares – casos de Fundação Copel, Funcesp, Valueprev, Instituto Sebrae de Seguridade Social e Fundação CEEE – têm projetos de seguir o exemplo da Fundação Petrobras de Seguridade Social, a Petros, que começou a explorar essa seara há 20 anos e administra hoje cerca de 30 planos patrocinados e instituídos de empresas sem quaisquer vínculos societários com a sua principal patrocinadora, a Petrobras.
“A centralização das operações em entidades maiores é uma tendência irreversível da previdência fechada, nos mesmos moldes do fenômeno ocorrido, há alguns anos, no setor bancário. Dos cerca de 300 fundos de pensão do país, um terço não tem como arcar com os custos operacionais”, comenta Rodrigo Sisnandes Pereira, presidente da Fundação CEEE.Do grupo que pretende alçar voo no setor, a Valueprev, nova denominação da HP Prev, e o Instituto Sebrae são as EFPCs com propostas mais imediatas. A primeira começou a ter ideias a respeito há dois anos, em meio a um processo de alterações no controle acionário de três de seus seis mantenedores. “Eles prosseguem como patrocinadores, mas já que deixaram de pertencer à HP decidimos mudar a razão social da entidade”, conta o diretor de investimentos João Carlos Ferreira. “Como iniciamos, de fato, a prestação de serviços para empresas de outros conglomerados, passamos a cogitar a ampliação desse público. A decisão foi tomada em outubro, pouco após a adoção do novo nome.”
Credenciais não faltam à Valueprev para oferecer serviços a terceiros. Com patrimônio líquido ao redor de R$ 1,4 bilhão e 4.500 participantes ativos, o plano de contribuição definida (CD) mantido pela entidade se tornou, no ano 2000, um dos primeiros do país a contar com perfis de investimento – quatro, no total. Além de sofisticado, o CD da casa apresenta resultados consistentes, tendo alcançado rentabilidade acumulada, entre 2013 e 2017, de 53,86%, exatos 30,30 pontos percentuais acima da média do sistema. “O desempenho tem forte relação com a renda variável, que responde por cerca de 12% da carteira do plano”, observa Ferreira.
O processo de prospecção de mercado terá início neste ano. A Valueprev pretende atrair novos patrocinadores, oferecendo planos setoriais para empresas que ainda não contam com a previdência complementar em suas grades de benefícios, além de assumir a gestão de planos de fundações de menor porte. O objetivo, como observa o diretor de investimentos, é aproveitar a expertise interna e diluir custos. “O potencial de negócios é enorme, pois ainda há um grande desconhecimento sobre previdência complementar no meio empresarial. Muitos departamentos de recursos humanos simplesmente ignoram esse benefício”, diz o executivo.
Criado em 2004, o Sebrae Previdência também pretende ampliar o seu raio de ação. O fundo de pensão soma mais de 30 patrocinadores ligados ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e à Associação Brasileira dos Sebrae Estaduais (Abase) e ostenta um patrimônio líquido de R$ 840 milhões. Hoje limitada ao plano CD SebraePrev, a sua grade de produtos deve ganhar reforços em breve. “Uma das novidades será a criação de um novo plano patrocinado, que está sendo negociado com seis entidades do chamado sistema S. As conversações tiveram início há um ano e se encontram em estágio bem avançado“, conta o diretor-presidente Edjair de Siqueira Alves.
A busca de novos clientes não se limita, contudo, ao sistema S. No momento, o Sebrae Previdência negocia com duas federações setoriais a criação de planos instituídos voltados para microempresas e microempreendedores individuais, os ‘meis’, cadastrados no Sebrae. “Trata-se de uma nova e promissora fronteira para a previdência complementar fechada, já que o contingente total de micros e meis soma cerca de 12,5 milhões”, observa Alves.
A forte disposição da EFPC para vender serviços e produtos guarda relação direta com o sucesso da estratégia de convencimento junto ao seu público-alvo prioritário. Com oito mil participantes, o plano SebraePrev apresenta um índice de adesão de 97% de sua população elegível, um dos mais elevados do sistema. “Como praticamente já ‘batemos no teto’, temos de buscar opções de crescimento”, assinala o presidente. “Um outro caminho a ser explorado é a gestão de carteiras para fundos de pensão menores. Ainda não realizamos prospecções ativas nessa área, mas estamos abertos a consultas e atentos aos movimentos do setor”, diz Alves.
Mais três fundos multipatrocinados contatados pela Investidor Institucional, a Funcesp e as fundações CEEE e Copel, também fazem planos a curto prazo para se lançar ou ampliar a sua presença no mercado como fornecedoras de terceiros. Com patrimônio líquido de R$ 6,5 bilhões, nove instituidores e 16 mil participantes, a Fundação CEEE vem ganhando musculatura: elevou para oito o seu time de patrocinadores, ao longo dos dois últimos anos, com as adesões da gaúcha Inpel Transmissões Mecânicas e das catarinenses Ceran e Foz do Chapecó. “A gestão de carteiras de outros fundos de pensão também figura em nossa agenda. Temos recebido consultas a respeito e estamos analisando as propostas”, comenta Pereira.
A mesma hipótese integra os planos de voo da Fundação Copel e da Funcesp trio. Responsável, em grande parte, pelo entusiasmo reinante no sistema fechado de previdência em relação aos planos familiares, a primeira delas já toma as primeiras providências para se lançar na trilha aberta pela Petros e que começa a ser percorrida pela Valueprev. “Ainda não estruturamos a nossa área comercial para a empreitada, mas já estamos nos preparando para a prestação desse serviço, o que demandará, claro, aprovações de nosso conselho deliberativo, dos patrocinadores e da Previc”, comenta o presidente Lindolfo Zimmer. “A demanda deve ganhar corpo no setor, especialmente por parte de entidades com menos de 500 participantes, que têm dificuldades para bancar custos com compliance, investimentos e governança.” Na Funcesp, o maior fundo de pensão privado do país, com patrimônio líquido de R$ 30,03 bilhões, está tudo pronto para a abordagem do mercado. Acalentada há anos, a proposta começou a ser analisada de forma mais objetiva em 2017. A EFPC contratou uma consultoria para avaliar a viabilidade do projeto e recebeu parecer amplamente favorável. “Ainda não tomamos a decisão final. Mas, se ela for positiva, a oferta de serviços para outras fundações e patrocinadores terá início imediato”, comenta a diretora de seguridade Luciana Dalcanale.
Prestes a completar 50 anos de atividades, a Funcesp reúne todas as condições necessárias para se tornar, de fato, referência no segmento de multipatrocinados voltados ao mercado. Além de grande experiência nesse formato organizacional, já que conta com 14 mantenedores, ela dispõe de uma expressiva massa de recursos, estratégia eficiente de investimentos e custos operacionais que estão entre os menores do sistema. “Nosso foco prioritário serão fundações menores, que têm dificuldades para atender as complexas regras do setor, e entidades e planos de multinacionais. Estas já tiveram forte presença na previdência complementar fechada, mas hoje estão mais concentradas em suas atividades empresariais”, diz a executiva.
O time de EFPCs candidatas a prestadoras de serviços ao sistema inclui ainda pelo menos dois outros nomes de peso. São o Metrus, com quatro patrocinadores, e a Odebrecht Previdência, que contabiliza cerca de 200 mantenedores, entre os quais diversas sociedades de propósito específico (SPEs) constituídas para a execução de obras de construção civil. A dupla avalia a opção há pelo menos um ano, sem previsão, entretanto, de implementação. “A administração de carteiras de terceiros é um projeto que está no nosso planejamento estratégico, mas não no curto prazo”, resume Rubens Pimentel Scaff Junior, ex-presidente do Metrus.