Empresas lançam fundos de Internet | Fundações perdem a aversão a...

Edição 70

Se alguém batesse a porta de uma fundação no início de 99 com uma proposta de fundo de investimento em empresas emergentes de internet, provavelmente não seria atendido ou não receberia muita atenção. Até alguns meses atrás, os investimentos em internet ainda pareciam fazer parte de uma realidade distante dos fundos de pensão.
Hoje, porém, os fundos de internet já começam a despertar o interesse das entidades fechadas. Por isso, alguns administradores de recursos como o Investidor Profissional, o Opportunity (ler matéria na edição n° 66) e o Pactual estão se apressando para estruturar os primeiros produtos deste gênero direcionados aos institucionais.
O Investidor Profissional, por exemplo, está lançando um fundo fechado de investimentos em empresas emergentes de internet. O IP.com pretende lançar sua primeira tranche de R$ 10 milhões em meados de janeiro próximo. A expectativa inicial é captar de imediato cerca de R$ 5 milhões provenientes de investidores pessoas física. Depois de seis meses, o fundo abrirá uma segunda tranche que pode atingir o volume de até R$ 100 milhões.
“Vamos direcionar a captação da segunda tranche para os investidores institucionais em meados do ano 2000”, prevê Francisco Corrêa da Costa, sócio-diretor da área comercial do Investidor Profissional. Persistindo a tendência de redução consistente da queda de juros da renda fixa, os fundos de pensão devem aumentar o apetite para aplicações de maior risco como estratégia para conseguir melhores desempenhos. “Os riscos são altos mas a expectativa de retorno é bastante atraente”, afirma.
O IP.com está selecionando de 6 a 8 empresas de internet para investir os recursos captados na primeira tranche. O fundo tem o prazo de existência de cinco anos e a principal forma de se desfazer do capital investido será através da venda da participação para empresas entrangeiras.
O Pactual também pretende lançar um fundo de internet no primeiro trimestre do ano que vem. O Pactual Internet Fund será direcionado para investidores institucionais e private dispostos a assumir posições mais agressivas. “O fundo de internet é uma ferramenta ideal para alavancar pequenos volumes”, diz Marcelo Serfaty, diretor de asset management do Pactual. O administrador está finalizando o desenho do fundo e pretende solicitar a aprovação para seu funcionamento na Comissão de Valores Mobiliários nos próximos dias.
Outro gestor que possui planos de estruturar um fundo de empresas emergentes de internet e tecnologia é o Fator. O fundo não ficará restrito a internet e deverá investir também em outros segmentos de informática, telecomunicações e mídia. O foco principal do novo produto, que deve ser lançado antes do término do primeiro semestre de 2000, será os investidores institucionais e entidades ligadas ao setor de pesquisa tecnológica.
O Fator já administra dois fundos de pequenas e médias empresas com participação de institucionais, um de Santa Catarina e outro de Minas Gerais, que podem atingir no total a captação de até R$ 70 milhões. Com o novo fundo de tecnologia, o gestor pretende fechar o ano que vem com aproximadamente R$ 200 milhões comprometidos com companhias emergentes.
“Os institucionais estão perdendo a aversão que possuíam pelos fundos de empresas emergentes e privates equities e dentro de alguns meses devem começar a investir com mais frequência neste tipo de produto”, acredita Sidney Chameh, diretor de private equity do Fator.

Interesse – O multipatrocinado Previsc é uma fundação que pretende reservar uma parte de seu patrimônio para aplicar em fundos de empresas emergentes, especialmente aqueles focados em internet. “Acredito que podemos investir de 3% a 5% de nosso patrimônio em fundos de empresas emergentes”, revela Carlos Renato Cruz Lima, diretor financeiro da Previsc. Ele afirma que o fundo de pensão está aberto para estudar propostas de fundos de internet.
Mais que isso, a entidade está envolvida em um projeto de criação de um fundo de empresas de internet de Santa Catarina em parceria com a Federação das Indústrias do Estado (FIESC). O projeto funcionaria acoplado a outro fundo de empresas emergentes (ler matéria na edição n° 68) que é administrado pelo Fator e que conta com a participação de outras entidades fechadas catarinenses.
Mesmo com o aumento do interesse das fundações por investimentos em empresas de internet e outras emergentes, é provável que os primeiros negócios ainda demorem alguns meses para serem concretizados. Isto deve ocorrer porque o próprio segmento de internet tem uma história muito curta no Brasil.
“As fundações não costumam ser as pioneiras em investimentos não-tradicionais e, por isso, acredito que a entrada dos institucionais deve começar a ocorrer a partir do segundo semestre do ano que vem”, prevê Evêncio Elias Filho, diretor administrativo e financeiro da Celos, fundo de pensão da Companhia de Eletricidade de Santa Catarina. Além disso, neste momento a maioria dos fundos de pensão estão mais atentos às possibilidades de ganhos na renda variável do que com outras aplicações.