O Economus, fundo de pensão dos funcionários da antiga Nossa Caixa, incorporada pelo Banco do Brasil (BB) em 2009, é conhecido por suas fortes posições em títulos públicos federais. Os papéis da União respondem por cerca de 55% de seu portfólio de investimentos, 38,5 pontos percentuais acima da média do sistema fechado de previdência complementar.Quando esses ativos garantiam ganhos que chegavam a corresponder ao dobro das metas atuariais, tudo ia bem. Nos últimos anos, entretanto, essa realidade vem mudando, já que os títulos públicos não estão mais pagando o suficiente para custear as aposentadorias. Para se livrar da armadilha representada pelo volumoso estoque de papéis da dívida federal, 60% do qual vencerão nos próximos dez anos, a nova direção do Economus, que começou a mudar em abril de 2019 com a nomeação de Júlio Cezar Tozzo Mendes Pereira para a diretoria de investimentos, aprovou a contratação de três fundos multimercados.
O processo de escolha dos gestores começou logo após a chegada de Pereira à casa, com a formação de um time multidisciplinar composto por profissionais das áreas de investimentos, risco e jurídica, além de consultores externos. Cerca de 40 gestores foram submetidos a escrutínio, com base em critérios de rentabilidade, performance e risco. “Batemos o martelo em outubro, com a definição de três fundos abertos, de gestores distintos, nos quais estamos prestes a realizar as primeiras aplicações”, conta o executivo. “Os veículos dão boas opções de diversificação, pois contam com carteiras macro e ancoradas mais fortemente em ações.”
A fundação não quis revelar o nome das assets escolhidas, justificando ser estratégico. De qualquer forma, elas terão como meta gerar ao plano PrevMais, único produto previdenciário da fundação aberto a adesões, uma rentabilidade anual equivalente a 125,50% da variação da taxa Selic, conforme definido pela política de investimentos. “Acreditamos que, nos dois primeiros anos de operações, os multimercados responderão por algo entre 1% e 2% do patrimônio da fundação”, diz Pereira.
Com patrimônio líquido de R$ 6,8 bilhões, o Economus tem cerca de R$ 4,5 bilhões abrigados no plano BD e R$ 2,06 bilhões no PrevMais, de contribuição variável (CV). O primeiro está às voltas com três equacionamentos de déficits – o mais recente, de R$ 1,5 bilhão, apurado em 2017 –, mas vem apresentando rentabilidades consistentes. Entre 2017 e 2019, rendeu 8,93%, 17,85% e 16,62%, superando as metas atuariais em 1,64, 8,21 e 5,90 pontos percentuais. Já o CV encerrou 2019 com rentabilidade de 8,33%, 0,48 ponto acima da meta estabelecida.
Em dezembro passado, o BD contabilizava 79,8% de seus recursos em renda fixa e 10,8% em renda variável, opções que renderam retornos de 14,54% e 30,95%, respectivamente. O restante estava aplicado em imóveis (4,3%), operações com participantes (1,8%), e investimentos estruturados (3,35%). Já o CD, tinha 87% alocados em renda fixa, basicamente títulos pós e prefixados, que contribuíram com um ganho de 7,13%, além de 6,7% em empréstimos aos participantes, 6% em renda variável e 0,3% em fundos estruturados.
Além de iniciar a reestruturação do portfólio, contratando gestores multimercados e mudando o perfil de investimentos, a fundação vem aplicando um rígido programa de controle de gastos. O aperto de cintos ganhou intensidade a partir de 2018, em razão do déficit apurado no exercício anterior. “O processo de reestruturação foi intenso. O quadro de pessoal, por exemplo, teve uma redução de 21%, para 144 funcionários, em 2018”, comenta o diretor-superintendente Amauri Aguiar de Vasconcelos, que assumiu o posto em novembro.
O corte gerou uma economia de R$ 5 milhões, equivalente a 15% da folha de pagamentos em 2016. Além disso, a fundação, entre outros ajustes, terceirizou o processamento de dados, desfez-se de dois veículos e de uma equipe de motoristas, e renegociou contratos com fornecedores, conseguindo reduzir os pagamentos, no caso das operadoras telefônicas, em até 70%. “Enxugamos as despesas, no total, em R$ 11,6 milhões ao ano”, observa Vasconcelos.
O déficit mais recente no plano BD é resultado da somatória de diversos fatores, entre eles um programa de incentivo às aposentadorias do BB, revisões de benefícios decorrentes de ações judiciais e a rentabilidades abaixo das metas atuariais no passado. A conta, a ser dividida entre patrocinador (50%) e participantes, aposentados e pensionistas (os outros 50%), começou a ser paga há dez meses e levará 17 anos para ser completamente equacionada.
Para evitar novos desequilíbrios, a cúpula do Economus tomou duas providências recentemente: reduziu a meta atuarial do BD, de 5,85% para 5,5% além da variação anual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e tirou de cena a antiga Tábua de Entrada em Aposentadoria, cujos parâmetros levavam em conta a postergação dos pedidos de aposentadoria por parte dos participantes do plano, hábito que caíra em desuso há um bom tempo. “A nova tabela prevê a disponibilidade de 100% dos recursos capitalizados tão logo o participante preencha os requisitos de elegibilidade dos benefícios previdenciários. Não corremos mais riscos em razão de aposentadorias intempestivas”, assinala Pereira.