Dois meses de inflação alta não assusta o mercado | Economistas d...

Edição 84

A alta da inflação nos meses de julho e agosto não está assustando o mercado. Economistas ligados a bancos de investimento consideram que o balanço de 2000, no que se refere às metas inflacionárias, será positivo. As taxas devem ficar dentro das metas estipuladas pelo governo, de 6% com possibilidade de variar 2% para cima ou para baixo. “O desemprego e a inadimplência elevados garantiram que o aumento nos preços do atacado não fossem repassado ao varejo”, explica a economista do CCF Brain, Sandra Petroncare. “A desvalorização em torno de 5% da massa real de salários, no ano passado, foi um dos principais fatores no controle dos preços.”
Segundo Sandra, a alta da inflação em julho e agosto já era esperada, tanto para o IGP quanto o IPC, em razão da subida dos preços administrados, com destaque para energia elétrica, gasolina, gás e telefonia fixa. “O único que surpreendeu foi o álcool, que já havia subido no final do ano passado, atingindo 55% de setembro a novembro”, diz Sandra. “Neste ano, o álcool já subiu 30% até julho.”
Para Sandra, a inflação deve voltar a cair até o final do ano, mais marcadamente nos meses de setembro e outubro, com a média do IGP atingindo 0,65%. “Em dezembro e janeiro, as matrículas e mensalidades devem pressionar novamente os índices, mas no segundo semestre do ano que vem as taxas de inflação devem ser a metade deste ano”, afirma.
O otimismo de Sandra também é compartilhado por Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank. “Acredito que em setembro a inflação voltará a níveis próximos dos que tínhamos antes de julho. Esses dois meses, julho e agosto, não são indicadores de aumento progressivo da inflação.” Segundo Kawall, a inflação de setembro deve ficar cerca de 0,2% acima do que se previu, mas isso não representa nenhuma crise. “Para os investidores internacionais, esse repique da inflação não importa muito. Eles levam em consideração principalmente o câmbio, e pensam mais a longo prazo. Um aumento da inflação em dois meses não significa nada.”
Na opinião do economista-chefe do Lloyds Bank, Odair Abate, o repique da inflação não surpreendeu o mercado. “Já era esperado”, analisa. De acordo com ele, o repique reduziu a remuneração da renda fixa, mas mesmo assim não houve uma mudança significativa no portfólio dos investidores. “A bolsa foi certamente uma alternativa mais rentável nos últimos dois meses, mas as aplicações em renda variável tiveram uma alta moderada, perto de 3,9%.”
Quanto ao humor dos investidores externos, Abate diz que não foi afetado. Segundo ele, continua havendo uma entrada expressiva de dólares no Brasil, porém como as taxas de juros não estão atrativas os investidores estão preferindo aplicar os recursos diretamente na indústria e nos serviços, deixando de lado as oscilações do mercado financeiro.