Diversificação volta à mesa | Enquanto ainda aproveitam juros alt...

Edição 360

O início do ciclo de queda da taxa de juros no Brasil e a perspectiva de que o movimento prossiga ainda por algum tempo fazem com que os fundos de pensão passem a avaliar estratégias de diversificação dos portfólios de investimento. Dessa forma, ações em bolsa, fundos imobiliários, multimercados e alocação no exterior tendem a ganhar espaço nas carteiras das fundações, de modo a aumentar a diversificação diante de um cenário de menor atratividade da renda fixa à frente. Os títulos públicos e privados, contudo, ainda oferecem taxas de rentabilidade suficientemente elevadas para cumprir com as metas atuariais, e por enquanto seguem entre as principais opções das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs).
Presidente do Metrus, Alexandra Leonello afirma que, com o início do ciclo de corte da taxa Selic em 2023 e a expectativa de continuidade da queda dos juros em 2024, os modelos traçados internamente sugerem o alongamento das carteiras de renda fixa em títulos públicos atrelados à inflação, bem como o incremento na alocação em fundos multimercado, pela possibilidade desses veículos de operar diversos mercados e estratégias descorrelacionadas.
Alexandra diz que os multimercados têm o potencial de se aproveitar das incertezas relacionadas à política monetária nos Estados Unidos e da consequente volatilidade causada nas Bolsas globais e nos juros futuros. “Os multimercados são capazes de capturar ganhos com risco e volatilidade menores, obtendo melhor retorno ajustado ao risco, se comparado com demais classes de ativos mais voláteis”, afirma.
Em relação à Bolsa de Valores, Alexandra diz que, embora a queda da Selic seja positiva para a recuperação dos lucros, as incertezas no cenário externo sugerem alguma cautela antes de aumentar o risco das carteiras via ações. “Dados os ventos contrários e a favor, os modelos sugerem a manutenção da alocação atual no segmento de renda variável, priorizando a diversificação de gestores e estratégias.”
A dirigente afirma ainda que, na renda variável, um dos ativos de interesse do Metrus são os fundos imobiliários. Segundo ela, os fundos imobiliários são uma alternativa que oferece vantagens importantes, como o pagamento regular de dividendos que podem contribuir para o fluxo de caixa e o pagamento de benefícios dos participantes, além de tratar-se de uma categoria que teve um grande desenvolvimento nos últimos anos, aumentando a liquidez e a diversificação dos ativos.

Tijolos – O diretor de investimentos da Fapes, Leonardo Mandelblatt afirma que os fundos imobiliários também têm sido considerados como forma de aumentar a diversificação da carteira da EFPC do BNDES. “No momento, vemos os preços dos ativos de tijolo atrativos, pois o ciclo de queda dos juros está apenas em seu início”, afirma o especialista.
Ele diz que a evolução da atuação em fundos imobiliários passa por atuar através de gestores externos especializados, que possuem escala e know-how para melhor gerir um portfólio de FIIs. “A estratégia é aumentar a diversificação da carteira e a representatividade dos FIIs. Para isso, precisamos também desinvestir de alguns ativos diretos.”
Mandelblatt diz ainda que, frente à perspectiva de queda dos juros nos próximos meses, a estratégia adotada pela Fapes tem sido a de priorizar a inclusão de ativos livres de risco de longo prazo na carteira, que ainda oferecem rendimentos acima da meta atuarial, e, ao mesmo tempo, explorar a diversificação apropriada dos investimentos.
“Atualmente, estamos em fase de elaboração da política de investimento para o ano de 2024. Nossa governança segue um processo rigoroso para a definição dessa política, que leva em conta a análise de cenários econômicos, projeções de mercado e estudos de riscos, sempre com o objetivo de manter a expectativa de rentabilidade condizente com a meta atuarial estabelecida”, afirma o diretor.
Ele acrescenta que, no atual cenário econômico, é inegável que a Bolsa de Valores tem atraído uma atenção considerável por parte dos investidores, devido à queda da taxa Selic e às oportunidades de retorno potencialmente mais elevado oferecidas pela renda variável. No entanto, a decisão de aumentar a alocação em ações é um processo complexo que requer uma análise cuidadosa e uma abordagem equilibrada, diz o diretor da Fapes.
Segundo o dirigente, mesmo com a expectativa positiva em relação ao desempenho da renda variável, a renda fixa ainda se destaca no radar da Fapes. “A segurança e a previsibilidade proporcionadas pela renda fixa são aspectos críticos quando se trata de cumprir nossas obrigações com os beneficiários.”

Juros reais – Seguindo a mesma linha de pensamento de Mandelblatt, Alexandra, do Metrus, diz que, apesar do início do ciclo de queda dos juros no Brasil, a renda fixa deverá continuar atrativa em 2024. Além de o segmento proporcionar segurança e liquidez, os juros reais deverão permanecer elevados no próximo ano, assinala a dirigente, fazendo referência às projeções contidas no relatório Focus que apontam para a Selic em 9% em dezembro de 2024, com uma inflação projetada para o ano que vem de 3,87%.
“Como o foco do Metrus está voltado para o longo prazo, a principal estratégia continuará sendo as oportunidades proporcionadas pelos títulos públicos brasileiros indexados à inflação, já que fatores externos como a perspectiva de manutenção de altas taxas de juros do Tesouro americano e fatores internos relacionados ao risco fiscal podem perdurar por um longo período e deixá-los ainda mais atrativos”, afirma a presidente do fundo de pensão dos metroviários de São Paulo.

Metas atuariais – Segundo o diretor de investimentos do Postalis, Carlos Alberto Zachert, os investimentos da fundação em renda fixa devem garantir rentabilidades acima das suas metas atuariais em 2023. Mas já está em andamento um reposicionamento estratégico para incluir alternativas de alocação mais apropriadas para o novo cenário de uma menor taxa de juros. “Temos estudado alternativas de investimentos em crédito privado, ativos estruturados, multimercados e ações que ofereçam valor e expectativa de crescimento, buscando aproveitar as oportunidades com a retomada do crescimento econômico e preços depreciados de negociação desses papéis no mercado”, afirma.
De forma comedida, acrescenta o diretor do Postalis, a fundação pretende, ao longo dos próximos meses, ampliar a alocação em ações na carteira própria. Um estudo aprofundado dos papéis que oferecem possibilidade de ganhos acima do benchmark está sendo realizada.
Segundo Zachert, os investimentos no exterior também podem contribuir para uma maior e mais eficiente diversificação da carteira do Postalis. “Avaliamos que as oportunidades na renda variável [no exterior] devem continuar sendo favoráveis no longo prazo, a serem confirmadas pelas sinalizações de retomada de crescimento da economia dos EUA e da China”, afirma o dirigente.

Exterior – Para o diretor de investimentos da Funpresp, Gilberto Stanzione, a alocação no exterior também é uma opção considerada na política de investimento da entidade dos servidores federais para o próximo ano. “O câmbio tem se mantido em patamares bastante atrativos nos últimos meses, o que favorece este tipo de aplicação.”
Na avaliação do dirigente da Funpresp, as altas taxas de juros no mundo fizeram a balança pender em direção à renda fixa, motivo pelo qual tem preferido os títulos do tesouro norte-americano em comparação com as Bolsas mundiais nos últimos meses.
“Mantivemos relativamente estáveis nossas aplicações em renda variável no exterior, enquanto direcionamos os novos recursos preferencialmente para a renda fixa. No próximo ano, esperamos que essa equação ainda possa perdurar por certo tempo.”
Stanzione diz que, embora as taxas de juros no Brasil ainda estejam em patamares bastante elevados, a fundação vem consistentemente apostando na diversificação da carteira como forma de se antecipar a mudanças no cenário econômico.
Com isso em mente, nos últimos anos, a EPFC investiu em fundos de ações locais e no exterior, de crédito privado local, multimercados e, recentemente, passou a investir também em ouro, além dos títulos do tesouro norte-americano. “Alguns desses investimentos são relativamente pequenos, não chegam a 1% da carteira, mas abrem portas que podem ser importantes em casos de mudanças no ambiente econômico.”
O dirigente acrescenta ainda que, dentro da estratégia de diversificação da Funpresp, o próximo passo é iniciar a atuação no segmento de fundos imobiliários. A fundação está no meio do processo de escolha dos veículos para este tipo de investimento. “Este segmento, tipicamente, se beneficia de um cenário de taxas de juros mais baixas, tal qual aquele que se pronuncia a partir da queda da Selic.”
Em relação às ações na Bolsa, Stanzione afirma que os juros ainda elevados, não só no Brasil como também no exterior, reduzem o apetite a risco dos agentes econômicos. “Por esse mesmo motivo, nós não devemos aumentar o espaço das ações na próxima revisão da política de investimentos, mas vamos mudar um pouco a abordagem deste tipo de aplicação”, afirma.
A fundação dos servidores federais deve iniciar, a partir de 2024, a busca por estratégias ativas com ações, em comparação com o modelo adotado até aqui de atuar no segmento por meio de fundos passivos que acompanham o Ibovespa.
Apesar do trabalho de diversificação em curso, o diretor da Funpresp assinala que aumentou em 2023 a já alta participação de títulos públicos na carteira, como forma de aproveitar o elevado patamar das taxas de juros no país. “A renda fixa ainda está em patamares bastante atrativos no Brasil.”

NTN-Bs – O diretor de investimentos da Valia, Mauricio Wanderley afirma que os atuais níveis de taxa das NTN-Bs permitem a compra desses títulos acima das metas atuariais da maioria dos planos. “Já na parcela de crédito privado, aproveitamos a elevação dos spreads esse ano, explicada em parte pelos estresses do primeiro trimestre, para comprar títulos de crédito com duration baixa de alta qualidade de crédito”, diz o diretor da Valia.
Ele avalia que, após um ano desafiador para a Bolsa brasileira em 2022, há um potencial de valorização importante para os ativos de renda variável local, inclusive como uma oportunidade mais atraente em comparação com o exterior. O avanço de pautas fiscais, a trajetória de desinflação seguida do começo do ciclo de afrouxamento monetário, bem como a surpresa positiva de crescimento puxada pelo agronegócio são fatores que tendem a sustentar os preços das ações, afirma Wanderley.

ALM das carteiras – A diretora de investimentos da Fundação de Previdência Complementar do Estado de São Paulo (SP-Prevcom), Francis Nascimento, diz que a fundação está iniciando o estudo de ALM das carteiras para verificar se, com a mudança de cenário e redução nas taxas de juros, haverá necessidade de um rebalanceamento da carteira. Segundo ela, a entidade mantém uma carteira bem diversificada, sendo 40% indexada ao CDI e 49,5% indexada a inflação. O restante, 10,50%, está indexado ao Ibovespa, ifix e MSCI Europa.
“Temos 37% da carteira alocada em um fundo exclusivo composto 100% de títulos públicos, sendo 79% em NTN-Bs cuja média ponderada de retorno é de IPCA+5.8% e 21% em LFT, o que nos deixa um pouco mais tranquilos quanto ao cumprimento das metas de 2023 e 2024.”

Alocação em NTN-Bs – O diretor de investimentos e finanças do Cibrius, José Carlos Alves Grangeiro afirma que a entidade aumentou significativamente a alocação em NTN-Bs em 2022 e 2023. Cerca de 80% dos investimentos estão indexados à inflação, e somente 3,6% ao CDI. “Sendo assim, acreditamos que nossa carteira está adequada para o cenário projetado para os próximos anos, indicando resultados acima das metas e com estabilidade de longo prazo”, diz Grangeiro.
O diretor do Cibrius afirma que a renda fixa segue oferecendo oportunidades, tanto na compra de títulos para carregar até o vencimento, como via alocações estratégicas e táticas visando capturar ganhos nas variações a mercado. De acordo com as análises da fundação, os nichos que mostram maior atratividade são o dos juros reais de 10 anos e os prefixados de curto e médio prazo.
De toda forma, o dirigente assinala que, no plano de Contribuição Variável, que reúne uma base de participantes mais jovem, a EFPC vem aumentando a alocação em ações desde o início do segundo Trimestre de 2023 e com a perspectiva de realizar mais alguns aportes. “De acordo com o cenário que projetamos, foi dada preferência para as estratégias de “mid e small caps” e de valor.”