Edição 382

A renda fixa manteve posição de destaque no estudo de ALM e de fronteira eficiente feitos pela Fundação Libertas para seus planos BD e CD, respectivamente. “A política de investimentos seguirá sem mudanças expressivas em 2026, apenas com ajustes pontuais nos planos CD, que vão direcionar mais recursos para o crédito privado, especificamente para ativos de emissores do setor financeiro, além de um aumento marginal de alocação no exterior”, informa Juliana Koehler, diretora de investimentos e controladoria da Fundação Libertas.
A fundação tem R$ 5 bilhões em ativos totais em 13 planos de benefícios sob gestão, todos bem distintos entre eles, dos quais o maior é um CD da Copasa.
Os investimentos no exterior, que atualmente respondem por 4% dos ativos totais e estão em fundos multiestratégia, passarão a ter uma alocação objetivo de 7%, retomando o percentual que havia no início deste ano. “Hoje os títulos públicos federais são majoritários. Em renda variável, temos uma média de 3% dos recursos e a intenção é manter esse percentual, embora a alocação objetivo seja de 2%”, diz.
Nos planos de Benefício Definido (BD), a alteração será mínima, até porque há planos mais maduros e a alocação média em renda fixa é de 90%, sendo que quase 100% disso está em títulos públicos federais marcados na curva. “Em 2025, até novembro, todos os planos superaram metas e metas de referência. Para 2026, teremos mais um ano de renda fixa e de busca por liquidez”, afirma Koehler.
Ponto relevante de diversificação, o percentual de investimento da fundação em ativos no exterior está acima da média do mercado, com um fundo de fundos (FoF) exclusivo totalmente voltado ao segmento multiestratégia. “Não fazemos 100% de proteção cambial, mas temos um hedge dinâmico que é feito pelo próprio gestor. A carteira desse FoF tem entre dez e quinze fundos de gestores internacionais”, conta a diretora.
O segmento sofreu uma redução tática de 7% para 4% ao longo do ano por conta do atrativo do juro alto e também porque a fundação ficou apreensiva em relação ao impacto da economia dos EUA uma vez que o fundo investia muito em ativos daquele mercado. “Agora, com o cenário turbulento arrefecendo nos EUA, devemos retomar o que havia no início do ano, mas também com ativos da Europa e de outras geografias. O exterior traz o benefício da liquidez, o que é importante hoje para os nossos planos”, diz.
O passivo dos planos tem duration média de nove a dez anos e o melhor caminho neste momento é ficar na renda fixa e buscar liquidez. “Para mudar, será preciso que a taxa de juro caia mas não acredito que isso se dará de forma expressiva já no início do próximo ano”, avalia.
A fundação aderiu este ano ao PRI (Principles for Responsible Investments, programa internacional de investimentos sustentáveis) e sua política de investimentos traz um capítulo adicional que destaca o ESG na seleção de gestores externos e de ativos. “Já tínhamos essa diretriz mas agora nos antecipamos à regulação da Previc e inserimos esses critérios na política de investimentos”, conta Koehler.

Volatilidade em ano errático – Cada um dos três perfis de investimento oferecidos pela Fundação Promon aos seus participantes tem uma carteira pré-definida de alocação, explica André Natali, diretor de investimentos. Um dos perfis é de renda fixa a longo prazo, puro perfil data-alvo, atualmente voltado apenas a alocar em NTN-B com vencimento em 2032. Há ainda um perfil de renda fixa aderente ao CDI e o outro com uma carteira mais diversificada e de risco moderado, que exige olhar mais para alocações estratégicas, diz Natali. “Mas é uma carteira diversificada, com uma pitada tática, inclui renda variável e alguns multimercados. Em 2026 deve seguir na mesma linha, talvez com alguns movimentos táticos específicos, como a redução do crédito privado, por exemplo”, detalha.
Ele observa que essa carteira tem hoje 10% de crédito privado dentro da parcela de renda fixa. Mas observa que também será preciso discutir melhor também a bolsa e talvez aumentar um pouco os 10% que a fundação tem em multimercados estruturados. “Isso porque o ambiente tende a ser mais errático e volátil em 2026, típico de ano eleitoral, e os multimercados podem ter um papel interessante na gestão dessa volatilidade”, avalia.
Atualmente, a carteira diversificada tem cerca de 50% do patrimônio do plano CD, com aproximadamente 30% no perfil mais conservador e 20% no perfil de renda fixa para 2032, que é um data-alvo. “Nosso trabalho é estar muito presentes nos movimentos de migração dos participantes entre perfis. A próxima janela de migração será em março de 2026, um momento que tende a ser conturbado na política e é importante orientar o participante para não seguir esse caminho”, diz.
Há os que vão olhar para rentabilidade passada, outros devem tentar analisar cenários e manobrar o comportamento dos ativos. “São duas apostas que procuramos combater, até porque acreditamos que as eleições fazem pouca diferença nas nossas alocações, ainda que eleições tenham efeito sobre os mercados”, acredita. O objetivo é incentivar o participante a olhar mais para o seu ciclo de vida, com um olhar mais previdenciário.
A entidade já tem um pedaço grande da renda fixa em IMA (inflação) e a carteira está posicionada para o fechamento da curva de juros, se houver essa queda de fato. “Se não houver o corte da Selic, de todo modo o carrego parece interessante”, diz Natali.
Estratégias distintas – A partir de seu modelo próprio de ALM, a política de investimentos da Funcef simula cenários e indica um modelo central que melhor se adapta a cada plano, ou “um cenário ideal de equilíbrio risco/retorno”, explica Fabiano Nogueira, diretor de investimentos e participações em exercício. A fundação administra seis planos, com características distintas de maturidade, estruturas de passivo e com necessidades atuariais próprias.
“A alocação estratégica precisa refletir todas essas características e necessidades, mas em linhas gerais a política de investimentos para o período de 2026 a 2030 permanece alinhada às diretrizes já implementadas em 2025, sem alterações estratégicas mas apenas com ajustes táticos”, afirma.
Em 2026, ele lembra que devem ser aprofundadas as diretrizes que vêm se mostrando consistentes. “O foco permanece na adequação das carteiras ao perfil de cada plano, reforçando a gestão de risco, a previsibilidade dos retornos e a sustentabilidade de longo prazo dos planos”, diz Nogueira.
As estratégias são divididas em três grupos. No primeiro deles estão os planos REG/Replan Saldado e REG/Replan Não Saldado. “Nesses planos de Benefício Definido com maior número de participantes, seguimos priorizando carteiras que combinem previsibilidade de retorno, liquidez adequada e reduzindo a exposição ao risco”, informa. A estratégia de aumento da exposição a títulos públicos marcados na curva, iniciada nos últimos anos, permanece central.
A combinação de imunização do passivo, casamento de fluxos e redução de volatilidade se mostrou fundamental para melhorar a sustentabilidade de longo prazo desses planos, segundo o diretor.
No segundo grupo estão o Novo Plano BD e REB BD, que são planos BD superavitários. “Por isso, mantivemos a diretriz de buscar retornos compatíveis com a meta atuarial e alocação muito concentrada em títulos públicos marcados na curva”, explica. Esses planos têm carteira de NTN-B próxima de 90% do PL dos planos, com taxas contratadas superiores a IPCA + 6%, bem superiores à meta atuarial.
No grupo dos planos de Contribuição Definida, o Novo Plano CD e o REB CD, a lógica é um pouco distinta, lembra Nogueira. “Buscamos maximizar o índice de Sharpe por meio de portfólios que combinem eficiência de risco, diversificação e oportunidades táticas”, diz. Nesse caso, a recente redução da exposição à renda variável e o aumento da alocação em títulos públicos foi um movimento importante para reduzir a volatilidade dos planos para níveis inferiores a 4% e aumentar a consistência do retorno.
A estrutura interna inclui equipes especializadas que são responsáveis por gerir 93% dos recursos do patrimônio total da entidade, sendo que apenas 7% ficam com gestores terceirizados. “Temos muita confiança na gestão própria, as equipes estão alocadas na Diretoria de Investimentos e têm amplo apoio de backoffice das áreas de risco, conformidade e jurídico.

Mais bolsa, menos crédito – Reforçar as práticas de investimento responsável (ESG mais Integridade) e formaliza-las dentro da política de investimentos; impor limites mais restritivos para algumas classes, como por exemplo a de crédito privado, ampliar bolsa local e vetar novos investimentos em private equity são algumas das diretrizes mais relevantes estabelecidas pelo Metrus em sua política para os próximos cinco anos, diz João Ernesto de Lima Mesquita, diretor de investimentos/AETQ.
“Estamos restringindo a alocação em FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) ao exigir ratings de emissão da S&P, da Fitch e da Moody’s, as três maiores agências de classificação de risco”, afirma Mesquita. Além disso, o limite máximo para alocação em crédito privado foi reduzido de 50% para 30%. “Atualmente os spreads de crédito estão muito amassados, até pelo efeito dos ativos incentivados, então não devemos aumentar a alocação por enquanto”, diz.
Com patrimônio de R$ 1,62 bilhão no plano I (BD) e de R$ 2,16 bilhões no plano II (CV), além de R$ 146 milhões no plano assistencial, o Metrus tem também um plano família, um CD com R$ 8 milhões. No plano BD, que fez imunização total de seu passivo, a renda fixa representa 94% dos ativos totais, enquanto no plano CV esse percentual é de 87%. No plano BD, a fundação saiu de multimercados e da renda variável para focar exclusivamente em NTN-B. Já no plano CV, saiu dos multimercados mas manteve a renda variável local e no exterior.
“O objetivo é aumentar a alocação do plano CV em bolsa local e para isso estamos em processo de montagem de um FoF de renda variável com um gestor terceirizado”, afirma Mesquita. A intenção é tombar os cinco fundos de renda variável atuais, de gestores externos, para dentro do novo FoF. “O desempenho da bolsa brasileira tem avançado bem e queremos aproveitar o market timing”, diz. O plano CV tem atualmente R$ 88 milhões alocados em exterior e R$ 81 milhões em bolsa local.
“O cenário de 2026 aponta muita volatilidade e queda de juros, um ambiente em que acreditamos que possam surgir oportunidades”, afirma Mesquita. A entidade pretende vender alguns ativos ilíquidos como os de private equity e imobiliários para aproveitar os recursos na compra de NTN-B. Entre eles, a carteira de FIPs, que hoje tem R$ 20,5 milhões, e a carteira imobiliária, com R$ 63 milhões.
“A carteira de imóveis tem participação em dois shoppings bons, são ativos interessantes, mas o objetivo hoje é a NTN-B. No private equity, os nossos FIPs já estão em fase de desinvestimento e há carteiras incumbentes em alguns deles. Hoje são nove FIPs e vamos nos desfazer deles além de proibir novos investimentos nessa classe”, diz.