Diversificação é o segredo | A possibilidade de ampliar o leque d...

Edição 351

O interesse pelo uso de FoFs cresceu particularmente junto aos fundos de pensão, que já representam cerca de um terço dos R$ 79 bilhões desse segmento no Brasil, mas também entre as seguradoras, principalmente no caso daquelas que demandam fundos exclusivos. De acordo com o responsável pela área comercial, de marketing & digital da BNP Paribas Asset Management, Aquiles Mosca, parte significativa da demanda por fundos exclusivos, tanto por fundos de pensão quanto por seguradoras, tem sido puxada pelas consultorias de investimentos.
Segundo ele, as consultorias sugerem os FoFs pela vantagem da diversificação de ativos e de gestores. “Uma frente importante de crescimento para nós, desde o ano passado, tem sido a montagem de estruturas específicas de FoFs exclusivos de renda variável, com hedge em bolsa, para as fundações. Já temos um contrato desse tipo em pé e dois outros em fase de negociação”, diz.
São casos de entidades que já têm um FoF de renda variável mas querem ter um segundo, que traga mecanismos de proteção na bolsa. “São clientes que querem consolidar o que já têm num único instrumento, para ter uma única cota. Em geral são EFPCs com posições estruturais em renda variável e perfis de investimento em seus planos, então eles precisam manter a exposição à renda variável para atender os percentuais de alguns perfis”, diz.
Em 2021, a entidade para a qual a asset montou essa estrutura terminou o ano com uma perda inferior a 7%, enquanto o Ibovespa teve desvalorização de 11,93%, ou seja, o fundo funcionou para amortecer a perda na renda variável. No momento, ele cita uma EFPC que está em negociação para montar uma estrutura de FoFs exclusivos de renda variável para abrigar todos os seus fundos dessa classe. “A entidade quer nos contratar para escolher os gestores que entrarão nos FoFs, com um processo de seleção que incluirá os gestores que já estão investidos, e também para fazer hedge de bolsa local”.
Em 2022 foram conquistadas cinco novas estruturas de FoFs exclusivos para institucionais, onde está a principal demanda, mas as consultorias olham também para os FoFs abertos da casa, que funcionam como uma vitrine. A asset tem hoje R$ 9 bilhões sob gestão entre FoFs abertos e exclusivos, ou 10% do seu AUM total, sendo R$ 8 bilhões em exclusivos. Já no caso das seguradoras, o apetite por fundos de fundos vem do segmento de private bank, para fundos de previdência aberta e também para servirem como instrumento sucessório para pessoas físicas.
A seleção segue o modelo global da matriz do banco BNP Paribas, que utiliza a FundQuest Advisor, empresa do grupo especializada na escolha de fundos para os portfólios. Essa metodologia é importante e o número de gestores varia conforme cada mandato, seu orçamento de risco e outros fatores mas, de modo geral, são 20 a 25 gestores.
O estilo de gestão dos fundos selecionados é aprovado em duas fases, da própria gestora e de seus fundos e há acompanhamento rigoroso. “Se ele perder um gestor, já acende uma luz amarela até que possamos compreender o que ocorreu, então o principal trabalho está nessa dinâmica”, afirma.
A demanda por fundos de fundos internacionais caiu muito desde que o juro subiu no Brasil, provocando resgates líquidos em toda a indústria de fundos. “Estamos todos com as barbas de molho em relação ao exterior e 2023 deve entrar da mesma maneira. Quase tudo em nossos portfólios é de alocação local, com maior captação para os multimercados. Embora a captação dessa classe tenha encolhido entre 2021 e 2022, quando houve a migração para a renda fixa, o foco principal tem sido os multimercados”, conta.
O que volta a interessar este ano são os FoFs de crédito privado, que mostram demanda crescente desde que a Selic ultrapassou o patamar de 10%, enquanto a renda variável como um todo também caiu. Em 2023, a perspectiva é de manter essa mesma tônica de crescimento e a asset participa atualmente de seis processos de seleção, três deles já adiantados.

Com nove mandatos conquistados este ano, a área de Funds of Funds da Itaú Asset somava R$ 91,21 bilhões em ativos sob gestão em FoFs exclusivos locais e internacionais até o final de setembro, dos quais R$ 6,19 bilhões eram de institucionais e R$ 4,48 bilhões do segmento corporate. Para Pedro Barbosa, diretor responsável pela área de Funds of Funds, “a casa tem forte interesse no público institucional e os FoFs, que têm demandas bastante técnicas, exigem acesso privilegiado à informação, cuidado com os dados e conhecimento dos players locais para construir dados qualitativos e quantitativos”. Com um quadro total de 45 profissionais mais o time de research, fora a equipe de apoio, a casa tem conseguido imprimir maior profundidade de análise, avalia Barbosa, e construir um polo de referência em FoFs.
“O tamanho faz com que sejamos um parceiro importante para as fundações”, diz. A área de FoFs, que era mais concentrada em mercados líquidos, aumentou a presença dos institucionais em veículos de previdência e no mundo ilíquido, passando a ter uma cobertura completa de fundos alternativos. “A classe de alternativos foi a que mais cresceu nos últimos cinco anos no segmento private, enquanto a renda variável e os multimercados foram as maiores demandas dos institucionais”, explica Barbosa. “Mas estamos aptos a ampliar a oferta de alternativos para os institucionais à medida que sua demanda aumentar”, diz. No pipeline há novos fundos para três fundações distintas, fruto de concorrências vencidas pela asset.
A casa faz gestão e análise e conta com duas equipes para isso. “O processo é bem colegiado, conta com duas equipes, a de research e a de investment solutions, além de um comitê de gestão e do diretor responsável, detalha Rodrigo Giordano, superintendente da área de Funds of Funds. Segundo ele, cada parte tem um voto no comitê.
O crescimento dos mandatos de institucionais têm ocorrido, em sua maioria, rumo aos fundos multimercados e de renda variável, com as suas diversas derivadas. Há um veículo específico também para investir nas incubadoras – seed money para gestores em fase inicial, com duas incubadoras: uma de multimercados e outra de renda variável.
Os multimercados estão em momento especial este ano em relação à performance e os portfólios passaram a ter uma dedicação especial à alocação internacional, desde que isso foi permitido pela legislação, diz Giordano. Grande parte dos ganhos em 2022 veio do call global, graças à captura dos quadros de alta inflacionária e de juros no mundo. “O ganho veio majoritariamente de juros lá fora mas agora o call mais forte veio das variações globais do dólar. Foram duas decisões acertadas: ficar mais táticos no mercado local e aumentar posições internacionais, o que deu muito certo em um ano e meio”, avalia. Quase dois terços dos ganhos vieram dos mercados de juros, com peso majoritário do juro global.

Ao considerar um universo de 15 gestores internacionais, percebemos que a parte de maior interesse para os fundos de pensão brasileiros estava no mercado externo e os FoFs trazem benesses como a devolução do rebate dos fundos, além de poderem ser desenhados para investir apenas no exterior, diz Phylipe Corsini, head de distribuição de third party distribution do BTG Pactual.
Integrada à Tesouraria do banco, a área nasceu com foco internacional e é responsável pela distribuição de gestoras locais e internacionais, com exceção dos fundos geridos pela BTG Pactual Asset Management. “A asset do banco sempre fez FoFs, mas eu não utilizo esses veículos no dia a dia porque a essência da área é a distribuição de fundos de terceiros”, explica Corsini. A cobertura passa por distribuidores, escritórios de agentes autônomos, single e multi family offices, private, wealth management, bancos, corretoras, plataformas digitais, seguradores, fundos de pensão públicos e privados e RPPs, entre outros.
Segundo Corsini, “olhamos para os 15 gestores e identificamos aqueles que já provêem esse tipo de veículo, porque nem todos têm FoFs”. Criada em 2014, com origem em corretora chilena comprada pelo banco, a área começou a crescer de modo mais expressivo a partir de 2019, porque antes disso o interesse pela internacionalização era baixo. Com US$ 1 bilhão distribuídos atualmente, praticamente tudo em fundos globais, a área atende também outros países da América Latina e atua com três gestores globais: a Janus Henderson, com AUM total de US$ 300 bilhões e US$ 4 bilhões em FoFs; a T. Rowe Price, com AUM total de US$  1,3 tri e US$  327 bi em FoFs, e a Invesco, com AUM total de US$  1,3 tri e US$  90 bi em FoFs.
A casa participa atualmente de concorrência da Funcef para FoFs internacionais. A percepção é de que os gestores globais têm um ângulo melhor a ser levado para as EFPCs porque essas entidades precisam de alguém que opere nos mercados em que elas estão entrando. “No início da onda de internacionalização, as entidades procuravam produtos únicos, mas aqui somos uma curadoria e não uma plataforma, então escolhemos fundos de gestores que se destaquem para ter produtos exclusivos em todas as cadeias de distribuição”, diz. A área participa hoje de três mandatos de FoFs exclusivos de fundos de pensão e os processos nesse segmento estão começando a ganhar maior tração. “Em 2023, a porteira deve abrir mais para as entidades irem ao exterior e não apenas em renda variável”, aponta.
Sob o ponto de vista das fundações, Corsini avalia que nada mais oportuno do que oferecer as três grandes gestoras globais. Em renda variável, ele identifica uma preocupação das entidades em manter posições das carteiras. Na indústria de fundos de exterior, posições que dependem de decisões diretas, houve migração de exterior e de outras classes para a renda fixa/crédito. “Foi uma migração nunca vista na história e embora algumas EFPCs tenham saído como estratégia de market timing, outras apenas deixaram de aumentar suas posições”, diz.
Como os fatores pioraram, incluindo a guerra da Ucrânia e a inflação imprevisível nos EUA e Europa, alguns investidores deixaram de lado o exterior pensando num horizonte de um ano ou um ano e meio. “Mas essa é uma agenda importantíssima, porque os fundos de pensão brasileiros têm exposição muito baixa, de apenas 1% dos ativos no exterior, enquanto o Chile tem cinco vezes isso e os EUA, 40% dos ativos dessa indústria”, afirma Corsini.