Dispersão nos resultados | Em cenário de alta volatilidade, os fu...

Edição 351

Os FoFs tiveram destaque este ano do ponto de vista da performance, contribuindo para ajudar nos resultados das EFPCs, enquanto na captação tiveram saldo positivo em “alguma coisa”, diz Fernando Lovisotto, sócio e CIO da Vinci Partners. Os multimercados foram bem e os FoFs procuram sempre a gestão mais especializada, então em ano de alta volatilidade, os hedges funcionaram. “Foi um ano de muita dispersão de resultados na indústria mas os nossos multimercados conseguiram mostrar performance e mesmo a renda variável, em algum momento do ano, chegou a exigir diferença favorável de 20% na relação entre as ações de small caps e o Ibovespa, então conseguimos agregar bastante a esses fundos”, diz. Como não foi um ano em que as NTN-Bs tenham batido as metas atuariais, o retorno extra obtido pelas fundações veio dessa parte de sua alocação, em fundos com gestão mais especializada.
A casa,que soma R$ 15 bilhões em ativos sob gestão nessa área, ganhou mandatos novos para renda variável, exterior e fundos de fundos multi estratégia, com objetivo de bater metas atuariais. O segmento de exterior, diz Lovisotto, tem tido um ano complicado mas com dois diferenciais que influenciam os resultados: a quantidade de bolsa que cada fundo tenha e a possibilidade de fazer hedge cambial das carteiras. “Aqui começamos o ano protegendo as carteiras contra a oscilação do dólar, com agilidade nessa proteção, que foi essencial. Temos um fundo de renda fixa e outro multi classes no exterior, o que ajudou a sofrer menos porque não foi um ano de destaque em rentabilidade”, avalia. Tanto os multi classes como os fundos de renda variável foram os destaques do ano, apesar da volatilidade nas bolsas.
“A renda variável está bem, e os dois tipos de fundos bateram as metas até outubro, com retornos de respectivamente 12% e 13% no ano”, conta. Ele estima que o cenário internacional caminha para um patamar ainda mais alto de juro, que deverá perdurar mais tempo do que o previsto, enquanto o Brasil também sofrerá esse impacto e haverá mais dificuldade para cortar o juro muito rapidamente. No mercado doméstico, há dúvidas sobre o tratamento a ser dado à questão fiscal e à nova equipe do governo, falta saber qual será o “pacote” da política econômica, mas a taxa Selic de 13,75% deverá permanecer por mais tempo. Em algum momento de 2023, o CDI terá entregado retorno real de 10%.
As vantagens dos FoFs nesse cenário dependerão muito de cada fundação e de como ela está organizada. “O investimento no exterior talvez passe por uma mudança grande, ampliando a alocação fora da renda variável, e a questão do hedge terá que ser rediscutida”, diz. A maior parte desses investidores aloca sem hedge mas, com o juro alto lá fora, isso precisará ser revisto. Agilidade, dinamismo, especialização e accountability são os aspectos essenciais dos FoFs e é preciso medir com precisão o seu rendimento e a relação risco/retorno. Na asset, a principal preocupação é garantir essas características, diz Lovisotto. “No momento, estamos focando mais em cuidar da gestão para os clientes”, afirma.

A Somma Investimentos, gestora independente que incorporou em 2021 a operação internacional da Open Vista Brasil, subsidiária da Open Vista Investment, agregou também as estratégias internacionais da casa adquirida. São três FoFs, dois deles de ações globais temáticos, que investem em ações de empresas das áreas de saúde e de tecnologia, além de um terceiro, um multimercado que investe em ativos líquidos no mundo todo. “Os três têm patrimônio líquido de R$ 50 milhões, houve uma redução nesse PL em função da conjuntura lá fora e pela volatilidade exagerada no câmbio, o que provocou fortes resgates este ano”, diz Luiz Osorio Leão Filho, responsável pelas estratégias internacionais. O fundo multimercado, que só investe em classes de ativos líquidas, tem exposição concentrada em 60% na bolsa dos EUA, 25% na Europa e um pouco menos de 15% em Ásia, restando aproximadamente 2% de exposição nos demais emergentes. A concentração por classes está dividida entre 48% a 50% em renda fixa (risco corporativo e soberano) além de renda fixa high yield. Um percentual de 44% está em ações e 5% em Reits (fundos imobiliários nos EUA) e commodities, com destaque para o ouro.
“O cenário é bastante incerto no mundo, a inflação e os juros devem seguir em alta e os indicadores são de desaquecimento nos EUA, mas essa conjuntura também torna o mercado global um ponto de entrada mais atrativo do que era antes e há muitas oportunidades nos mercados”, lembra. A Europa começou a elevar juros também, já há dois aumentos e expectativa de um terceiro porque a c rise energética é grave, a guerra na Ucrânia segue escalando, numa grande incógnita. “Os preços continuarão pressionados em energia e alimentos. Os nossos portfolios globais estão com posição abaixo do benchmark em Europa”, informa. Na Asia e na China a situação é de baixo crescimento e uma séria crise imobiliária no mercado chinês. A boa notícia, diz Leão, é que a inflação na China não subiu muito, o que leva a uma redução de juros. “O novo mandato de Xi Jimping significa uma s ituação de maior poder aos comandantes aliados e há preocupação com potenciais riscos para empresas chinesas listadas fora da China. Empresas de tecnologia, educação e imobiliárias estão sob maior regulação e tudo isso deverá gerar ruídos”.
O mercado tem ainda outras preocupações, como a possível tentativa da China aumentar seu controle sobre Taiwan, que pode afetar a própria economia chinesa. “Acredito que vão encontrar um meio termo e devem impulsionar o crescimento econômico, então os ativos chineses e dos EUA têm que fazer parte dos portfolios a médio e longo prazos”, avalia. A asset mantém esses dois países em seus fundos, até porque eles são 100% exterior e contam com três gestores nessa área: BlackRock, Janus Henderson e AB (AllianceBernstein).
A casa não tem investidores institucionais em seus fundos globais por enquanto, um público que tem preferido os FoFs locais, diz Flávio de Lima, portfolio manager. “Os FoFs locais são mais presentes para os institucionais nesse período turbulento de inflação global, pandemia e guerra. Temos crescido na área de fundos on-shore, nesse segmento o nosso DNA é institucional, público que tem uma presença forte no total de ativos sob gestão”, afirma. A gestora tem cerca de R$ 7 bilhões sob gestão em FoFs locais exclusivos para EFPCs, sendo R$ 5 bilhões do seu principal cliente, a Quanta Previdência, e o restante vem de outras cinco fundações.
A gestão conta com um comitê heterogêneo em composição e background, que é responsável pelas alocações estratégicas de longo prazo, reuniões anuais e revisão trimestral. “No caso da Quanta, temos discricionariedade no mandato mas fazemos tudo a quatro mãos com o cliente, dado o seu porte. Buscamos manter sempre um alinhamento prévio com ele”, explica. Há três FoFs: um para o perfil com mais investimento de renda fixa, com três fundos de renda fixa. Um segundo FoF, para o perfil moderado e que inclui dois fundos multimercados, um fundo de ações e um de exterior, além da renda fixa. O terceiro FoF é para o perfil agressivo e tem pelo menos 40% em renda variável mas pode chegar a 50%.