O ano de 2018 acabou sendo positivo para os investimentos dos fundos de pensão, que em sua maioria conseguiram retornos superiores às metas atuariais do período. Após um primeiro semestre turbulento marcado pela greve dos caminhoneiros, onde as carteiras sentiram o baque das ações em queda, o mercado entrou em euforia a partir do segundo semestre com o crescimento da candidatura de Jair Bolsonaro, posteriormente confirmada com sua vitória, o que resultou em ganhos relevantes tanto na renda fixa como na variável. Enquanto o Ibovespa acumulou uma queda de 4,76% de janeiro a junho, no período de julho a dezembro registrou alta de 20,78%, consolidando ganhos de 15,03% no ano. Já o IMA-Geral, que na primeira metade do ano havia subido 2,44%, consolidou ganhos de 10% no acumulado de 2018.
Além dos bons retornos obtidos no mercado, as EFPCs também contaram com o benefício da inflação reduzida para conseguir superar suas obrigações atuariais, com o IPCA em 3,75% no ano passado.
A Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) trabalha com uma estimativa preliminar que aponta para uma rentabilidade média de 11,3% das fundações em 2018. “O retorno estimado teve como fonte principal a renda fixa, que seguiu prevalecendo de maneira majoritária nas carteiras das fundações”, afirma o diretor executivo responsável pela Comissão Técnica Nacional (CTN) de investimentos da Abrapp, Guilherme Leão, que é também presidente da Casfam, caixa de previdência do Sistema Fiemg. Ele lembra que 2018 foi um ano de bastante volatilidade nos mercados, com a greve dos caminhoneiros e as incertezas das eleições gerando oportunidades pontuais nos títulos públicos, razão pela qual as fundações não fizeram movimentos expressivo rumo à renda variável.
Conservadorismo – No Volkswagem Previdência, o plano de Benefício Definido (BD) apresentou retorno de 9,08%, superando em 1,2 ponto percentual a meta atuarial. No plano de Contribuição Variável (CV), que tem o CDI como índice de referência e oferece perfis de investimento, o perfil conservador (sem renda variável) rendeu 6,94%, o moderado (com 15% em ações) rendeu 8,52%, e o agressivo (com 30% em ações) subiu 10,23%. O CDI rendeu 6,4% no ano passado.“Creditamos o resultado obtido em 2018 à nossa capacidade de surfar dentro da volatilidade de mercado no ano passado, com padrões conservadores nos investimentos. Qualquer alocação mais agressiva teve uma volatilidade muito grande, foi um ano extremamente difícil por causa das eleições e da greve dos caminhoneiros”, nota o diretor de investimentos da VWPP, Luiz Brasizza.
Segundo o dirigente, a alocação do plano BD é 100% em renda fixa, incluindo títulos atrelados à Selic, as LFTs, e os indexados à inflação, as NTN-Bs, compradas há alguns anos quando os juros estavam em patamares superiores ao atual. “O retorno médio das NTN-Bs em nossa carteira é de INPC mais 6%, sendo que essa parcela está toda marcada na curva, então por um bom tempo temos a tranquilidade de que a meta será atingida”, diz Brasizza.
Brasizza afirma que os altos e baixos do mercado geraram alguma dificuldade para a carteira de imóveis da fundação ao longo de 2018. “CCIs e CRIs sofreram um pouco”, reconhece o profissional. Ele também acrescenta que o cenário global, menos benigno ao longo dos últimos meses, fez com que a VWPP optasse por reduzir pela metade, de 1% para 0,5%, sua alocação em investimento no exterior.
Crédito – Na Fundação Promon, a alocação do plano de Contribuição Definida (CD) em ativos de crédito foi um ponto de destaque no ano passado, ao entregar um retorno na casa dos 10% com nível de volatilidade próximo de zero. “Por conta dessa característica de redução da volatilidade da carteira, e pela expectativa de taxas de emissões atraentes em 2019, estamos avaliando aumentar a exposição do plano CD à essa classe de crédito”, conta o diretor de investimentos, André Natali. Atualmente apenas 1,5% dos R$ 710 milhões do plano CD da EFPC está em crédito.
O plano CD da Promon rendeu 7,8% em 2018, 1,4 ponto percentual além do índice de referência CDI. Além do crédito, a estratégia de gestão ativa em bolsa trouxe um expressivo retorno positivo de 26,7%.
No plano BD o fundo de pensão também fechou o ano passado com retorno 0,89 ponto percentual acima da meta, que alcançou 9,99%. “Contribuíram de maneira relevante as NTN-Cs, títulos públicos indexados ao IGP-M”, explica Natali. O IGP-M subiu 7,5% no ano passado, contra 3,43% do INPC.
Renda variável – Na Eletros, o plano BD rendeu 11,08%, contra uma meta de 9,27% em 2018. Contribuíram para esse resultado a rentabilidade da renda variável, que foi de 20,69% contra 15,42% do benchmark da entidade, o IBX. A renda variável representa 17% dos R$ 4,7 bilhões da fundação.
Já no plano CD do Eletros, foram os títulos públicos longos, marcados a mercado, que fizeram a diferença. Eles renderam 17,42%. “Em outubro, quando as pesquisas indicaram a vitória do Bolsonaro, houve um fechamento muito forte das taxas, que resultou nesse ganho expressivo dos títulos marcados a mercado”, afirma o diretor financeiro do Eletros, Luiz Guilherme Pinto.
Por conta do expressivo fechamento das taxas dos títulos públicos, que caíram de 6% para os atuais 4,6%, a fundação reduziu de maneira substancial sua exposição ao ativos no plano CD. “Praticamente zeramos a carteira de títulos longos, e por enquanto estamos mantendo os recursos no CDI, com um pequeno aumento em bolsa”.
Entre os perfis de investimento do plano CD, o único que não bateu a meta foi o super conservador, com praticamente 100% da alocação em CDI, que rendeu 7%, frente a uma meta de 8,86%. Já o conservador, com 15% em bolsa e uma parcela alocada em títulos públicos longos, rendeu 9,41% enquanto o moderado e o agressivo renderam, respectivamente,11,60% e 13,7%.
IGP-DI – A Funcesp, mesmo com um retorno positivo de 13,94%, não conseguiu superar a elevada meta atuarial de 2018, que ficou em 15,03%. A entidade ainda adota o IGP-DI como seu indexador, prática comum na indústria de fundos de pensão nas décadas de 70 e 80, e pelo fato desse índice inflacionário capturar de maneira mais intensa a variação no preço dos atacados ficou em 8,39% no ano passado pressionado pela greve dos caminhoneiros.
O diretor de investimentos da Funcesp, Jorge Simino, ressalta que está nos planos da fundação alterar o indexador, mas não há um prazo para que isso ocorra. “Embora tenhamos ficado pouco abaixo da meta em 2018, se considerados os últimos três anos tivemos uma rentabilidade acumulada de 52,2%, contra uma meta de 37,3%”, pondera o dirigente.