Os desafios que os fundos de pensão com autogestão de planos de saúde têm enfrentado nos últimos anos, com o envelhecimento da população e a adoção de novas tecnologias e procedimentos mais custosos que pressionam a inflação médica, estão impondo uma série de medidas que visam garantir a sustentabilidade do modelo no longo prazo.
A Fundação Copel aprovou em julho último a ampliação do limite de idade dos dependentes de beneficiários segurados de 30 para 38 anos. “Pelos nossos cálculos esse aumento no limite da idade ainda é benéfico para a fundação, já que a utilização dos serviços do plano de saúde pelos dependentes até 38 anos segue abaixo da receita cobrada para essa faixa etária”, aponta o diretor financeiro José Carlos Lakoski. Segundo ele, a estimativa é de um aumento de 5% na receita com a ação.
A diretora administrativa e de seguridade da Fundação Copel, Cláudia Cardoso de Lima, ressalta que os planos de saúde da entidade cobram mensalidades menores do que as praticadas no mercado. “Na faixa etária mais elevada, acima de 59 anos, o nosso plano mais antigo cobra cerca de R$ 600 por mês e o mais novo cobra aproximadamente R$ 800. No mercado não se encontra alternativas para esse público abaixo de R$ 1,5 mil”, pontua a diretora. O fundo de pensão administra dois planos de saúde diferentes – o mais antigo, já fechado, tem 80% dos custos subsidiados pela patrocinadora e 20% pelo empregado e o mais novo, lançado em 2016, com metade dos custos arcados pela patrocinadora e metade pelos empregados.
Os planos de saúde do fundo de pensão congregam cerca de 40 mil segurados, com patrimônio de R$ 240 milhões. Segundo o diretor financeiro da Fundação Copel, a tendência é que esse número de participantes comece a cair no médio e longo prazo com o envelhecimento da população. “Temos um desafio diante de um cenário de elevação dos custos e redução das receitas com a provável queda na massa de segurados”. O envelhecimento da população se reflete no número de aposentados segurados dos planos de saúde, que passou de 4,5 mil beneficiários há cinco anos para 7 mil atualmente.
“A inflação médica, que sobe acima dos índices oficiais, tanto pelo envelhecimento populacional quanto por causa das novas tecnologias custosas, é uma questão preocupante”, reconhece Lakoski. Em 2017, a inflação médica na Fundação Copel chegou aos 19%, enquanto o IPCA foi de 2,95%. Por conta da rentabilidade obtida no mercado com o fundo do plano de saúde, que tem 70% de sua alocação na família IMA, com os outros 30% no CDI, o fundo de pensão conseguiu repassar aos participantes apenas uma parte do aumento da inflação médica. Em 2017 esse repasse ficou em torno de 11%.
Novos planos – A Real Grandeza também tem adotado desde o final do ano passado medidas para reduzir os custos relacionados aos planos de saúde que somam um Patrimônio Líquido de R$ 129,47 milhões. De acordo com a diretora de seguridade, Patricia Melo, ao longo do primeiro semestre a redução dos custos assistenciais, que são os gastos com exames, consultas e medicamentos, foi de 14% por conta das medidas administrativas implementadas. “Com a diminuição dos custos, nossa intenção é fazer um repasse para nossa base de 46 mil segurados abaixo da inflação médica”, afirma Patrícia. Ela lembra que a inflação médica, medida pelo IPC-Fipe Saúde, chegou a 6,01% nos doze meses encerrados em julho, sendo 118% superior aos 2,76% registrados pelo IPC-Fipe Geral no mesmo período.
Entre as medidas, a dirigente cita o lançamento de um novo plano de saúde que, diante do aumento da demanda dos segurados por produtos mais baratos, deve ser até 15% mais em conta do que os atuais. “No novo plano de saúde o participante terá atendimento limitado a algumas regiões, enquanto o atual tem amplitude nacional”, explica a diretora. Ela diz que em muitos casos os segurados já tem idade avançada, e pouco se deslocam territorialmente, sendo nesses casos, segundo ela, até mais interessante um plano mais barato e com atendimento regional mais restrito.
Patricia cita também uma iniciativa em curso que promove visitas presenciais aos segurados, para identificar eventuais fraudes ou casos em que o paciente já não necessita mais de determinado tratamento. “Temos promovido um esforço de maior conscientização dos próprios participantes do plano para evitar o mau uso deles, já que por se tratar de um sistema de mutualismo uma ação prejudicial impacta não apenas a própria pessoa como também todas as outras”. Como exemplo ela cita o caso de um participante cuja esposa estava fazendo tratamento quimioterápico com um medicamento genérico, sendo que o hospital cobrava da fundação o valor do patenteado. “O participante identificou essa distorção e nos alertou. Fomos questionar o hospital, que nos fez um reembolso de R$ 28 mil”, afirma a dirigente.
Novos segurados – Na Funcesp, o gerente de saúde, Carlos Eduardo Soares, conta que em outubro a entidade deve lançar uma campanha para atrair novos segurados, de idade menos avançada, aos planos de saúde. Esses novos segurados, por serem mais jovens, tendem a utilizar de maneira mais moderada os serviços, financiando a camada mais idosa da população. “Chamamos esse mix na carteira, entre população mais jovem e mais idosa, de pacto cruzado inter-geracional”, afirma o especialista da entidade previdenciária.
A Funcesp tem aproximadamente 80 mil participantes em seus planos de saúde, sendo 25 mil ativos, que no total formam uma reserva aproximada de R$ 625 milhões. Soares explica que a Agência Nacional de Saúde (ANS) permite às operadoras de autogestão trabalhar a comercialização de planos de saúde até a quarta geração dentro de sua população ativa, o que inclui irmãos, primos, sobrinhos, entre outros. “Se cada um dos nossos participantes ativos indicar dez pessoas, temos uma estimativa inicial de 250 mil a 300 mil vidas a serem trabalhadas para tentarmos trazer para dentro de casa”, diz o gerente de saúde da fundação.
Além disso, em linha com o trabalho realizado por seus pares, a Funcesp também iniciou recentemente um mapeamento mais detalhado de sua massa de participantes dos planos de saúde, visando promover a prevenção de doenças e reduzir custos futuros com tratamentos mais dispendiosos. “Uma pessoa com 60, 65 anos, que não vai ao médico no período de 12 meses não está fazendo uma boa utilização de seu plano de saúde. Hoje em dia temos uma cabeça diferente da que era há de alguns anos, que era de evitar ao máximo a utilização do plano”.
Como resultado do trabalho de gestão da área, incluindo ganhos de eficiência operacional e rentabilidade das reservas financeiras, em 2018 a Funcesp pôde oferecer aos participantes dos planos de saúde um reajuste de 6,33% nas mensalidades, abaixo dos 10% indicados pela ANS para os planos individuais e dos 15% a 18% praticados em média pelo mercado.
Patrocinadora assume saúde da Sabesprev
A Sabesp anunciou em julho que, “com o propósito de manter a qualidade dos serviços prestados, e diante do cenário de elevação dos custos médicos, a empresa analisa assumir a administração dos planos diretamente”. Até então os planos estavam sob a responsabilidade da Sabesprev, que procurada pela revista preferiu não se pronunciar. Com essa medida tomada pela patrocinadora, o fundo de pensão passará a atuar apenas na gestão dos planos previdenciários.
Segundo a Sabesp, a intenção ao assumir a gestão dos planos é equacionar o desequilíbrio financeiro e manter a qualidade da assistência médica oferecida, por meio da contratação de uma operadora de mercado. A nova operadora será escolhida por meio de um processo licitatório, após consulta pública.