Demanda por estruturados | Em busca de novas opções, fundos de pe...

Marcelo Flora, do BTG PactualEdição 252

As claras necessidades do país no setor de infraestrutura, que ocasionam o já antigo Custo Brasil, e que faz nossa indústria perder competitividade ante os pares internacionais, levam o governo a entregar à iniciativa privada os gargalos espalhados pelo território nacional que necessitam de soluções. O movimento têm atraído os investidores institucionais para dentro desse nicho, que vão em busca de rentabilidades que façam frente às suas metas atuariais, que ficaram mais difíceis de serem alcançadas desde que passamos a conviver com um novo patamar da taxa básica de juros, e que ganharam ares dramáticos em 2013 por conta das complicadas renda variável e renda fixa.

O BTG Pactual acaba de concluir a captação, de US$ 1,8 bilhão, de seu segundo fundo de investimento de infraestrutura, que utiliza operações de private equity como veículo de atuação. Desse total, cerca de R$ 600 milhões foram captados junto a fundos de pensão, o que demonstra o crescente interesse das fundações nas operações menos tradicionais de mercado. Em 2010, um fundo de private equity do banco de US$ 1,5 bilhão teve a adesão por parte dos fundos de pensão de “apenas” R$ 200 milhões.

“Por mais que estejamos em um ciclo de aumento da taxa de juros, do ponto de vista estrutural não tem nenhuma mudança significativa, e no longo prazo a Selic deve testar patamares mais baixos novamente. Com as NTN-Bs entregando retornos inferiores, ou muito próximos da meta, os fundos de pensão não têm outra alternativa senão buscar retornos em ativos mais sofisticados”, afirma Marcelo Flora, responsável pela distribuição local de ativos de renda fixa e fundos de investimento para clientes institucionais do BTG.

O BTG Pactual Infraestrutura II Fundo de Investimento em Cotas de Fundos de Investimentos em Participações tem um prazo de dez anos, e oferece perpectiva de retorno aos seus cotistas ao redor dos 15% ao ano, mais a variação acumulada pelo IPCA no período.

Devem ser de oito a dez as empresas nas quais o fundo fará aportes, sendo que três já receberam capital do banco – a Sete Brasil, que constrói sondas de exploração em águas ultraprofundas, a GlobeNet, que transmite dados por meio de cabos submarinos, que pertencia ao Grupo Oi, e a Contrail, que atua com armazenagem e transporte de contêineres de Cubatão ao Porto de Santos.

“O foco do fundo tem sido olhar para ativos com retornos bastante elevados, e que não são os mais óbvios. Prova disso é a compra da companhia de cabos submarinos”, pontua Renato Mazzola, associado do BTG Pactual e diretor da divisão de investimentos em infraestrutura, e que antes de entrar na instituição financeira ocupava o cargo de especialista em financiamento de projetos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

No pipeline do BTG Pactual para o Infraestrutura II, revela Mazzola, estão em avaliação oportunidades que se aproximam da casa dos US$ 2 bilhões. Dentro da infraestrutura, a atuação do fundo estará concentrada nos segmentos de energia, transporte e logística, óleo e gás, saneamento e telecomunicações. “Obviamente estamos bastante atentos a todas as concessões que podem acontecer, o que inclui o setor portuário e o rodoviário. Esperamos fazer mais aquisições até o começo do próximo ano”, diz o diretor.

Florestal – Encerrada a captação do fundo de infraestrutura, o BTG Pactual agora volta suas atenções e forças para preparar um novo fundo de investimento, que terá como objetivo a exploração de ativos florestais.

Para adquirir conhecimento sobre a área, o banco optou pelo crescimento inorgânico ao adquirir a companhia TTG Brasil Investimentos Florestais, que tem US$ 800 milhões sob gestão, e 110 mil hectares de ativos florestais. A aquisição está em fase de aprovação por parte do Banco Central (BC).

O fundo será de 12 anos, com a possibilidade de ser estendido por quatro anos adicionais, e terá um retorno esperado menor que o de infraestrutura, de 10% a 11%, descontada a inflação, até pelo menor risco que oferece. “Diferentemente da cultura agropecuária, que força a colheita no período da safra, a exploração florestal, se chegar no período de corte e o preço não estiver bom, pode ser adiado por um ou dois anos”, explica Flora. A expectativa do executivo é que o fundo tenha uma captação ao redor dos US$ 750 milhões, dos quais US$ 200 milhões serão do próprio BTG. No Infraestrutura II, o banco fará um aporte de US$ 250 milhões.

As florestas do fundo serão implementadas tanto em terras próprias como em arrendadas, e o uso da madeira proveniente da exploração, seja eucalipto, pino ou outros tipos da matéria-prima, será vendida para diversas indústrias, tais como noveleira, celulose e papel, carvão e siderúrgica. O pipeline no caso do florestal está em US$ 1 bilhão, com as possíveis aquisições majoritariamente no Brasil – há o estudo de uma oportunidade no Uruguai. A previsão é que o período de captação dure de nove a doze meses, mas o fundo já deve estar operacional até o final deste ano.

Comitês – Uma mudança dos fundos de pensão notada por Marcelo Flora nos últimos anos foi a menor exigência de ter uma cadeira no comitê dos fundos de investimento. No Infraestrutura II, os institucionais não têm espaço para decidir quais serão os projetos em que o fundo fará os aportes. “Até alguns anos atrás era inimaginável pensar nisso. Os fundos de pensão tinham uma forte restrição de investir em fundos que não pudessem participar da aprovação dos projetos. Percebemos um amadurecimento nesse sentido”, pontua.

A morosidade para aprovar projetos, que deixa escapar boas oportunidades de mercado, e a falta de braços para ter pessoas qualificadas em tantos comitês, são apontados pelo executivo do BTG Pactual como as causas que ajudam a explicar o novo perfil das fundações. 

FIDCs – A participação dos institucionais no segmento de infraestrutura poderia ser ainda maior, mas uma vedação na Resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN) impede que esses investidores entrem nos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) Não Padronizados (NP).

“Realmente existem algumas classes de ativos não convencionais, como crédito estressado oriundo de ação judicial, que tem um lado operacional mais complexo, mas os FIDCs Não Padronizados abrangem outras classes de ativos de altíssima qualidade e baixo risco, como as tarifas de serviços públicos”, fala Carlos Fagundes, diretor da Integral-Trust Serviços Financeiros. Um exemplo é o FIDC da CPTM que explora a venda futura de bilheteria da companhia de trens. “Foi dado um rótulo de que o FIDC NP é um fundo perigoso, mas isso não é verdadeiro”.

Se comparado a um FIDC “normal”, a principal diferença reside no fato de que o fluxo de caixa de um FIDC NP não é previamente determinado.

“A estrutura do FIDC NP é mais sofisticada e demanda uma modelagem financeira mais elaborada, mas não necessariamente é mais arriscada. Não é a sofisticação que define a boa ou má qualidade do fundo”, pondera Fagundes.