Edição 71
A construtora Walter Torre Jr. está oferecendo debêntures indexadas a índices de preços para captar recursos de investidores institucionais, com o objetivo de financiar a construção de parques industriais. A primeira operação da construtora nesses moldes foi a captação em janeiro de R$ 59 milhões destinados a financiar instalações dos fornecedores da unidade Volkswagen-Audi do Paraná. Para viabilizar o negócio, foi constituída uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), a Empresa Patrimonial Industrial (EPI), que emitiu os debêntures que oferecem 16% de rendimento anual mais a variação do IGP-M.
As debêntures foram emitidas em duas séries, ambas sob coordenação do Unibanco: a primeira, no valor de R$ 48,5 milhões, apresenta duração de 7 anos e a segunda, avaliada em R$ 10,5 milhões, possui prazo de 10 anos. A comercialização das debêntures, iniciada em maio passado, não estava atraindo a atenção dos investidores até o final do terceiro trimestre do ano. O interesse dos institucionais pelos papéis, porém, aumentou nos últimos meses devido à queda gradual nas taxas de juros da renda fixa e também, por causa da elevação do IGP-M.
Outro fato que motivou a aquisição das debêntures pelos institucionais foi a realização do leilão do Tesouro Nacional no início de dezembro último, que ofereceu NTN-C, também indexada ao IGP-M (ver mais na pág. 25). “Os papéis emitidos pelo Tesouro Nacional, indexados ao índice de preços, criam uma base de comparação para as debêntures atreladas ao IGP-M”, explica Francine Grace, gerente de renda fixa do Unibanco. Como os títulos públicos com duração de sete anos foram negociados à taxa de IGP-M mais 13%, ficou evidente que a taxa das debêntures da EPI valia a pena. Com isso, o apetite dos institucionais aumentou no final do ano e foi possível completar a distribuição das debêntures da EPI no início de janeiro.
Entre os administradores de recursos que adquiriram as debêntures para as carteiras dos institucionais encontram-se o Bradesco Templeton, a Unibanco Asset Management, o BBA e o Lloyds Asset Management. O principal investidor da primeira série foi a Unibanco AIG.
A fundação da Volkswagen incorporou R$ 2 milhões em debêntures da EPI através de uma de suas carteiras, administradas pela Bradesco Templeton. “Decidimos investir nas debêntures devido ao baixo risco do papel. Além disso, a taxa de IGP-M mais 16% é uma rentabilidade capaz de bater as metas do fundo de pensão”, diz Flávio Talasca, superintendente de finanças da VWPP.
O plano dos funcionários da Volkswagen é do tipo de contribuição definida, mas após a concessão do benefício, o fundo de pensão garante o reajuste pela TR (Taxa Referencial de Juros). A VWPP está estudando a possibilidade de trocar a TR pelo IGP-M como índice de reajuste dos benefícios.
Baixo risco – Um fator que foi ponderado pelos investidores institucionais na aquisição das debêntures foi o risco do papel. Neste caso, as debêntures estão atreladas a um empreendimento imobiliário e a remuneração será coberta pelo aluguel pago a Walter Torre Jr. pelos fornecedores da Volkswagen. Se o aluguel arrecadado junto aos fornecedores não for suficiente para garantir a remuneração das debêntures, então a própria Volkswagen cobre a diferença. Este esquema foi acertado entre a montadora de veículos e a construtora na forma de um contrato de comodato modal.
Segundo o contrato, a Volkswagen, que é dona do terreno, deve realizar um pagamento para a Walter Torre Jr. durante 25 anos referente à construção do parque industrial. O negócio funciona como um contrato de locação de longo prazo. “O modelo de empreendimento utilizado para a fábrica da Volkswagen do Paraná é uma alternativa atraente para as grandes indústrias que não pretendem ser proprietárias de complexos industriais”, afirma o diretor da construtora, Luiz Antônio de Souza Ferraz Jr.
Repetindo a Dose – Devido ao sucesso da negociação das debêntures atreladas às instalações da Volkswagen, a Walter Torre Jr. prepara outra operação semelhante, desta vez destinada à construção da nova fábrica da Nestlé, que se localizará no município de Cordeirópolis, interior de São Paulo. O BBA Creditanstalt está coordenando a emissão de R$ 25 milhões em debêntures que devem ser emitidas dentro de 90 dias. Os papéis oferecerão rendimentos de 15% anuais mais o IGP-M do período e terão duração de 8 anos e meio.