Edição 121
O cenário econômico brasileiro ganhou ares portenhos nos últimos dias de julho, pelo conjunto de fatos que fizeram o cidadão comum temer pela volta do já quase esquecido efeito Orloff. Lembram dele? Aquele, do “eu sou você amanhã”.
Assim como vem ocorrendo na Argentina desde meados do ano passado, o Brasil viu-se envolto, de uma hora para a outra, no olho de um furacão especulativo. Em conseqüência, o dólar disparou e fez o real ultrapassar a barreira dos R$ 3,60 no último dia de julho, enquanto as taxas de juros para títulos da dívida pública de curto prazo batiam em 37%.
Nos bancos de investimento, as ordens de saques de aplicações em fundos assustavam, assim como as remessas de dólares. Segundo a Anbid, o mês de julho fechou com captação líquida negativa de cerca de R$ 15 bilhões, em R$ 327 bilhões. Estima-se que uma quantia próxima a US$ 2 bilhões tenha deixado o país em julho, entre remessas de pessoas físicas, via CC5, e remessas de lucros e dividendos das multinacionais. No ar, pairava um medo generalizado pela capacidade das empresas de honrar as suas obrigações em moeda estrangeira.
“F.d.p. do O’Neill”, esbravejava na tarde do 31 de julho um experiente operador de câmbio de banco de investimentos, referindo-se ao secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neill. Para o diretor da área de investimentos do Bradesco, Sérgio de Oliveira, “sem um acordo rápido com o FMI a situação pode fugir rapidamente do controle”.
A avaliação de que a melhoria do cenário dependeria de um acordo rápido com o FMI é compartilhada por vários outros executivos peso-pesados do mercado de investimentos, ouvidos por Investidor Institucional. “O FMI precisaria fechar logo um acordo com o Brasil, mas com quem?”, perguntava o presidente da corretora Itaú, Roberto Nishikawa. “O atual governo está no fim e não dá para o fundo sentar com a oposição para negociar”.
Segundo o diretor de investimentos e economista da corretora Credit Lyonnais, Carlos Eduardo Rocha, o acordo que o Brasil tenta costurar com o FMI só terá efeito se os bancos internacionais voltarem a liberar as linhas de financiamento para o país. “O problema é a falta de linhas de crédito”, diz Rocha.
Para enfrentar essa situação, o diretor do Banco Inter American Express, Marcelo Allain, defende que o Banco Central use as reservas para irrigar o mercado. “Não há liquidez e o BC ainda resiste em usar as reservas, mas ele (BC) precisa construir uma ponte de financiamento para o mercado”, afirma.
A deterioração do cenário não é resultado apenas das incertezas eleitorais que surgiram com o crescimento das candidaturas de oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso, principalmente a de Luiz Inácio Lula da Silva. Também contribuíram para a deterioração o fato de que o prejuízo dos investidores internacionais com a Argentina foi maior do que o imaginado, além da crise de confiança nos EUA e da desova dos títulos públicos brasileiros, que foi causada pelas oscilações da nova marcação a mercado. “A América Latina também está em crise e o problema é que o Brasil continua dependente de capital estrangeiro”, afirma Rocha.
Para ele, as incertezas levaram a uma mudança também no comportamento dos investidores. Quem antes fazia hedge com papéis cambiais do governo passou a operar diretamente no mercado de dólar, porque há desconfiança em relação ao efetivo compromisso do novo presidente com o pagamento da dívida pública interna.
Apesar dessa mudança no comportamento dos investidores, os economistas acham que os fundamentos econômicos brasileiros ainda são bons. Para o economista do BBV Banco, Luís Afonso Lima, “quando os programas de governo dos candidatos à presidência ficarem mais claros haverá estabilidade na taxa de câmbio”, afirma.
Fundos de pensão – Para Rocha, a melhor opção para os fundos de pensão é ter títulos atrelados à inflação (IGP-M), os quais devem subir bastante. “Não dá para as fundações fugirem dos títulos públicos. Se o novo governo aceitar uma inflação maior, os papéis de IGP-M ficam protegidos”, afirma.
A Previ-Siemens
já decidiu criar uma carteira administrada compos-
ta apenas de títu-
los atrelados ao IGP-M.
Allain, do Inter American Express, também acha o papel atrelado ao IGP-M uma boa opção, principalmente se a meta atuarial do fundo de pensão levar em conta esse índice de inflação. “Mas o problema é a pequena oferta no mercado deste tipo de título”.
Então, até para evitar a concentração de todos os “ovos numa mesma cesta”, o especialista avalia que os fundos de pensão também poderiam reforçar seus investimentos em ações. “Os papéis de renda variável estão com preços muito depreciados”, afirma.