Controladoria, o caminho da Dreyfus | Dreyfus Brascan já administ...

Edição 102

A Dreyfus Brascan está trilhando um caminho diferente entre as asset management de seu porte. Enquanto a maioria dos gestores de recursos com patrimônio inferior a R$ 5 bilhões está buscando se especializar em produtos segmentados dentro do próprio escopo da gestão de renda variável, para sobreviver à forte concorrência no setor, a Dreyfus, empresa associada ao Mellon Bank, está se firmando na prestação de serviços de administração e controladoria para fundos de pensão e outras assets.
Há pouco mais de um ano, a Dreyfus decidiu se aperfeiçoar neste segmento, ao vislumbrar que poucas instituições escolheriam o mesmo caminho e que poderia lucrar com um filão ainda pouco explorado. Com a divulgação da Resolução 2.720, em abril do ano passado, a asset percebeu que cresceria a demanda pelos serviços de controladoria, uma vez que a maioria das fundações não mantinham estruturas tecnológica e de pessoal para desenvolverem, elas próprias, os serviços de controladoria.
“As fundações não tinham a preocupação de investir em áreas específicas de controladoria, de compliance ou de análise e administração de risco. A maior preocupação dos fundos de pensão era com a taxa de retorno dos investimentos, e não com a qualidade das suas aplicações”, diz Roberto Pitta, diretor comercial da Dreyfus Brascan. Entretanto, as novas exigências da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) mostraram que o controle dos investimentos das fundações e a cobrança de resultados sólidos vieram para ficar.
Em abril deste ano, a Dreyfus fechou seu primeiro contrato de prestação de serviços de controladoria e de administração do risco com o fundo de pensão dos funcionários da Volkswagen, para uma carteira de cerca de R$ 500 milhões. Em julho, a instituição chegou a um outro contrato com a Prece, fundo de pensão do Cedae, do Rio de Janeiro, que terceirizou uma carteira de R$ 450 milhões. E, no início de agosto, acertou a prestação de seus serviços de controladoria com a Previsc, fundo de pensão multipatrocinado, ligado à Federação das Indústrias de Santa Catarina, com R$ 120 milhões em carteira.
Segundo o diretor financeiro da Previsc, João Laércio de Amorim, a fundação mantinha uma pequena área interna de controladoria, com três funcionários. Mas não conseguia atender, com esta estrutura, às exigências de consolidação das informações no padrão exigido pela SPC, que permaneceram vigendo mesmo com a substituição da Resolução 2.720 pela 2.829 em março deste ano. “Para atender as exigências da Resolução 2.829 teríamos que aumentar a área em pessoal e em tecnologia e sistemas. Por isso ficou mais barato terceirizar”, diz.
De acordo com Amorim, os serviços da Dreyfus estão adequados aos ditames da 2.829. “Internamente, levávamos cerca de 12 dias para fazer um serviço que agora vamos receber ‘mastigado’ todos os dias. No final de cada mês, é só repassar os dados consolidados à SPC”, conta o diretor da Previsc.
Para César Favilla, tesoureiro corporativo da Volkswagen e responsável pela área financeira da VWPP, o fundo de pensão da empresa, nos serviços que presta à fundação, a Dreyfus Brascan cumpre o papel de administrador de risco e de controlador “neutro” da carteira de investimentos. “É um trabalho que enfoca a carteira como um todo, detecta todos os riscos eminentes e verifica se a gestão está dentro da política de investimentos da fundação. Além disso, sugere investimentos, dá pareceres sobre as estratégias e sobre as decisões a serem tomadas, apontando erros com antecedência”, diz.
O tesoureiro da VW diz ainda que a Dreyfus funciona como um compliance para a fundação, já que internamente o fundo de pensão da VW mantém uma superintendência de Controladoria, que faz todos os reportes dos balanços e relatórios exigidos pela SPC.

Responsabilidade legal – “Das instituições que pesquisamos para realizar a controladoria, a Dreyfus foi a única que ofereceu a responsabilização legal pelos serviços prestados”, afirma Armando Costa Vieira, presidente da Prece. Pitta destaca que este é o principal diferencial dos serviços da Dreyfus, em relação à concorrência. Para ele, quem oferece os serviços de controladoria deveria se responsabilizar legalmente por eventuais erros que aconteçam na gestão dos investimentos.
No contrato com a Prece e com a Previsc, em que está acordada esta condição, a Dreyfus conversa diretamente com o gestor e desautoriza a realização de uma operação caso ela não esteja enquadrada na política de investimentos da fundação. O administrador de recursos também faz a interface com os órgãos legisladores e fiscalizadores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central, a Receita Federal e a SPC, caso surjam problemas com a constituição dos fundos de renda variável ou de renda fixa, com o pagamento de impostos ou caso se configure um desenquadramento na política de investimentos das fundações.
As fundações que contratam os serviços da Dreyfus Brascan centralizam todas as informações dos seus fundos de investimentos na asset, que se responsabiliza pela consolidação das informações e pela emissão dos relatórios mensais que terão de ser encaminhados à SPC assim que o novo Demonstrativo Analítico de Investimentos e de Enquadramentos das Aplicações (DAIEA) estiver pronto. As taxas cobradas pelo serviço de controladoria da Dreyfus são de 0,05% ao ano para cada R$ 1 bilhão administrado.
Antes de avançar no nicho de controladoria para fundações, a Dreyfus já prestava serviços de back-office para cerca de 16 gestores de recursos independentes. No final de 1999, a asset importou tecnologia e know-how da Mellon Russel, empresa do grupo Mellon Bank especializada em controladoria que administra US$ 3 trilhões no mundo inteiro.
A Dreyfus presta hoje serviços que permitem fazer a análise do risco de cada fundo, a precificação dos ativos e projeções de fluxo de caixa, o que lhe permite manter um controle completo da carteira do cliente. Desta forma, segundo Pitta, a asset está preparada para atender às exigências das fundações.
Hoje, todos os gestores para os quais a asset prestava serviços de back-office já são seus clientes na área de controladoria, entre eles a Investidor Profissional, Mercatto, Rio Bravo, Santa Fé Portfólio, ClickInvest, Latinvest, Pictet Modal e GP.

Funcef opta por “receita caseira”na controladoria
As novas exigências da SPC estão induzindo as fundações a contratarem serviços de controladoria externos ou montar áreas internas de controle e compliance. Enquanto a VWPP, Prece e Previsc decidiram terceirizar este trabalho, fundos de pensão como a Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), e a Fundação Cesp apostam em receitas caseiras.
A Funcef criou, há pouco mais de um ano, uma área interna de controladoria, que incorporou as áreas de contabilidade, programação econômica e financeira, back-office e área de controle de risco. A Fundação Cesp está criando uma área de compliance (ver matéria na página 21).
Segundo o diretor financeiro da Funcef, Luiz Cazetta, o objetivo da nova área era segmentar as atividades. Embora seja a diretoria de investimentos a responsável pelo gerenciamento da administração do risco – e antes de fazer a alocação dos recursos verifique se a operação está de acordo com a política de investimentos da fundação –, é a controladoria que se incumbe de verificar se a diretoria de investimentos está dentro dos limites de risco estabelecidos.
Além de avaliar os riscos de crédito, a controladoria verifica os riscos operacionais e funciona também como um compliance. “O compliance é uma atividade dentro da controladoria”, diz Cazetta. O compliance faz uma supervisão dos gestores e verifica se as normas internas e externas da fundação estão sendo cumpridas, explica Cazetta.
A área de controladoria da Funcef, que tinha cerca de oito pessoas quando foi criada, conta hoje com 30 funcionários. A área responde direto à presidência da fundação.
Embora os resultados tenham sido satisfatórios até o momento e a área esteja atendendo à demanda para a qual foi criada, o diretor da Funcef entende que a controladoria deverá ser aperfeiçoada. Além dos serviços que já executa, deverá acumular outras atribuições, como, por exemplo, a verificação da qualidade dos processos de programação orçamentária, o aperfeiçoamento do controle do ativo e do passivo da fundação e ainda exercer maior controle sobre a concessão de benefícios.