Edição 116
Numa tentativa de atrair clientes institucionais para o Fundo de Investimento no Exterior (Fiex) – que voltou a ser uma boa opção com a queda da imunidade tributária – alguns gestores iniciaram uma verdadeira maratona de apresentações pelo País. Na primeira semana do mês, por exemplo, o Pactual fez road shows no Rio de Janeiro e em Brasília. No Distrito Federal, a Sistel chegou a ceder seu auditório para a apresentação a investidores.
Na segunda semana o evento do Pactual aconteceu em São Paulo. Depois, a programação incluiu Curitiba e Salvador. “Fizemos contato com 30 fundações”, afirma o diretor do Pactual, Sérgio Cutolo. A estratégia já deu o primeiro fruto: o Pactual inaugurou neste mês a nova safra de Fiex (ver box).
O JP Morgan também fez duas apresentações em fevereiro, no Rio de Janeiro e em São Paulo, para cerca de 50 fundos de pensão. Segundo o gestor de renda fixa do banco, Eduardo Mafra, nos últimos 15 dias, 5 fundos voltaram a pedir explicações sobre o produto. “Começaram a ser negociados fundos exclusivos de Fiex também com três instituições”, afirma.
O fundo de pensão Petros é outro que está em plena fase de negociações. Já houve conversas preliminares com três bancos (JP Morgan, Pactual e Bank of America), mas a aplicação em Fiex ainda tem de ser aprovada pela diretoria. Uma das propostas cogitadas é fazer uma aplicação piloto, de US$ 50 milhões, em uma única assset, para testar a rentabilidade do produto. É possível que novas aplicações sejam feitas, mas por enquanto está descartada a hipótese de uma aplicação do limite total permitido por lei, de 10% do patrimônio líquido.
O Itaú, segundo maior gestor de previdência fechada do País, segundo o Top Asset da Investidor Institucional, também vai lançar fundos Fiex, embora a procura tenha sido discreta. Na verdade, a estratégia de marketing do banco diferencia-se dos concorrentes. Em vez de apostar em road shows, a área de asset institucional do Itaú aposta no relacionamento contínuo com as fundações, segundo seu diretor, Alexandre Zákia. “Nós temos continuamente 12 pessoas em contato direto com clientes e mais 12 em asset management institucional. Essa é uma das maiores equipes do mercado”, afirma.
Comedido, o Unibanco Asset Management (UAM) diz não ter notado a procura de clientes institucionais pelo produto. “Adotamos uma política cautelosa em relação ao Fiex, porque não acredito numa explosão da demanda”, afirma o diretor comercial da UAM, Ailton Garcia, que não teme uma “fuga” de fundos de pensão para outras assets, com trabalho mais voltado para o Fiex. “Esse produto vai exigir diversificação”, afirma.
Na maioria das assets, vem sendo oferecidos Fiex exclusivos aos fundos de pensão. Mas quem não tem a “expertise” do negócio pensa até em oferecer produtos de outros bancos, como é o caso do BNL. Segundo o gerente de asset do banco, Pedro Forato, estão sendo estudadas duas possibilidades. A primeira é a de criar um Fiex aberto; e a segunda, de distribuir o produto de quem já oferece.
Vantagens – Para Cutolo, do Pactual, o Fiex (que aplica 80% em papéis da dívida externa brasileira) deve lucrar com a redução da diferença do risco País, em relação ao México, Rússia e Turquia. No dia 27 de fevereiro por exemplo, os papéis do Brasil estavam 900 pontos acima dos do Tesouro americano; já os da Turquia, 700; da Rússia, 650, e do México, 300. “Essa diferença não se justifica”, diz.
Estudo feito pela Risk Office mostra que, no longo prazo (24 meses ou mais), o Fiex é mais rentável do que as aplicações de renda fixa conservadoras e agressivas. O fundo também ganha do cambial. No entanto, se for levado em conta um período inferior a 12 meses o Fiex passa a ter rentabilidade superior apenas à do cambial. Ainda segundo a pesquisa, feita em 19 bancos, o melhor produto do mercado é o Bozano Exterior, que teve a mais perfeita combinação de maior retorno e menor risco
(Ver tabela).
Já o consultor da Risk Control para investidores institucionais, Mathias Fulda, destaca como outra vantagem a maior liquidez dos papéis negociados no exterior. Mas alerta para o risco cambial da aplicação. “Pode haver problemas com a meta atuarial dos fundos de pensão se o real se valorizar frente ao dólar”, avisa. Por conta disso, o ABN AMRO Asset Management adiou o desenvolvimento de Fiex institucionais para o segundo semestre do ano. Para driblar esse risco, o JPMorgan pensa em oferecer junto com o Fiex uma posição passiva no mercado local de cupom. “Isso resultaria num CDI com taxa mais atraente”, diz Mafra.
Outra questão polêmica, relacionada à possibilidade de perda da isenção de Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos fundos de pensão, não deve ser cogitada, diz a advogada tributarista do escritório Velloza e Girotto, Andrea Nogueira. “Essa isenção de CSLL vale a partir de 2002, mesmo se houver aplicações fora do mercado doméstico.”
Ao que parece, o maior “concorrente” das aplicações no exterior é mesmo o mercado doméstico, que ainda é bastante apetitoso. Na opinião do diretor-superintendente da Previndus e ex-presidente da Abrapp, Carlos Duarte Caldas, essa atratividade local ficou garantida depois de o BC ter sinalizado que a queda de juros pode ocorrer mais lentamente, por conta de eventos externos, como a alta do petróleo. Segundo ele, “a aplicação não está nos planos da Previndus”.
Fundiágua fecha com o Pactual
O fundo de pensão dos funcionários da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), o Fundiágua, saiu na frente e foi o primeiro a fechar, neste mês, a aplicação de Fiex no Brasil. O responsável pela operação é o Pactual. Inicialmente o fundo de pensão vai aplicar US$ 2 milhões no exterior, mas é possível que posteriormente sejam destinados os restantes US$ 2 milhões (que completam o limite de 10% dos ativos). A fundação tem hoje 2.700 associados, dos quais 428 são assistidos. Em 2001, segundo a gerência de investimentos, o fundo teve superávit de 1% dos ativos.
Centrus, de novo, contra a corrente
Quando todo o mercado evitava aplicações no exterior, com medo de perder a imunidade tributária, o fundo de pensão dos funcionários do Banco Central (Centrus) mantinha Fiex em sua carteira. Isso nos idos de 1997. Agora, quando todo mundo pensa em fazer investimentos deste tipo, a fundação descarta a hipótese. O motivo é que hoje, ao contrário, de antes, o fundo de pensão prioriza o curto prazo, a liquidez e exibe um perfil altamente conservador.
Segundo o diretor de investimentos da Centrus, Ricardo Monteiro de Castro, isso dá maior garantia aos 1.800 beneficiários. Toda a cautela é necessária porque a Centrus praticamente não tem contribuintes, apenas assistidos. É que, por decisão judicial, desde 1997, os funcionários ativos do BC deixaram de ser enquadrados na CLT e passaram a ser funcionários públicos, deixando de contribuir para a fundação. “O Fiex deu retorno satisfatório, mas hoje a Centrus envelheceu. Os contribuintes são apenas os funcionários do próprio fundo de pensão”, afirma.
Ele lembra que o fundo de pensão investiu em Fiex de 1997 a 1999, por orientação do próprio BC. “Mas era um Fiex nacional, porque a carteira tinha apenas papéis de empresas brasileiras no exterior”, diz Castro.