Fundos de pensão dos Estados Unidos que estão considerando transferir risco previdenciário de seus planos para seguradoras devem ser cautelosos. Reportagem da Pensions and Investments (P&I) explica que esse tipo de transferência exige um planejamento de longo prazo sobre a melhor forma de estruturar o acordo com a seguradora, que pode ser feito por meio de transferência de ativos, por transferência em dinheiro ou uma combinação de ambos.Fundos de pensão dos Estados Unidos que estão considerando transferir risco previdenciário de seus planos para seguradoras devem ser cautelosos. Reportagem da Pensions and Investments (P&I) explica que esse tipo de transferência exige um planejamento de longo prazo sobre a melhor forma de estruturar o acordo com a seguradora, que pode ser feito por meio de transferência de ativos, por transferência em dinheiro ou uma combinação de ambos.
Uma transferência de ativos parece ser a opção mais atraente pelo seu baixo custo em relação ao prêmio pago à seguradora. Contudo, exige um planejamento junto a consultores para que os ativos atendam às necessidades das seguradoras, já que os fundos de pensão são isentos de impostos nos Estados Unidos enquanto as seguradoras operam sob restrições regulatórias mais rígidas. A reportagem destaca que uma compra de anuidade em grupo, com valor de menos de US$ 1 bilhão, geralmente é realizada em dinheiro, mas aquelas acima desse limite envolvem ativos em espécie ou uma combinação dos dois.
A transferência de ativos permite que uma seguradora aceite valores mobiliários, na maioria das vezes ativos de renda fixa, mas também uma quantidade limitada de outros ativos dos fundos de pensão. A maioria das transferências é feita através da liquidação de títulos por parte do fundo de pensão, que por sua vez transfere o dinheiro para a seguradora.
A vice-presidente sênior e líder da área de gestão de ativos de seguros da MetLife Investment Management, Lisa Longino, diz que as seguradoras geralmente dão preferência ao recebimento de ativos em casos de acordos de longo prazo, já que normalmente há uma demora em transformar grande volumes de dinheiro em títulos que a seguradora possa gerir. Já o vice-presidente sênior de transferência de risco previdenciário da Prudential Financial em Nova Jersey, Scott Kaplan, diz que em grande parte, a preferência do patrocinador do plano será dada de acordo com o custo comparativo de liquidar o portfólio com um prêmio potencial oferecido pelas seguradoras em seus preços. “Os benefícios oferecidos podem variar de acordo com a companhia de seguros”.
Segundo a Prudential, o custo de uma aquisição é de cerca de 104% do passivo previdenciário a ser transferido. O prêmio pago, no entanto, às vezes pode ser menor dependendo da natureza do negócio. “As preferências das seguradoras normalmente variam de acordo com sua visão do passivo específico e da adequação dos ativos disponíveis para transferência em relação ao passivo. Muitas vezes, a seguradora e o patrocinador do fundo de pensão podem concordar com subconjuntos do portfólio que façam um bom ajuste e representem maior valor”, disse Kaplan.
Esse trabalho é decorrente dos investimentos direcionados pelo passivo, que muitos patrocinadores de fundos de pensão implantaram nas últimas duas décadas conforme foram congelando novas adesões aos seus planos de benefício definido (BD). Esse tipo de investimento aumenta a exposição do plano de benefícios a ativos de renda fixa ao longo do tempo, para que haja correspondência com a duração do passivo do plano.
De acordo com especialistas, à medida que mais planos previdenciários estão com seus portfólios posicionados para uma eventual transferência de risco, os acordos sobre a melhor maneira de realizar esse tipo de transação entre fundos de pensão e seguradoras aumentaram. Esse novo posicionamento dos fundos de pensão se deve ao sucesso de algumas transferência realizadas em 2012, como as da General Motors e da Verizon Communications, que transformaram o cenário de transferência de risco previdenciário ao repassar US$ 29 bilhões e US$ 7,5 bilhões, respectivamente, para a unidade de seguros da Prudential. De acordo com o Limra Secure Retirement Institute, US$ 100 bilhões em passivos previdenciários foram transferidos para as seguradoras desde o início de 2012.
Seguradoras – Na hora de realizar os acordo, se o fundo de pensão optar pela transferência de ativos, ele deve se familiarizar com os tipos de ativos que as seguradoras desejam. O diretor de gestão de soluções de seguros da Voya Investment Management em Nova York, John Simone, explica que as seguradoras costumam enfatizar a eficiência do capital em relação aos retornos totais na hora de administrar os ativos. Por conta disso, a renda fixa domina as carteiras. “Para as companhias de seguros, é sabido que ter um certo nível de capital impulsiona suas avaliações gerais, e a força de seu balanço geral é usada para várias finalidades, independentemente de você obter ou não financiamento externo”, disse Simone.
Além disso, as companhias de seguros são reguladas pela lei estadual e pela National Association of Insurance Commissioners (Associação Nacional dos Comissários de Seguros,em português), o que significa que elas têm exigências regulatórias que precisam ser cumpridas. “Os ativos com capital eficiente, que cumpram as obrigações de longo prazo do fundo de pensão, sempre serão preferidos a investimentos que possam ter os mesmos retornos, mas são menos eficientes em termos de capital”, disse Simone. Entre esses ativos menos eficientes, ele cita os investimentos alternativos e ações. “A grande maioria é investida em renda fixa, porque são úteis; são os melhores ativos que atendem aos passivos”, destacou.
De acordo com a National Association of Insurance Commissioners, de um total de US$ 3,98 trilhões em ativos administrados pelas seguradoras norte-americanas até 31 de dezembro de 2016, US$ 2,87 trilhões, ou 72,2%, estavam aplicados em renda fixa, sendo que desse total, US$ 1,76 trilhão, ou 61,3%, estavam aplicados em títulos corporativos. “Não desgostamos das ações em geral”, diz o diretor administrativo da unidade global de gerenciamento de portfólio da Prudential em Newark, Brian Curran. “As ações proporcionam diversificação, portanto nem todos os seus ovos, por assim dizer, estão em uma cesta de crédito. Elas podem gerar ganhos ao longo do tempo em relação à renda fixa. Mas haverá ciclos de crédito nos quais você terá perdas, independentemente de quão bom gestor de ativos você é”, complementa o executivo.
Outros ativos de risco são ainda mais desafiadores, disse o presidente do Legal & General Group PLC nos Estados Unidos, George Palms. Embora os fundos de hedge e de private equity tenham sido transferidos como parte do acordo realizado pela General Motors, nos últimos três ou quatro anos “a comunidade de seguradoras não esteve, em grande parte, disposta a incorporar esses ativos”, diz Palms.
Conversas recentes de fundos de pensão com seguradoras sobre o interesse dessas companhias em assumir ativos de private equity resultaram em uma resposta negativa por parte delas. A hesitação em assumir ativos de mais risco se deve à necessidade de liquidez e eficiência de capital e, por isso, títulos corporativos de alta qualidade e longa duração são a classe de ativos mais desejada. As companhias de seguros desejam principalmente ativos de crédito de alta qualidade.
Investimentos – As seguradoras também detêm grandes parcelas de investimentos nos tipos de títulos em que os fundos de pensão geralmente não investem, como empréstimos hipotecários comerciais. Os títulos garantidos por ativos não referenciados oferecem opções atraentes para diversificar ainda mais o portfólio das companhias de seguros. Alocações securitizadas de projetos de energia solar, empréstimos estudantis e bancários, frete, arrendamento de fluxos de caixa de royalties são alguns exemplos.
Seguradoras como Prudential, MetLife e Voya, têm mais flexibilidade para realizar esse tipo de investimento. “O que vai diferir de seguradora para seguradora é a existência de uma unidade de gestão de ativos que pode fornecer dívida ou realizar empréstimos comerciais ou agrícolas”, diz Brian Curran, da Prudential. A MetLife Investment Management, por sua vez, é mais flexível em relação aos ativos necessários devido à grande presença global que a empresa tem em outras classes de ativos.
Transação recente – Em maio deste ano, a FedEx sediada em Memphis, no Tennessee, firmou um contrato de anuidade em grupo com a MetLife para transferir cerca de US$ 6 bilhões em passivos de seu fundo de pensão nos Estados Unidos. A transação foi a maior desse tipo desde os negócios realizados pela General Motors e Verizon em 2012.
A FedEx não revelou a natureza específica dos ativos transferidos, mas o patrimônio dos planos previdenciários investidos em títulos corporativos caiu para US$ 5,83 bilhões em 31 de maio, ante US$ 8,16 bilhões contabilizados no ano anterior. O caixa do fundo de pensão reduziu de US$ 1,06 bilhão para US$ 714 milhões. Os ativos totais do fundo de pensão da empresa totalizaram US$ 22,1 bilhões em maio.