Carteira de renda variável da Eletros usa trava | Operação realiz...

Edição 75

No início do ano, a carteira de investimentos da fundação Eletros (Eletrobrás) já acumulava uma rentabilidade suficiente para superar com folga as metas atuariais do seu plano de benefício definido, graças ao desempenho das bolsas de valores no segundo semestre do ano passado. Porém, com a instabilidade do mercado de ações, alimentada em grande parte pelo medo do estouro da chamada “bolha americana”, a fundação tratou de se proteger.
Na sua primeira reunião do ano, o comitê operacional de aplicações da Eletros, formado pelo seu diretor financeiro e especialistas da área, decidiu contratar uma operação de trava para a carteira de renda variável, que na época alcançava R$ 130 milhões. A operação de 1 ano foi contratada junto aos bancos CSFB Garantia e Merrill Lynch.
Com ela, a carteira da Eletros está protegida de quedas do índice da bolsa paulista abaixo de 17.500 pontos, que é o necessário para manter seu equilíbrio atuarial, embora os ganhos da entidade fiquem limitados a 24.500 pontos. “Para nós, que temos perfil de longo prazo, o mais importante é garantir o equilíbrio do plano e ganhar até o limite que não o comprometa”, comenta o gerente de risco da Eletros, Jair Ribeiro.
A operação foi estruturada de modo a diluir ao máximo os custos para a entidade. Assim, numa ponta a fundação adquire 7,4 mil contratos de opção de venda (também conhecida como put) do índice Ibovespa a 17.500 pontos. Na outra ponta, a entidade vende para o mesmo parceiro 7,4 mil contratos de opção de compra (chamada call) do índice Ibovespa a 24.500 pontos, além de mais 7,4 mil contratos de put de Ibovespa a 10.500 pontos.
As duas vendas de opções feitas pela entidade serviram para compensar o custo da compra das puts. A fundação optou por abrir mão dos ganhos que superarem os 24.500 pontos do Ibovespa, mas se o índice Ibovespa cair abaixo de 10.500 pontos a Eletros terá de pagar a diferença. Ou seja, a carteira não tem proteção nenhuma abaixo desse patamar. “Essa operação foi importante porque gerou receita, e achamos que uma queda abaixo dos 10,5 mil só seria alcançada em uma situação de stress”, explica Ribeiro.
A operação foi dividida em três tranches, ficando duas com o CSFB Garantia e uma com o banco de investimentos americano Merrill Lynch. O prazo da operação é de 1 ano, até 17 de janeiro de 2.001. Se durante a vigência do contrato o Ibovespa ficar entre 17.500 e 24.500 pontos, a Eletros sai ganhando. “O importante é entender que esse foi um leilão de spread, ou seja, não envolveu nenhuma troca física de dinheiro. Ou seja, só lá no vencimento da operação é que vamos apurar os lucros ou prejuízos, embora nesse momento já estejamos ganhando R$ 3 milhões”, esclarece Jair Ribeiro.
A recente operação da Eletros remete à uma outra semelhante, realizada também por ela no início do ano passado porém com um pouco menos de sofisticação, uma vez que a trava era feita usando-se apenas opções de venda. Dessa vez, como essa alternativa mostrou-se excessivamente cara devido à alta volatilidade do mercado acionário, a Eletros decidiu ela mesma vender opções lastreadas em sua carteira, compensando assim os gastos com o hedge que tinham saltado de 5% para 10% do valor da operação.
O pioneirismo rendeu algumas discussões à área de investimentos da Eletros, que teve que explicar ao Comitê Executivo de Investimentos como funcionava a operação. Embora o comitê não tenha o poder de barrar as operações, o “aval moral” que dá a elas é importante. “Surgiram propostas como vender a carteira de ações e comprar renda fixa, ou mesmo canalizar os recursos para investimentos de base imobiliária, mas nós conseguimos mostrar que era interessante ficar na renda variável, e que com a proteção só teríamos a ganhar e nada a perder”, conta Beni Faerman. “Então a operação foi aprovada.”