Diversificação avança na Capef | Detentor de sólidas posições em ...

Hoje com remuneração decrescente, os títulos públicos da União foram, por anos a fio, o principal alicerce das estratégias de investimento das entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs), com reflexos positivos até o presente. As fundações que apostaram de forma consistente em papéis federais com retornos generosos poderão conduzir de forma mais tranquila o processo de aumento de sua exposição ao risco, ditado pela contínua queda da Selic, iniciada no último trimestre de 2016. É o caso da Capef, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), com sede em Fortaleza, que concentra cerca de 85% de seu portfólio em títulos pré e pós-fixados, 11 pontos percentuais acima da média do sistema. “O destaque da carteira de renda fixa são títulos públicos, em particular notas do Tesouro Nacional. Começamos a comprá-las em meados da última década, sempre a taxas elevadas, e seguimos colhendo os frutos dessa boa opção”, comenta o diretor-presidente Jurandir Mesquita.
Tais aquisições contemplaram, de início, o plano de benefício definido (BD) da entidade. Fechado para adesões há 20 anos, o BD contabilizava, em dezembro último, R$ 292,64 milhões em Notas Financeiras do Tesouro Nacional, o equivalente a 8% de sua massa de recursos. A prática, a seguir, foi estendida em larga escala ao plano de contribuição variável (CV). Criado em 2010, o plano que alcançou a marca de R$ 1 bilhão de patrimônio líquido no primeiro bimestre, tem por volta de 72% de seus ativos concentrados em notas e letras financeiras do Tesouro Nacional e vem apresentando boas performances. As rentabilidades em 2018 e nos sete primeiros meses deste ano, de 12,75% e 7,41%, superaram com folgas as metas atuariais, a exemplo do ocorrido com o BD, que obteve retornos de 11,97% e 6,64% nos mesmos intervalos de tempo.
“Estamos, claro, muito satisfeitos com o retorno propiciado por essas aplicações, mas temos de buscar opções, em razão da queda da remuneração dos títulos públicos – especialmente para o plano CV, que, ao contrário do BD, ainda está em fase de acumulação”, assinala Mesquita. “O desafio é encontrar ativos que permitam o cumprimento das metas atuariais de 5,25% ao ano além da variação do IPCA, no CV, e de INPC mais 5,5%, no plano de benefício definido.”
O ajuste rumo a uma maior exposição ao risco vem ganhando intensidade nos últimos tempos. As aplicações em renda variável do CV, que propiciaram um ganho de 24,05% até agosto, praticamente dobraram desde o fim de 2018, saltando de 4,80% para 9% da carteira, apenas um ponto percentual abaixo do máximo estabelecido pela política de investimentos para o exercício em curso. Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs), que ganharam espaço no cardápio da casa há cerca de cinco anos, aumentaram, igualmente, a sua fatia no portfólio do plano, de 3,48% para 4,40%, e garantiram um retorno de 15,15% nos oito primeiros meses de 2019.

Ações e fundos imobiliários – O ajuste rumo a uma maior exposição ao risco vem se tornando mais intenso nos últimos tempos. As aplicações em renda variável do CV, que apresentaram evolução de 24,05% até agosto, praticamente dobraram desde o fim de 2018, saltando de 4,80% para 9% da carteira, apenas um ponto percentual abaixo do teto definido pela política de investimentos para o atual exercício. Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs), que começara a figurar no cardápio da casa há cerca de cinco anos, aumentaram, igualmente, a sua fatia no portfólio do plano, de 3,48% para 4,40%, e garantiram um retorno de 15,15% nos oito primeiros meses de 2019.
“Operamos com oito fundos do gênero que adotam estratégias distintas, com investimentos em centrais logísticas, shopping centers e lajes corporativas”, diz o diretor-presidente. “Já estamos identificando oportunidades em outras áreas, como a de desenvolvimento. Em julho, iniciamos contatos com uma gestora que tem projetos de lajes de escritórios e no segmento residencial.”
Aos poucos, os FIIs também começam a conquistar lugar no portfólio do BD. A médio prazo, essas aplicações, que somavam R$ 19,05 milhões em 2018, tendem a tomar, de forma gradual, o espaço hoje ocupado pelos imóveis, uma carteira que, com R$ 261,83 milhões em dezembro último, teve a sua participação na carteira reduzida de 8% para 7% nos dois últimos anos. O processo de enxugamento, diga-se, começou antes da edição da Resolução 4.661 do Conselho Monetário Nacional (CMN), de maio de 2018, que estabeleceu um prazo de 12 anos, a vencer em 2030, para as EFPCs zerarem os seus investimentos diretos em edificações e terrenos. “O processo de desimobilização teve início bem antes da 4.661, para fazer frente ao pagamento de benefícios do plano, que é bem maduro”, explica Mesquita. “Chegamos a avaliar a transferência desses ativos para FIIs, mas concluímos que não valeria a pena. Sendo assim, vamos dar sequência às vendas dos imóveis do BD, à medida que surgirem boas ofertas.”

Investimentos no exterior – Ainda tímidos, os investimentos no exterior, restritos ao plano de contribuição variável, devem, da mesma forma, crescer nos próximos exercícios. A opção entrou no radar da Capef no fim de 2017, mas a sua participação no bolo do CV encolheu dos 2,27% originais para os atuais 0,78%, que garantiram uma rentabilidade de 13,41% entre janeiro e agosto. “A rentabilidade dessa carteira tem sido muito boa. Entre janeiro e agosto, alcançou a marca de 13,41%, ficando abaixo somente da renda variável”, diz o executivo. “De início, compramos cotas de três fundos em ações e títulos públicos estrangeiros; depois, concentramos os recursos em um único produto lastreado em crédito privado e papéis públicos, especialmente em títulos dos Estados Unidos.”
O leque de aplicações em análise na entidade inclui, ainda, fundos de investimentos em participações (FIPs). A modalidade, ainda olhada com reservas por boa parte das EFPCs, em razão de escândalos e fortes perdas causadas a fundações de previdência em meados da década, que chegaram a entrar no raio de ação da Operação Lava Jato, goza de excelente conceito na Capef. “Tivemos boas experiências com fundos ancorados em empresas emergentes por volta de 2005”, conta Mesquita. “O produto, com certeza, vai recuperar o seu apelo junto ao mercado em um cenário de juros reduzidos. Até porque os problemas ocorridos há alguns anos com FIPs não foram consequência desses veículos de investimento, e sim de certos ‘motoristas’.”

Política de investimentos – As diretrizes da política de investimentos para 2020 começarão a ser traçadas na segunda quinzena de novembro. Como é de praxe desde 1994, o debate, que conta tradicionalmente com presença expressiva de participantes dos planos da EFPC, será realizado no Seminário de Investimentos e Benefícios, no auditório Celso Furtado, instalado na sede do Banco do Nordeste. Com um público médio de 150 pessoas por jornada, o evento se estende por dois dias, com apresentações de economistas, analistas e gestores. “No segundo dia, depois das palestras dos especialistas, tem início a discussão dos postulados de alocação dos recursos dos planos, que serve de subsídio para a definição final, a cargo do conselho deliberativo”, diz Mesquita.
Criada em março de 1967, dez anos antes da Lei 6.435, primeiro marco regulatório da previdência complementar no país, a Capef tem como uma de suas prioridades na esfera operacional a ampliação de seu público-alvo. Hoje voltada a uma população de cerca de 12.320 participantes, dos quais 57% se encontram na ativa, a entidade vem realizando campanhas e ações de incentivo a adesões ao plano CV de forma sistemática nos últimos anos. Como decorrência desse esforço, o contingente de participantes corresponde hoje a 89% da força de trabalho do patrocinador, cinco pontos percentuais a mais do que o registrado há dois anos.
“Neste ano, até agosto, contatamos pessoalmente 285 funcionários do Banco do Nordeste em 75 municípios e convencemos 135 a participar do plano”, conta o executivo. “A meta traçada para 2019, de 197 adesões, será, tudo indica, superada por ampla margem com a abordagem dos 112 contratados do patrocinador que assumirão seus postos nas próximas semanas. Estamos otimistas, pois o índice de adesão de novos funcionários costuma superar 90%.”
O passo seguinte do programa de expansão, previsto para 2020, será a constituição de um produto instituído voltado a parentes e dependentes dos participantes dos planos patrocinados da casa. A intenção é contar com até 4 mil novos contribuintes, com tíquetes médios per capita de R$ 90,51 mensais, num prazo de cinco anos. “O plano familiar será um item fundamental em nossa estratégia de crescimento orgânico”, observa Mesquita, que também começa a olhar para além dos limites da Capef. “Uma proposta em estudo prevê a prestação de serviços de administração de planos de benefício previdenciários para fundos de pensão de menor porte. Ainda não conversamos a respeito com o nosso conselho deliberativo, mas acreditamos na viabilidade do projeto, já que as entidades menores não terão como absorver os custos crescentes com governança, gestão de riscos e controles internos, entre outros itens.”