Bram já nasce grande | Bradesco Asset Management lança-se ao merc...

Edição 97

Ela já nasceu grande. A Bradesco Asset Management (Bram), resultado da fusão dos fundos e carteiras administrados pelo Bradesco, BCN Alliance, Bradesco Templeton e Boavista Espírito Santo, nasce com R$ 60 bilhões sob gestão. Isso representa cerca de 15% do total da indústria, que segundo o ranking Top Asset fechou o ano passado com R$ 389 bilhões e deve estar hoje com cerca de R$ 400 bilhões em ativos sob gestão.
Ao enfeixar todos os seus negócios na área de gestão de recursos numa só empresa, a Bram, o Bradesco tomou uma decisão que há tempos era esperada pelo mercado. Na verdade, o que o mercado se perguntou quando soube da decisão foi porque isso não tinha sido feito antes. “Entendemos que o momento certo era agora, e realizamos a operação”, explica Robert Van Dijk, que assumirá a superintendência da Bram.
Segundo ele, que anteriormente comandava a Bradesco Templeton, a montagem da operação foi feita sob sigilo absoluto, para evitar especulações no mercado e insegurança entre funcionários e clientes. Comandada pelo diretor responsável pela área de mercado de capitais do banco, Sérgio de Oliveira, e contando com a ajuda de Van Dijk, a costura da operação toda durou seis meses e não vazou até o momento de ser anunciada.
O primeiro passo da operação foi um acordo com o grupo norte-americano Alliance, sócio do BCN (controlado pelo Bradesco) na asset que levava o nome dos dois. O Bradesco comprou a metade do sócio estrangeiro, mas teve o cuidado de estabelecer um acordo pelo qual passaria a receber pesquisas para a nova empresa a ser criada. O passo seguinte foi fazer um acordo com o também norte-americano Templeton, sócio no Bradesco na asset que levava igualmente o nome de ambos, pelo qual o Bradesco comprava as carteiras e os fundos da asset. A compra incluiu todos os produtos da asset com exceção de um fundo, de governança corporativa, que por ser especialidade da Templeton nos EUA continuaria sendo administrado pela sua equipe no Brasil, usando o nome de Bradesco Templeton. No caso da asset do grupo Boavista Espírito Santo, comprada pelo Bradesco há mais de um ano, a incorporação foi simplesmente natural.
“A fusão permitiu otimizar as estruturas das várias assets, aumentar as sinergias entre as áreas e criar focos para cada estrutura de negócios”, explica Oliveira. De acordo com ele, a Bram vai atuar com equipes especializadas nas áreas de varejo, corporate, private e institucionais. Dos R$ 60 bilhões sob gestão, 52% são provenientes do varejo, 12% do corporate, 4% do private e 32% dos institucionais (incluindo fundos de pensão, seguradoras e previdência aberta).

Mercado – Administrar esse volume de recursos não será uma tarefa fácil. Para Van Dijk, um executivo com um perfil diferente da maioria dos executivos do Bradesco, uma vez que não fez sua carreira lá, será como passar do leme de uma lancha para o de um transatlântico. Na Bradesco Templeton ele administrava pouco menos de R$ 2,3 bilhões em dezembro do ano passado. “Mas quando alguém se propõe a ter um restaurante, a primeira coisa com que precisa se preocupar é em ter uma cozinha eficiente”, diz ele. “A equipe soma competências distintas e o resultado do nosso trabalho virá em breve”.
Entre outras coisas, a Bram quer elevar sua participação de mercado dos atuais 15% para 20%. Em quanto tempo? “Isso acho que é cedo para falar”, esquiva-se Van Dijk. “Mas não vai demorar muito”, apressa-se a completar Oliveira.
Uma das operações mais complicadas será a análise de todos os 180 fundos de investimento existentes, para ver se existe superposição entre eles e se é possível juntá-los. Não é um processo simples, pois além da análise interna deve-se convocar assembléias dos cotistas de cada um deles. A expectativa é ter o novo quadro definido até o final de julho, avalia Van Dijk.
Eles acreditam que a fusão trará bem mais que sinergia e otimização das estruturas, pois representa um ganho de imagem muito grande para a marca. A empresa resultante tornou-se maior e mais valorizada que a simples soma aritmética das partes, ganhando em marca, imagem, sofisticação, equipes especialistas e abrangência.
A equipe resultante da fusão soma 80 pessoas, que ocuparão dois andares do prédio onde funcionava anteriormente a Bradesco Templeton, em metade de um andar. Não houve demissões, tampouco contratações externas, no primeiro momento. “Mas, de acordo com as necessidades, podemos vir a contratar executivos de fora”, explica Van Dijk.
Na estrutura da Bram, num nível abaixo ao da superintendência, existem 15 diretores de áreas, respondendo por gestão, risco, compliance e aspecto jurídico dos produtos. A área de research terá 11 analistas fundamentalistas. “Os padrões de investimento no Brasil estão tornando-se internacionais, e estamos montando nossa estrutura de acordo com as novas exigências do mercado”, diz o superintendente da casa.

Rede – Para Van Dijk, a área de previdência privada deve dar um grande salto nos próximos anos, impulsionada principalmente pelo crescimento dos fundos PGBL. Hoje, a área da previdência privada, somando entidades fechadas e abertas, representa cerca de 18% do PIB, número que deve chegar a 40% ou 50% do PIB até 2010. A área de fundos de investimento, que tem tido elevado crescimento, na verdade ainda não deu a verdadeira arrancada, como aconteceu na década de 1950 nos EUA. “Isso deve acontecer nos próximos anos, quando a estabilidade econômica se consolidar e a população começar a migrar seus investimentos para os fundos de renda variável”, analisa Van Dijk.
O Bradesco está preparando sua rede de varejo para esse momento. Nas agências, haverá cada vez mais gerentes especializados em negócios e investimentos, numa média de 10 por agência – antigamente eram apenas um gerente e um sub-gerente. Serão pelo menos três gerentes para a área de poupança, três para atendimento a pessoas físicas e três para atendimento a pessoas jurídicas. Nas maiores, o número poderá chegar a 15. Esse modelo já está implantado em 600 agências, das 2.600 que o banco possui, que entretanto representam 70% da sua captação.
Ao lado disso, os profissionais ligados à área de venda de produtos de investimento estão recebendo treinamento especial, da mesma forma que os 4 mil vendedores comissionados do banco que atuam nos segmentos de seguro e previdência. “Estamos nos preparando para o ‘boom’ que virá nos próximos anos”, explica Sérgio de Oliveira. “Não seremos pegos de surpresa”.
Na Bram, a única área que terá equipe comercial própria será a de institucionais, uma vez que todas as outras serão localizadas fora da sua estrutura. A exceção justifica-se pela especialização exigida dessa equipe, que trata com clientes muito mais sofisticados que os das outras áreas. “O institucional é um cliente que olha benchmark”, explica Van Dijk.