Edição 87
Estava tudo certo: o fundo de pensão do Banorte sairia do regime de intervenção no último dia do mês de setembro passado. A Secretaria de Previdência Complementar havia decidido que a fundação voltaria à normalidade, depois de enfrentar um período de mais de 4 anos de intervenção. Um pedido especial do Unibanco, porém, fez com que o órgão tivesse que adiar por 60 dias a mudança no Banorte. “Pedimos o adiamento para tomar pé da situação”, revela Jorge Rosas, presidente da Unibanco Asset Management.
Até chegar às mãos do Unibanco, o fundo do Banorte percorreu um longo caminho. Primeiro o Bandeirantes adquiriu o Banco Banorte no início de 1996. O Bandeirantes não quis assumir a fundação do Banorte e, como sua patrocinadora começou a ser liquidada, a SPC decretou a intervenção na entidade. Depois veio a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que comprou o Bandeirantes no ano passado. Nesta trajetória, a fundação Banorte foi empurrada de um banco para outro sem que ninguém quisesse assumir seu passivo previdenciário.
Finalmente o Unibanco assumiu o controle da CGD em setembro passado. Com o negócio, o Unibanco não apenas terá que enfrentar a questão da fundação do Banorte como também recebe por tabela o fundo de pensão do próprio Bandeirantes, o Trevo.
Em relação ao fundo do Bandeirantes, o Unibanco já assumiu sua administração. Uma das primeiras decisões foi transferir a gestão das carteiras de renda fixa que estavam sob responsabilidade do Bandeirantes para a Unibanco Asset Management. Com isso, a UAM passa a realizar a gestão de cerca de R$ 200 milhões em ativos de renda fixa que pertencem ao fundo de pensão.
No caso dos três gestores de renda variável da Trevo (ING, SSB Citi e BCN Alliance), eles não serão modificados por enquanto. A fundação possui aproximadamente R$ 60 milhões aplicados hoje em fundos e carteiras de ações desses gestores . “Não vamos mudar imediatamente a gestão da renda variável, mas é natural que a UAM assuma também esta carteira mais adiante”, revela Jorge Rosas.
Quanto ao fundo do Banorte, estão marcadas algumas reuniões com o interventor para que o Unibanco conheça melhor a situação da entidade. A curto prazo o banco não tem intenção de extinguir nenhum dos dois fundos de pensão. Mas, no futuro, a situação pode mudar. “Não descartaria a hipótese de, a médio prazo, transferir os planos e recursos desses dois fundos para nosso fundo de pensão multipatrocinado”, afirma Rosas, referindo-se ao Múltipla, multipatrocinado que veio junto com o Credibanco na compra efetuada pelo Unibanco no início deste ano.
Déficit – O maior problema do fundo do Banorte é o déficit que já chegou a atingir a marca de R$ 111 milhões em outubro de 1999 e que, atualmente, beira os R$ 93 milhões. O patrimônio, por outro lado, é de apenas R$ 83 milhões. Independente da difícil situação, o interventor Osvaldo Luiz Moraes procurou sanear parte do desequilíbrio da fundação. “A recuperação só não foi maior porque tínhamos muitas ações da patrocinadora em carteira e também porque tivemos que efetuar a reestruturação da carteira de imóveis”, afirma o interventor. A fundação perdeu cerca de R$ 10 milhões com as ações do banco e R$ 4 milhões na reavaliação de seus imóveis.
Ainda antes de deixar o fundo de pensão, Osvaldo Moraes pretende concluir uma reavaliação dos benefícios que estão sendo pagos. Ele prevê que a revisão possa provocar uma redução no déficit de até R$ 30 milhões. “Estamos concluindo uma auditoria de benefícios e acredito que o déficit possa ser reduzido”, diz.
Atualmente, o fundo tem a maior parte da carteira de ativos bastante líquida. Apenas R$ 4 milhões estão aplicados em imóveis e empréstimos a participantes e o restante encontra-se investido em renda fixa. A fundação mantém hoje 6 fundos exclusivos com os seguintes gestores: Matrix/Itaú, Liberal, Mercatto, ABC Brasil, Sul América e Stock Máxima.