Baixando as metas | Entidades aproveitam os bons resultados dos ú...

Valia, Eletros, Braslight e Eletra são algumas das fundações que baixaram a meta atuarial de seus planos para patamares condizentes com o atual nível da Selic. Essa taxa, ao cair de 14,25% para 6,5%, reduziu de maneira substancial a remuneração das carteiras de renda fixa.
O fundo de pensão da Vale reduziu a meta atuarial dos dois principais planos de Contribuição Variável (CV), ainda abertos a novas adesões, de 5,5% para 5,25%. Com isso, a entidade previdenciária sinaliza que espera obter uma remuneração futura menor do que vinha conseguindo até então, o que vai resultar em benefícios aos participantes também um pouco mais baixos, explica a gerente de atuária da Valia, Eliete Lomeu. Segundo a especialista, a queda das metas decorre do risco de reinvestimento que existe nos dois planos, o que não é verdade nos demais planos sob administração da Valia, que já estão fechados e com carteiras bem definidas através de estudos de ‘cash flow matching’.
“Os dois planos em que reduzimos a meta tem entrada constante de recursos, exigindo a compra frequente de novos títulos, e sabemos que não vai ser mais fácil conseguir as taxas de juros nos patamares elevados que encontrávamos no passado recente”, fala a gerente. Segundo ela, o trabalho de redução da meta exigiu um esforço conjunto da área de atuária com a de investimentos. “A mudança na meta se relaciona tanto com a parte dos retornos, ligada à carteira de investimentos, quanto com a taxa de desconto, atrelada ao passivo. O alinhamento fino entre essas áreas consegue definir o timing ideal para promover a redução da meta”.
De acordo com Eliete, haverá uma queda de aproximadamente 0,25 ponto percentual no saldo a ser acumulado pelos participantes, em linha com a diminuição da meta. Ela ressalta a importância de promover programas de educação financeira junto a massa de participantes dos planos afetados pela alteração na rentabilidade futura esperada dos investimentos. “Não adianta fazer um trabalho de conscientização quando o participante já estiver prestes a se aposentar”.
Os dois planos que reduziram a meta – Vale Mais com cerca de 73 mil participantes ativos e 6 mil assistidos, e o ValiaPrev com 18 mil ativos e 650 assistidos – oferecem perfis de investimento. “Os participantes precisarão ter uma maior conscientização financeira para acompanhar com atenção o retorno dos investimentos, fazendo simulações para saber se estão alcançando aquilo que era esperado e se, eventualmente, terão de contribuir um pouco mais em função da redução da meta”, explica Eliete.

Atrelados ao CDI – Na Eletros, fundo de pensão da Eletrobras, a redução das metas se concentrou em seus quatro planos CDs, que passaram de 5,65% para 5,25%. Já no plano BD a meta se manteve inalterada em 5,65%. “No BD possuímos uma carteira de títulos públicos marcada na curva com taxa média de IPCA mais 6,4% ao ano, o que eleva sua expectativa de retorno, sem a necessidade de redução da meta”, fala o diretor financeiro da Eletros, Luiz Guilherme Pinto.
Já os CDs da entidade, prossegue o dirigente, não contam com uma carteira de títulos públicos longos que pudesse gerar uma expectativa de retorno futuro suficientemente elevada para manter a meta atuarial sem modificações. “Nos CDs temos uma carteira de títulos de curto prazo atrelados ao CDI, com uma média de 15% em ações, e pelas simulações atuariais não havia condições de manter a taxa em 5,65%”.
O resultado positivo apresentado pela carteira de investimentos da Eletros em 2017 – o retorno foi de 12,7%, contra uma meta de 7,8% – contribuiu para que a fundação tivesse capacidade de reduzir as metas sem causar impacto para seus participantes. “Por conta da gordura que conseguimos em 2017 pudemos reajustar os benefícios pela inflação, com um incremento em torno de 2%, e utilizar o excedente restante para fazer a redução da meta, portanto sem que o participante sofresse nenhum impacto”, comenta o diretor financeiro.

Reduzindo o BD – Na Braslight a redução da meta ocorreu no plano de Benefício Definido (BD), de 5,47% para 5,25%. O gerente de atuária, Raphael Barcelos, explica que o plano BD do fundo de pensão já é bastante maduro, com cerca de 4 mil participantes inativos e somente dez ativos. Por essa característica da massa, explica o especialista, o plano tem um volume pequeno de entrada de receitas, o que dificulta a busca por novos investimentos de longo prazo capazes de entregar retornos condizentes com a meta anterior.
A maior parte dos investimentos do plano BD da Braslight está em NTN-Bs de longo prazo, sem vencimentos de títulos todos os anos para fazer frente às obrigações junto aos participantes, o que força a entidade a manter parte dos recursos para pagamentos imediatos em caixa. “Como mantemos parte dos recursos para pagamentos de benefícios em caixa, geralmente atrelados ao CDI, optamos por reduzir a meta para níveis próximos aos que têm sido praticados no mercado para não corrermos o risco de descasamento entre as obrigações e o retorno que conseguimos”, afirma Barcelos.
O atuário destaca a importância de reduzir a taxa de desconto neste momento, mitigando o risco de um descasamento entre obrigações e retornos dos investimentos quando os pagamentos do plano estiverem próximos do fim. A previsão é que os últimos pagamentos do plano ocorram somente em 2094.

Privatização – Por sua vez, a Eletra, fundação da Celg D, empresa de distribuição de energia de Goiás que foi privatizada no final de 2016 e agora é controlada pela italiana Enel, reduziu as metas atuariais de seus dois planos: no Celgprev, de Contribuição Variável (CV), a queda caiu de 5,63% para 5,45%, enquanto no Eletra 1, de Benefício Definido (BD), caiu de 5,65% para 5,55%.
O diretor administrativo e financeiro da Eletra, Wisley Pimenta, ressalta que as mudanças que ocorreram na massa de participantes em função do processo de privatização, além do desempenho positivo dos investimentos no ano passado, foram fatores que contribuíram para que o fundo de pensão tivesse condições de reduzir as metas.
Segundo Pimenta, o processo de privatização da Celg D gerou um grande volume de demissões e aposentadorias, com cerca de 800 dos dois mil empregados deixando a empresa ao longo do ano passado. Essas saídas resultaram em saques no fundo de pensão, que se concentraram no plano CV e somaram aproximadamente R$ 150 milhões.
“Com as saídas dos empregados tivemos saques e uma redução dos ativos, mas ao mesmo tempo também uma queda do passivo. E quanto menor o passivo mais fácil é de fazer mudanças na taxa de retorno que temos de buscar”
Além disso, o diretor pontua que a gordura obtida em 2017 por conta do retorno positivo dos investimentos, que gerou um incremento dos ativos, deu um fôlego adicional para realizar o corte sem afetar os participantes. No ano passado o plano BD da Eletra teve rendimento de 10,46%, ante uma meta de 7,83%, enquanto o CD registrou ganhos de 10,30%, frente a um atuarial de 7,81%.
“Caso os investimentos, que estão indo muito bem neste início de ano, prossigam dessa forma até dezembro, a tendência é que a Eletra reduza novamente suas metas em 2019, já que mesmo com a redução que fizemos elas seguem um pouco acima da média que observamos no setor”.