A área de saúde da Fundação Cesp e a FioSaúde, serviço de assistência médica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), começam adotar o conceito de médico de família junto aos seus participantes. O conceito, já utilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde a sua estruturação, no fim dos anos 1980, consiste no encaminhamento dos casos a um clínico geral, que faz o diagnóstico e recomenda o tratamento ou, em quadros mais complexos, encaminha os pacientes a médicos especialistas. Pesquisas indicam que entre 80% e 85% dos casos são diagnosticados e resolvidos pelo próprio clínico geral, economizando tempo, exames clínicos e consultas a especialistas.
A Fiocruz prepara o lançamento, para dezembro, do seu Plano Mais Saúde, utilizando serviços da consultoria Sixty Labs, que além de elaborar o projeto também irá operar uma clínica médica a ser instalada na sede da Fiocruz, a Clínica Doc. A unidade contará com equipes formadas por um médico de família, duas enfermeiras e um time de apoio com fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. Segundo o diretor executivo da FioSaúde, José Antonio Diniz de Oliveira, o novo sistema deve reduzir os custos da área médica da fundação entre 40% e 45%.
Criada em 1991, Fiosaúde atende a 15 mil vidas.”Modelos alicerçados na atenção básica são a única forma de garantir atendimento de qualidade a custos compatíveis. A busca de uma maior eficiência, que privilegie a prevenção em detrimento de exames e consultas sem critérios após o surgimento de problemas de saúde, é uma questão de sobrevivência para os planos abertos e de autogestão, que enfrentam um crescimento de gastos em escala muito superior aos índices convencionais de inflação”, comenta Oliveira.
De acordo com ele, cada participante do Mais Saúde será acompanhado por um médico de família e só poderá recorrer a especialistas por recomendação dele. “Se, no entanto, ele decidir, por conta própria, procurar um expert que não atue em nossa policlínica, terá de arcar com uma coparticipação de 30%”, explica.
Em teste – Outra fundação que se prepara para implantar a partir de abril de 2019 um projeto baseado no conceito do médico de família é a Funcesp. Durante um período de seis a oito meses a fundação, que atende a 80 mil vidas, vai avaliar os serviços prestados por uma equipe de dez a 12 médicos de família a um grupo de 800 beneficiários da Grande São Paulo, em sua maioria na faixa de 35 a 40 anos. “Os participantes do ensaio também contarão com uma equipe de especialistas à qual poderão recorrer sem custos adicionais. Eles só terão de pagar coparticipações se buscarem outros profissionais da rede que não estejam inseridos na iniciativa”, informa o médico sanitarista Carlos Eduardo Soares, titular da gerência de saúde da Fundação.
A meta da Funcesp, após a análise das despesas e padrões de atendimento da operação-piloto, é lançar uma nova família de planos calcada na atenção primária da saúde e realizar ajustes com base nesse conceito para seus demais produtos. As novidades em análise incluem planos regionais, voltados para localidades do interior paulista, cujos custos, espera-se, serão menores que os de São Paulo, de longe os maiores do país.
O tema dos médicos de família vem ganhando atenção crescente da União Nacional das Instituições de Autogestão de Saúde (Unidas), que reúne as 35 gestoras de planos ligadas a fundos de pensão. Na avaliação de Rogério Carlos Lamim Braz, superintendente da Fundação Eletros e coordenador de núcleo voltado ao tema na Unidas, “por conta desse desafio de custos, algumas entidades vêm buscando outras vertentes da atenção primária. O monitoramento de pacientes com doenças crônicas é uma opção que está em alta”.
Diabetes – Uma das ações mais bem-sucedidas do gênero é o Programa de Controle do Diabetes, o CuiDar, da Fundação Copel. Lançado em junho de 2017, o projeto, inspirado no modelo criado em 1935 pelos Alcoólicos Anônimos, contabiliza 23 grupos em 18 cidades do Paraná. Os cerca de mil participantes, se reúnem mensalmente sob a supervisão das patrocinadoras e contam com o apoio de uma equipe formada por nutricionista, psicólogo, professor de educação física e enfermeiro. Além disso, os beneficiários recebem um glicosímetro, fitas reagentes e guias para realização de exames de creatinina e hemoglobina glicada. “É tudo absolutamente gratuito, desde que eles cumpram o compromisso assumido de participar das reuniões do programa”, informa a diretora administrativa e de seguridade Cláudia Cardoso de Lima.
Os resultados são encorajadores: exames realizados em 104 participantes dos grupos do CuiDar de Cascavel, Maringá e Ponta Grossa apresentaram, em um intervalo de seis meses, reduções de 7,8%, 8,2% e 2,0% nos teores de hemoglobina glicada, indicando quedas na concentração de glicose no sangue nos três meses anteriores às análises.